A indústria é conhecida como um setor majoritariamente masculino. Apesar dos avanços no que tange a desigualdade entre homens e mulheres, um cenário de total igualdade ainda parece distante. Isso porque, como mostra um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em março deste ano, mulheres ainda são a minoria absoluta nos postos de trabalho industriais e possuem menor salário médio.
Salário médio
As trabalhadoras da indústria de São Paulo recebem em média R$ 3.294,75 por mês, valor 14,7% menor que a média dos homens do setor (R$ 3.863,68 por mês). Esta diferença reduz gradativamente desde o início da série em 2006, quando a diferença salarial era de 30,5%. Neste ritmo, a uma média de 1,0 ponto percentual ao ano, a paridade salarial no setor irá ocorrer apenas em meados da próxima década, no ano de 2035.
O setor em que as mulheres têm o maior salário é a Indústria Extrativa com média mensal de R$ 7.165,38, 27,0%, maior que o recebido pelos homens, que representam 88% do setor. Em contrapartida, na indústria de transformação elas recebem 22,7% a menos do que eles (R$ 3.272,7 e R$ 4.235,96 respectivamente).
Representação
De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, as mulheres com carteira assinada somam 736.473 de um total de 3.056.837 trabalhadores na indústria de São Paulo. No levantamento da Fiesp, este número indica que apenas 24% da mão de obra formal total é composta por mulheres.
Esta participação percentual, apesar de superior ao mesmo indicador de uma década atrás (23,5% em 2011), não é a maior, já que o pico ocorreu no ano de 2017 quando as mulheres representavam 24,6% do total de empregos formais no setor industrial paulista.
Na análise dos dados da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), as mulheres são a maioria em apenas dois setores: confecção de artigos do vestuário e acessórios (72,7%) e fabricação de produtos do fumo (51%).
Já os setores com menor participação feminina são obras de infraestrutura (8,8%), extração de minerais não-metálicos (9,9%) e serviços especializados para construção (9,5%). Em total absoluto, as principais ocupações do público feminino na indústria paulista é alimentadora de linha de produção (97.346), assistente administrativa (44.982), auxiliar de escritório (43.635) e faxineira (25.128).
Escolaridade
Quanto à escolaridade das trabalhadoras da indústria paulista, a sua maioria (56,6%) tem o ensino médio completo, seguido pelo ensino superior completo (21,4%). Quando se analisa a participação no total de trabalhadores por escolaridade, em nenhuma as mulheres são maioria. A participação maior consta na faixa daqueles com doutorado: 58,6% de homens e 41,4% de mulheres.
Para Marta Livia Suplicy, presidente do Conselho Superior Feminino (Confem) da Fiesp, criado em 2021, para mudar essa realidade é preciso agir com urgência para remover barreiras, que hoje impedem uma maior participação da força de trabalho feminina. Núcleos do conselho atuam em cidades do interior do estado, com o objetivo de incluir mais mulheres na operação dos seus setores produtivos.
“Antes de tudo, é necessário desconstruir alguns preconceitos e mostrar o valor da diversidade, que está exatamente na diferença de pensamento, na pluralidade de ideias e opiniões vindas de pessoas com personalidades diferentes – a chamada diversidade cognitiva – que traz soluções diferentes para problemas comuns, além de inovação”, disse.
Com a criação do Confem, a Fiesp atua na sensibilização e na disseminação de conhecimento para o setor, realizando seminários, debates e palestras. Além disso, o Programa Elas na Indústria, lançado no ano passado, prepara por meio de capacitação e mentoria, mulheres para atuar em cargos de liderança, negócios próprios e na operação das indústrias.