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A difícil integração da América do Sul

O novo governo brasileiro alardeia direcionar o foco de sua política externa para a integração com os países nossos vizinhos e próximos, numa tentativa de criar uma comuni­dade sul-americana, que, estimulando o nosso rico passado, nos prepare para um futuro único e coeso. Tarefa de gigantes, pois nossas realidades como países são bastante diversas.

A descoberta no Novo Mundo, no final do século XV, realizada pelos navegantes portugueses e espanhóis, permitiu não só o enriquecimento europeu, como a criação de nova mentalidade, dando grande sustentação ao Iluminismo e ao afastamento da Igreja como centro de tudo.

Paradoxalmente, as novidades do conhecimento humano ficaram muito pre­judicadas justamente em Portugal e Espanha, onde a Monar­quia absoluta e a Inquisição marcaram episódio sangrento em sua História, atrasando o desenvolvimento dos iberos.

O ouro e a prata trazidos das colônias americanas foram usados para construção de palácios, igrejas e conventos e não investidos no desenvolvimento do povo. Pressionada por uma Igreja retrógrada, por uma monarquia que se preocupava so­mente consigo mesma, a Península Ibérica não acompanhou o desenvolvimento europeu e entrou em rápida decadência.

Sua política para a América do Sul foi a de manter as colônias ignorantes e totalmente dependentes da sede dos reinos, retirando daqui a maior quantidade possível de rique­zas, oferecendo pouquíssimo em troca. Como consequência, as colônias eram tratadas como vacas leiteiras, alimentadas somente com o indispensável para a sobrevivência.

Foi neste contexto que a região foi vivendo até a indepen­dência, conquistada quando os dois países ibéricos tinham somente parcos recursos para sustentar uma guerra de retomada. Ao contrário do Brasil, que manteve seu território íntegro, a América espanhola se dividiu um várias nações, desenvolvendo culturas próprias, embora com língua comum.

O resultado disso traduz-se num profundo desconhecimento da realidade dos países, sua cultura, seus costumes, sua literatura. Mesmo a língua espanhola, que deveria ser ensinada nas escolas brasileiras e a portuguesa nos demais países sul-americanos, constitui hoje uma barreira difícil de ser vencida.

Os latino-americanos hispânicos têm dificuldade em enten­der o português, embora nosso entendimento da fala deles seja mais fácil. Isto ocorre por um fenômeno de formação das línguas latinas: o latim clássico tornou-se o italiano, depois o francês, a seguir o espanhol e finalmente o português, num movimento de círculos emanados de Roma. Quem está no final dos círculos (os que falam português) têm mais facilidade de entender as línguas que antecederam estes círculos, enquanto o movimento con­trário dificulta esta compreensão. Assim, é mais fácil para nós entender o italiano do que eles o português.

A América do Sul tem pouca importância geopolítica, é uma região que nunca se desenvolveu plenamente, tem no Brasil a sua maior expressão e países que conhecemos muito pouco, assim como os demais países mal nos conhecem. O Mercosul foi concebido há mais de 30 anos, mas, até agora não mostrou viabilidade real.

Apesar destes obstáculos, a união dos países sul-america­nos deve ser perseguida por todos nós. Afinal, compartilha­mos um povo valoroso, riquezas imensas, reservas aquíferas, a floresta amazônica e o potencial de gerar energia limpa, além de grande extensão de terras cultiváveis. Precisamos apoiar a inciativa brasileira, independentemente de nossas convicções partidárias.

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