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Dia da Mulher – Salário desigual vai dar autuação

Empregadores que pagarem salários diferenciados a uma mulher que tem o mesmo tem­po de casa, a mesma função e com escolaridade semelhante a um funcionário homem será multado em dez vezes o valor do maior salário pago na empresa. É o que consta no projeto de lei sobre igualdade salarial assinado nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e enviado para análise do Congresso Nacional.

O texto prevê a obrigação das empresas que têm mais de 20 empregados darem transpa­rência às faixas salariais para dar capacidade de fiscalização ao Ministério do Trabalho. A pas­ta também deverá elaborar um protocolo de fiscalização para esses casos. A ministra do Pla­nejamento e Orçamento, Simo­ne Tebet, participou do evento.

Ela explicou que, “nos casos gritantes de discriminação”, um juiz competente poderá, em ca­ráter liminar, determinar que a mulher receba o mesmo salário que o homem já no mês da de­núncia de desigualdade. Sobre a possibilidade dessas medidas resultarem na redução de con­tratação de mulheres, Tebet afirmou que esse é um discurso misógino (de ódio ou aversão às mulheres) por parte de seto­res produtivos.

“Se algum empregador esti­ver discriminando uma mulher, se isso for fator para que ele não contrate uma mulher, não vai faltar empresas sérias, responsá­veis e compromissadas para isso”, disse. “Nós somos imprescin­díveis no mercado de trabalho, não só no setor de cuidado, não só como enfermeiras, como pro­fessoras ou ramo da confecção, hoje somos imprescindíveis no mercado de trabalho porque se não contratarem mulheres vão ter dificuldade na sua produção”, disse Tebet.

Debate
Tebet ressaltou que a me­dida ainda será debatida pelos parlamentares, mas lembrou que texto semelhante já foi aprovado. Em 2021, na gestão de Jair Bolsonaro, o Palácio do Planalto chegou a devolver ao Congresso Nacional um proje­to de lei, que estava pronto para sanção, e aumentava a multa no valor correspondente a cinco vezes a diferença salarial paga pelo empregador. O projeto, desde então, está parado na Câ­mara dos Deputados.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao aceitar que a mu­lher ganhe menos que o homem no exercício da mesma função, se perpetua uma violência histórica contra as mulheres. “É impor­tante lembrar que nesse projeto de lei tem uma palavra que faz a diferença de tudo que já foi escri­to sobre trabalho igual entre ho­mens e mulheres”, disse.

Palavra mágica
“E essa mágica palavra é ‘obri­gatoriedade’ de pagar o salário igual. Vai ter muita gente que não vai querer pagar, mas para isso a Justiça tem que funcionar para obrigar o empresário que não pagar, pagar aquilo que a mulher merece pela sua capacidade de trabalho”, emendou.

A diferença de remuneração entre homens e mulheres, que vinha em tendência de queda até 2020, voltou a subir no país e atingiu 22% no fim de 2022, segundo dados do Instituto Bra­sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem.

Durante seu discurso, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, citou estudo da Or­ganização Internacional do Tra­balho (OIT), que aponta que a igualdade salarial entre homens e mulheres pode acrescentar 0,2% à taxa de crescimento do Produ­to Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) de um país.

“Estamos trabalhando inten­samente para que isso se concre­tize”, disse, destacando que a desi­gualdade salarial no Brasil chega a 30%, mesmo as mulheres tendo maior nível educacional. Na ce­lebração no Palácio do Planalto, o presidente Lula anunciou uma série de ações do governo fede­ral que incidem diretamente no combate à violência e na garantia de direitos das mulheres. Para ele, o respeito às mulheres é um valor inegociável.

Misoginia
Ao citar o conjunto de medi­das anunciadas, a ministra Cida Gonçalves propôs um pacto so­cial para enfrentamento à miso­ginia e à violência contra mulher. Já é de conhecimento público a existência de grupos masculinis­tas que propagam misoginia e ameaçam mulheres na internet. Um deles, o movimento RedPill, usa o suposto discurso de auto­ajuda nos relacionamentos para propagar machismo e misoginia.

Nesse contexto de combate à violência, a ministra anunciou a recriação do programa Mu­lher Viver sem Violência, com a implantação de 40 unidades da Casa da Mulher Brasileira, com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública e investimen­to de R$ 372 milhões. O progra­ma prevê ainda a doação de 270 viaturas para a Patrulha Maria da Penha, em todos os estados.

O Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher, também está sendo reconstruído. Na ges­tão anterior, houve a integração desse sistema com o Disque 100 e a Ouvidoria Nacional de Direi­tos Humanos. Nesse telefone, é possível registrar denúncias con­tra qualquer tipo de violência de gênero, com ligação gratuita de qualquer lugar do país.

Dignidade menstrual
O serviço funciona 24 ho­ras por dia. Lula ainda assinou decreto que trata da dignidade menstrual, com o compromisso de distribuição gratuita de ab­sorventes no Sistema Único de Saúde (SUS). Adicionalmente, será lançado um programa de equidade de gênero e raça entre os servidores do SUS. Cerca de oito milhões de pessoas serão beneficiadas pela iniciativa que prevê investimento de R$ 418 milhões por ano.

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