Tribuna Ribeirão
Geral

Homem é maior ameaça a onças

Bruno Bocchini
Agência Brasil

Estudo publicado na Revis­ta Nature, na quarta-feira, 15 de fevereiro, mostra que as áreas protegidas na Amazônia brasi­leira com as maiores densidades populacionais de onças-pinta­das estão nos locais mais pres­sionados pela degradação de habitat causada pelo homem. De acordo com a pesquisa, des­matamento, expansão agrícola, incluindo pastagens para gado e terras agrícolas, e incêndios florestais são predominantes nas áreas que abrigam as maio­res populações do felino.

O estudo foi feito pela or­ganização não governamental WWF, pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), e por pesquisadores parceiros. Assinam a pesquisa os autores Juliano Bogoni, Valeria Boron, Carlos Peres, Maria Eduarda Coelho, Ronaldo Morato, e Marcelo Oliveira da Costa.

Entre os espaços ameaça­dos, o estudo identificou dez áreas protegidas que deman­dam ações emergenciais para a conservação da onça-pinta­da amazônica: as terras indí­genas Apyterewa, Araribóia, Cachoeira Seca, Kayapó, Ma­rãiwatsédé, Parque do Xingu, Uru-Eu-Wau-Wau, Yanoma­mi, a Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Na­cional Mapinguari.

“As fronteiras agrícolas es­tão chegando mais próximas. Então, a onça sai para atacar mais lugares. Além disso, tem mais caçadores dentro dessas áreas. Tem garimpeiro dentro da terra yanomami, e esses caras caçam, e caçam a presa da onça. Eles também fazem armadilhas e matam as onças”, destaca o coautor do estudo, especialista em conservação e líder do programa de prote­ção de espécies ameaçadas do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira.

A pesquisa analisou 447 terras protegidas da Amazônia brasileira, incluindo 330 reser­vas indígenas. As áreas analisa­das correspondem a 1.755.637 km², o que representa 41,7% da Amazônia brasileira, e abri­gam cerca de 26,68 mil onças­-pintadas, de acordo com os modelos aplicados no estudo.

Proteção
O pesquisador Marcelo Oliveira ressalta que o levan­tamento reforça o papel das terras indígenas como santu­ários para as onças-pintadas e a biodiversidade. “O futuro das onças-pintadas, mesmo nas regiões neotropicais mais intactas, como a Amazônia, só é seguro em áreas prote­gidas onde as restrições de uso do solo podem ser rigo­rosamente aplicadas e só se for possível resistir à pressão política incessante para redu­zir o tamanho, recategorizar e extinguir as áreas protegi­das. Estes espaços são centrais para a salvaguarda da biodi­versidade, mas estão sob múl­tiplas pressões geopolíticas”.

Entre as ações emergen­ciais sugeridas pelos pes­quisadores estão o aumento do financiamento e apoio às áreas protegidas e terras indígenas, especialmente as priorizadas pelo estudo, re­forçando a participação dos povos indígenas e comuni­dades locais nas decisões e gestão dos seus territórios.

Os pesquisadores propõem ainda elevação dos recursos para as agências ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Fundação Nacional dos Po­vos Indígenas (Funai), e a im­plementação de políticas e ar­cabouços legais fortes que não deixem espaço para a redução, recategorização e extinção das áreas protegidas.

“Precisamos fortalecer a gestão dessas áreas. Nos úl­timos quatro anos, foi extre­mamente difícil com o en­fraquecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e outros órgãos que promovem a fiscalização”, dis­se Oliveira. O estudo pode ser lido na íntegra no site da revis­ta (www.nature.com).

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