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O Chile e sua literatura (9): Pablo de Rokha

De acordo com especialistas, Pablo de Rokha, autor de uma das produções poéticas mais contestadas e polêmicas surgidas na América Latina em meados do século XX, é pseudônimo do chileno Carlos Díaz Loyola, nascido em Licantén, região do Maule, em 17 de outubro de 1894. Seus primeiros anos foram na zona central do país, acompanhando seu pai, José Ignacio Díaz, em vários trabalhos esporádicos como administrador de fazendas ou chefe de alfândega e fronteiras andinas. Com uma juventude conturbada e rebelde, sempre em contradição com o conservadorismo cultural e político de sua região natal, Rokha sofreu a rejeição de seus educadores por ler e compartilhar com seus colegas livros considerados de autores blasfemos, como Rabelais e Voltaire. Expulso, foi a oportunidade do autor para emigrar para Santiago.

Estabelecido na capital, Rokha matriculou-se nos cursos de Direito e Engenharia da Universidade do Chile, mas logo desistiu por ser outra sua opção profissional. Durante esses anos, o autor fez amizade e se relacionou com outros intelectuais de vanguarda da época, como Pedro Sienna, Ángel Cruchaga Santa María e Vicente Huidobro, entre outros, descobrindo a filosofia de Nietzsche, a poesia de Walt Whitman e os poetas malditos. Trabalhando como jornalista nos jornais La razón e La mañana, Rokha publicou seus primeiros poemas na revista Ju­ventud. Em 1914, estando em Talca, recebeu a coletâ­nea de poemas “Lo que me dijo el silencio” (O que me disse o silêncio), assinada por Juana Inés de la Cruz, primeiro pseudônimo de Luisa Anabalón Sanderson, que, em 1916, viria a adotar o nome literário de Wi­nett de Rokha, logo mais vindo a ser sua esposa. Nesse mesmo ano, o poeta publicou seu primeiro conjunto de poemas, “Versos de infancia”, na antologia “Selva lírica”.

Segundo estudiosos, De Rokha articula sua obra em um contexto nacional e internacional conturbado, caracterizado pelo declínio da ordem oligárquica no Chile e pela consolidação do fascismo, do nazismo e do stalinismo na Europa como prelúdio da Segunda Guerra Mundial. Nessa mesma época, a participação das massas, impulsionada pelo avanço da industrialização e das democracias na América Latina, sofreu considerá­vel aumento. Por volta de 1930, Rokha, mostrando fervorosa defesa do marxismo-leninis­mo, filiou-se ao Partido Comunista e à Frente Popular em 1936. Nesse mesmo período, no Chile, importantes críticos contemporâneos do poeta, como Hernán Díaz Arrieta (Alone) e Raúl Silva Castro, menosprezaram sua obra, e a pesquisa crítica posterior sobre ela foi escassa. O crítico literário que mais trabalhou a poesia, o pensamento e a estética rokhiana é Naín Nómez, que propõe em “Pablo de Rokha: una escritura en movimiento” (1988), analisar sua produção em três etapas.

A primeira, que vai de 1916 a 1929, caracteriza-se, segundo a crítica, pela influência do romantismo e de uma perspectiva anarquista entrelaçada com elementos bíblicos e religiosos. Nesse período, De Rokha dirigiu a revista Numen, publicando suas obras “El foletín del Diablo” e “Los gemidos” (1922), que foi ignorado pelos críticos, mais entusias­mados com o modernismo predominante e o novo mundo. Desta época produtiva são também as obras “U” (1926); “Satanás, Suramérica y Heroísmo sin alegría” (1927) e “ Es­critura de Raimundo Contreras” (1929). Suas obras do período 1930-1950 são marcadas pelo ativismo político, por meio de textos que buscam uma dialética entre o individual e o social, como “Canto de trincheira” (1929-1933), “Imprecación a la bestia fascista” (1937), “Cinco cantos rojos” (1938), “Morfología del espanto” (1942), “Arenga sobre el arte” (1949) e “Carta magna de América” (1948), que inclui a “Epopeya de las bebidas y comidas de Chile”. Nesses anos, De Rokha fun­dou sua própria revista, “Multitud: revista del pueblo y la alta cultura” (1939), mais tarde também se tornou uma editora.

Nas duas últimas décadas, o otimismo revolucionário, o protesto social e o amor dilacerado pela morte de Winétt de Rokha, que acusa o golpe no livro “Fuego negro” (1953), se entrelaçam na escrita rokhiana. Sua rivalidade histórica com Pablo Neruda se agudizou com a publicação de “Neruda y yo” (1955), ensaio em que De Rokha descreve o desafeto como um “artista burguês”, acusando-o de plágio. A polêmica con­tinuou então com a publicação de Genio del pueblo (1960), livro em que dialogam 111 personagens da cultura letrada e popular, entre os quais Neruda aparece sob o nome de Casiano Basualto. Em 1961, Rokha publicou “Acero de invierno”, livro no qual aparece seu poema “Canto del macho ancia­no”, e, em 1967, aquele que seria seu último livro, “Mundo a mundo”. Um ano depois, em 10 de setembro e aos 73 anos, o poeta tirou a própria vida. Após sua morte, foi publicado “Mis grandes poemas: antología que amplía la primera recopilación poética del autor, Pablo de Rokha”.

Pablo de Rokha recebeu o Prêmio Nacional de Literatura em 1965 por uma obra sempre fiel a uma visão de mundo disruptiva e receptiva aos elementos da modernidade, mas profundamente enraizada no que é chileno.

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