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Cultura

50 anos de ‘The Dark Side of the Moon’: Waters lança versão de ‘Us and Them’

Por Julio Maria

Mesmo afastado dos outros integrantes do Pink Floyd, com opiniões cada vez mais divergentes do ex-parceiro David Gilmour com relação à guerra na Ucrânia, por exemplo, Roger Waters ressurgiu nesta sexta, 3, com uma regravação de um dos maiores petardos do grupo. Us and Them, lançada no álbum The Dark Side of the Moon, que fez 50 anos nesta semana, teve sua letra reescrita por Waters. Ele divulgou um vídeo ouvindo a nova canção diante de uma mesa de som e justificou o ato da recriação, segundo ele, feito para “reabordar a mensagem política e emocional de todo o álbum.” Uma nova versão do álbum The Dark Side Of The Moon vem sendo preparada por Waters para sair em maio. O álbum original, de 1973, esteve por impressionantes 555 semanas nas paradas de mais tocadas e se tornou o quarto mais vendido da história, atrás de Thriller, de Michael Jackson; Back in Black, do AC/DC; e da trilha sonora de O Guarda Costas.

A mensagem de Waters na íntegra, colocada logo abaixo no vídeo de Us and Them, é a seguinte: “Estamos agora no processo de finalização da mixagem final. Ficou realmente ótima e estou animado para que todos possam ouvi-la. (A nova gravação) Não substitui a original que, obviamente, é insubstituível. Mas é uma maneira de o homem de 79 anos olhar para os 50 anos que se passaram nos olhos do homem de 29 anos e dizer, citando um poema meu sobre meu pai: ‘Fizemos o nosso melhor, mantivemos sua confiança, nosso pai teria ficado orgulhoso de nós’. E também é uma maneira de homenagear uma gravação da qual Nick, Rick, Dave e eu temos todo o direito de nos orgulhar”, escreveu, citando os colegas de grupo.

Opiniões sobre a nova versão de Us and Them à parte, um fato notório é que Waters tem se afastado dos outros músicos egressos do Pink Floyd cada vez mais. Mês passado, a esposa de David Gilmour, Polly Samson, acusou Roger Waters de ser “antissemita até o âmago podre. Também um apologista de Putin e um mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, dublador, misógino, doente de inveja, megalomaníaco.” Para piorar, Gilmour assinou embaixo: “Cada palavra é comprovadamente verdadeira”.

Como resposta, o baixista Waters, autor de muitas das canções do grupo, disse que seus ex-companheiros “não sabem escrever músicas e não têm nada a dizer. Eles não são artistas! Eles não têm ideias, nem uma única entre eles. Nunca tiveram, e isso os deixa loucos.” E foi a vez de Nick Mason, o baterista que pouco se coloca na linha de frente durante as brigas. “Acho que o problema é que Roger realmente não respeita David. Ele sente que escrever é tudo, e que tocar violão e cantar são coisas que, não direi que qualquer um pode fazer, mas que tudo deve ser julgado pela escrita e não pela execução.”

Os ataques históricos de Roger Waters contra a política de Israel diante da Palestina – algo que já o fez pedir a Gilberto Gil que não se apresentasse no país judaico e lançar uma campanha de boicote cultural mundial contra Israel – tem gerado um efeito de ataques a si mesmo. Muitos acreditam ser Waters um homem anti semita, sobretudo depois que ele disse ser Israel “um projeto colonialista supremacista que opera um sistema de apartheid”. Mas o roqueiro refutou as alegações, e disse ao jornal Telegraph que “não há um único milissegundo de antissemitismo em qualquer lugar da minha vida”.

Contudo, a imagem de ser contra judeus começa a criar problemas em sua agenda. Autoridades de Frankfurt, na Alemanha, cancelaram nesta semana um show que Waters faria na cidade, justificando assim a decisão: “persistentes comportamentos anti-Israel do ex-líder do Pink Floyd, considerado um dos antissemitas mais conhecidos do mundo”.

A guerra na Ucrânia é outro ponto que tem se tornado delicado em suas colocações. Ao se juntarem em abril do ano passado para fazerem uma canção, a primeira em 28 anos, Gilmour e Manson disseram ao The Guardian que a invasão russa se tratava de um “ataque extraordinariamente louco e injusto de uma grande potência contra uma nação independente, pacífica e democrática”. Uma posição que vai se distanciando daquela adotada por Waters no início da invasão russa.

Lá atrás, quando a guerra começou, Waters condenou a atitude russa e chamou Putin de “gângster”. Mas, cada vez mais, deixa claro sua mudança de opinião. Para ele, a Ucrânia tem “nazistas no controle do governo”. Ao Telegraph, ele ampliou seu ponto de vista dizendo que a Ucrânia “não é realmente um país… seria mais um tipo irregular de experimento vago”. E condenou os países que oferecem armas à nação invadida. “A razão mais importante para fornecer armas à Ucrânia é certamente o lucro para a indústria de armas… se os EUA puderem convencer seus próprios cidadãos, e você e muitas outras pessoas, de que a Rússia é o verdadeiro inimigo, e que Putin é o novo Hitler, eles terão mais facilidade em roubar dos pobres para dar aos ricos e também começar a promover mais guerras, como esta guerra por procuração na Ucrânia”.

Convidado pela Rússia para falar em uma reunião do conselho de segurança da ONU, em fevereiro passado, Waters atacou os dois lados ao dizer que “a invasão da Ucrânia pela Rússia foi ilegal. Eu condeno isso nos termos mais fortes possíveis. Além disso, a invasão russa da Ucrânia não foi sem provocação, então também condeno os provocadores nos termos mais fortes possíveis”.

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