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Inteligência e seus descontentes (22): Testes de admissão às universidades

Testes de admissão às universidades, principalmente às públicas, são cer­tamente aqueles mais analisados e os mais frequentemente usados no mundo. Como consequência, muitas pessoas têm uma opinião sobre os exames da FUVEST, VUNESP, ENEM e outros, usualmente utilizados para admissão nas mais conhecidas universidades públicas do país. Estas opiniões são baseadas em experiências pessoais, nos comentários provenientes da mídia falada e escrita, dos fatos sobre os exames, testes e sobre algumas ideias populares incorretas. Até onde conheço, o público em geral valoriza, de alguma forma, os testes padronizados, incluindo os exames vestibulares, embora haja sempre vozes minoritárias que fazem muito barulho acerca da validade e fidedignidade (confia­bilidade) dos mesmos.

Um dos grandes problemas que se observa nos exames de admissão são as diferenças nos escores médios que ocorrem entre diferentes grupos socioeco­nômicos, com os estudantes de famílias mais afluentes, ricas, oriundos de escolas privadas, tendo escores médios mais elevados do que os escores de estudantes de classe média ou de escolas menos favorecidas, usualmente as escolas públicas, muito desiguais entre si e muitas com recursos físicos e humanos limitados. Na mesma direção, os escores médios dos estudantes da classe média têm escores mais elevados do que daqueles das famílias mais pobres.

Devido a essas diferenças, podemos chamar de grande desigualdade social e econômica o uso dos testes de admissão escolásticos para determinar quem será admitido à universidade, que tornam difícil produzir um conjunto de estudantes admitidos, ou aprovados, cuja demografia reflita a demografia da população geral dos examinados, ou candidatos. Se o mesmo escore mínimo requerido é aplicado a todos os candidatos, então os membros dos grupos com pontuação mais elevada serão admitidos às universidades em proporções mais elevadas.

A única maneira de obter taxas de admissões proporcionais são: (a) diminuir o escore mínimo para admissão dos grupos com pontuações menores e∕ou (b) elevar o escore mínimo necessário para admissão para os grupos com escores mais elevados. Devido à grande oposição para diferenciar os escores mínimos, essas técnicas são, algumas vezes, difíceis de serem implementadas totalmen­te, mesmo quando os dirigentes universitários têm uma forte intenção de obter um corpo discente com grande diversidade. Por consequência, muitas pessoas compreensivelmente veem que os variados exames seletivos (FUVEST, ENEM, VUNESP, entre outros) como um impedimento da equidade porque os mesmos encorajam as universidades a admitirem estudantes de ambientes, ou famílias, mas privilegiadas. Parece então que vivenciamos uma tirania da meritocracia ou que nos envolvemos numa cilada da meritocracia. Seleção nos parece inevitável.

O certo é que eliminar os exames de admissão não farão as desigualdades na preparação acadêmica desaparecer, nem irão resolver o problema de seleção que muitas universidades têm onde o número de candidatos excede o número de estu­dantes que elas podem admitir. Os testes de admissão não são perfeitos, sabemos certamente disso, mas eles são ao menos a opção menos desfavorável disponível para o setor de admissão acadêmica. Outros procedimentos seletivos são difíceis de serem manipulados, são difíceis de eliminar os vieses que inerentemente contêm, são difíceis de serem melhorados com programas educacionais custosos e longos e, em geral, têm uma correlação muito fraca com a renda familiar.

Finalmente, é importante lembrar que os exames, ou testes, de admissão não criam desigualdades na sociedade. Ao contrário, tais testes meramente medem as desigualdades já existentes. Os testes não fazem os estudantes mais ricos mais preparados para os exames seletivos do que para os estudantes mais pobres. Na verdade, tais diferenças são o resultado de anos de expe­riência acadêmica prévia. Se tais diferenças e desigualdades trazem desconforto para muitas pessoas, elas devem advogar para mudanças na sociedade e no siste­ma educacional e não buscarem abolir os testes. Não devem matar o mensageiro.

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