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Inteligência e seus descontentes (21): Variáveis não-cognitivas

Embora inteligência seja um determinante importante no nível acadêmico de um estu­dante, ninguém afirma que a mesma é o único traço que impacta dos desfechos escolásticos. A correlação entre QI e as medidas de sucesso acadêmico, tais como notas escolares, escores de testes padronizados ou anos de escolaridade, não é perfeita. O que isto indica? Indica que há abertura para que outras habilidades exerçam influência no desempenho educa­cional. Como alguns estudiosos afirmam, os efeitos da inteligência são probabilísticos, não determinísticos. Ou seja, que inteligência elevada aumenta a chance de sucesso na escola e no trabalho. Ela é uma vantagem, não uma garantia. Muitas outras coisas importam. Dentre elas, os traços psicológicos, como motiva­ção, criatividade, resiliência, curiosidade, iniciativa e ambição, que ajudam o sucesso na escola. Outras variáveis não psicoló­gicas, tais como, o nível socioeconômico, o envolvimento parental na educação, a cultura de encorajamento de competições acadêmicas e boa saúde física podem, também, impactar o sucesso estudantil.

Entretanto, o argumento entre os estudiosos não é se as variáveis não-cognitivas podem resultar em desempenho escolar mais elevado. Ao contrário, o argumento é sobre a magnitude da influência que tais variáveis não­-cognitivas têm e se as mesmas são mais importantes do que inteligência na determinação do sucesso educacional. Atualmente, os estudiosos discutem quatro variáveis que apresentam mais forte influência no desempenho escolar do que a inteligência, a saber: traços de per­sonalidade, motivação, uma mentalidade de crescimento (estilo de pensamento positivo) e perseverança (resiliência, persistência). Em relação aos traços de personalidade, vários estudos têm buscado analisar as associações entre cinco grandes fatores de personalidade (neuroti­cismo, introversão-extroversão, abertura para experiência, amabilidade e conscienciosidade). Nesse contexto, pesquisas revelam, ainda que não perfeitamente consistentes, que alguns desses traços correlacionam-se com o desfecho educacional, sendo que conscienciosidade apresenta a correlação mais elevada, variando de 0,20 a 0,35.

Por sua vez, motivação parece ser uma das influências não-cognitivas mais importantes no desempenho escolar. Pessoas altamente motivadas estabelecem altos objetivos e alcançam mais reali­zações. Quando relacionada à inteligência, supõe-se que estudantes altamente motivados obtêm escores de QI mais altos porque permanecem nas escolas por mais tempo. Não obstante, quando controlando a variável inteligência, essa relação entre motivação e desempenho escolar desaparece. Considerando, variadas análises, dados indicam que nenhuma quantidade de motivação pode compensar um grande déficit de QI. Nessa mesma discussão, autoeficácia é outra importante variável não-cognitiva que tem impacto nos desfechos educacionais. Auto- eficácia é crença que uma pessoa é capaz de realizar uma tarefa com sucesso, ou seja, é uma avaliação positiva das próprias atitudes e habilidades desenvolvidas e, num contexto, na realização de uma tarefa. Assim considerando, as medidas de auto-eficácia correlacionam-se positivamente com os resultados educacionais e quando a auto-eficácia combina-se com os escores de testes acadêmicos, a mesma passa a constituir-se como um excelente preditor dos resultados escolásticos e nos desempenhos aca­dêmicos. Não obstante, mesmo onde a auto-eficácia é uma influência importante no sucesso acadêmico, ela é ainda ofuscada pela influência da inteligência.

Qual seria, então, a mais fascinante variável não-cognitiva em educação? Trata-se da mentalidade de crescimento, ou seja, de um estilo de pensamento crescente. Há dois tipos de estilos de pensamento: (a) mentalidade fixa e (b) mentalidade de crescimento. Alguns estudiosos têm suposto que as diferenças no desempenho acadêmico médio entre grupos de estudantes sejam causadas por alguns usarem mais frequentemente um dado estilo de pen­samento do que outro mais progressivo ou positivo. Todavia, inúmeros estudos indicam que qualquer impacto do tipo de mentalidade atuante é extremamente pequeno no mundo real e mesmo no mundo escolástico. Finalmente, a perseverança, ou seja, uma característica que envolve trabalhar vigorosamente para sobrepujar desafios, manter esforços e manter interesse constante e contínuo apesar de fracassos, adversidade e platôs no progresso. Dados, então, têm mostrado que estudantes mais perseverantes têm escores escolares mais elevados. Todavia, a alta correlação dos escores de perseverança com aqueles do traço de personalidade de conscienciosi­dade indica que tal constructo não parece ser independente e, na realidade, está mensurando uma variável manifesta muito similar à conscienciosidade.

O que é importante, entretanto, é o produto final da educação de um estudante. Para pro­fessores, pais e tantos outros educadores, o desafio é determinar como encorajar o educando para o trabalho duro e a dedicação intensa e contínua dos estudantes.

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