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Uber: a regulação do trabalho é o mínimo

A importância dos aplicativos de transporte individual privado de passageiros – como a Uber – não elimina a neces­sidade urgente de o Governo Lula instituir uma regulação do trabalho para aplicativos. O respeito ao direito mínimo dos trabalhadores de aplicativos é que se espera de um país civili­zado, democrático e justo.

A Uber precisa aprender a sentar para conversar e a res­peitar os nossos trabalhadores e a legislação do país. Não adianta ameaçar. A ideia de que a regulação do trabalho e o respeito aos trabalhadores de aplicativos faria com que a Uber saísse do Brasil é uma ideia absurda. Em nenhum grande país, onde a legislação foi alterada, a Uber resolveu sair. Nosso país é uma mina de ouro para a empresa e a Uber não sairia do Brasil por nada. E, se saísse, o próprio Estado tem tecnologia de ponta muito superior à da Uber para dar sequência ao serviço, respeitando os direitos bási­cos dos nossos trabalhadores.

A verdade é que já há algum tempo, o jornal britânico The Guardian publicou uma série de reportagens chamada “Uber Files” (ou “Arquivos da Uber”), em parceria com um consór­cio internacional de jornalistas investigativos, que revelou mais de 124 mil documentos expondo algumas práticas etica­mente questionáveis, que foram o pilar da transformação da Uber em empresa que revolucionou os aplicativos de trans­porte no mundo. Esse tempo acabou para a Uber. Sobretudo no Brasil, com a mudança de ares e de governo, o tempo da exploração descontrolada e desenfreada de trabalhadores de aplicativos precisa chegar ao fim.

O vazamento publicado pelo The Guardian abrangia um período de cinco anos (entre 2013 e 2017), no qual a empresa Uber era administrada por um dos seus fundadores. Na­quela época, para se impor no mercado, a Uber realizou um fortíssimo lobby sobre governos municipais e até governos nacionais de diversos países, visando que seu serviço tivesse vantagens legais com relação aos táxis comuns, além de uma maior flexibilização das leis trabalhistas específicas para pres­tadores de serviços oferecidos por aplicativos, e uma maior facilidade para enviar os lucros a paraísos fiscais.

Na mesma época, a Justiça da Califórnia concedeu uma decisão exigindo que a Uber classificasse seus motoristas como empregados, em vez de contratados independentes – o que significaria que a empresa teria que oferecer benefícios trabalhistas adicionais.

Na decisão, o juiz de São Francisco acusou as empresas de uma “recusa prolongada e descarada de cumprir as leis da Cali­fórnia”, dizendo que “já era hora de enfrentarem suas responsabi­lidades para com seus trabalhadores e para com o público”.

Recentemente, em encontro que participei em Brasília, com o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e com o Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, junto com lideranças sindicais para tratar sobre vários temas trabalhis­tas, tratamos da urgência da regulamentação de atividades trabalhistas via aplicativos.

Enquanto presidente do Sindicato dos Servidores Muni­cipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis e membro da direção da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), em nome dos meus companheiros e compa­nheiras de diretoria, me solidarizo com a luta dos trabalha­dores da Uber e demais aplicativos por melhores condições de trabalho e renda, e pela criação de um fundo social para a proteção destes trabalhadores.

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