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O Brasil precisa de um novo contrato social! V

Após a tomada do poder, os golpistas passaram a governar através de Atos Institucionais, que tinham por objetivo legitimar as torturas e as arbitrariedades do regime. O primeiro Ato conferia aos militares o poder de suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos. O segundo Ato colocou os partidos políticos na ilega­lidade, e criou o bipartidarismo. O terceiro Ato tornou as eleições para governadores e prefeitos de capitais indiretas, para poder controlar qualquer dissidência.

O quarto Ato permitiu a reabertura do Congresso Nacional, em recesso desde o golpe, e assim permitiu que a Constituição Outorgada pelos milicos mantivessem o ar de legalidade, e assim se fez. No entanto havia um descontentamento crescente da população com o regime, as greves dos trabalhadores, e a revolta dos movimentos estudantis por liberdade, eram capitaneadas pelas letras das músicas populares nos festivais, e este fervilhar de democracia provocou a reação dos golpis­tas, e o quinto Ato instituiu a face mais sangrenta da nossa história, o fechamento do Congresso e de todos os legislativos pelo País, a suspensão dos habeas corpus, jogou os direitos humanos na lata do lixo, e o caráter dessa gente de “bem” ficou explícito.

A eficiente propaganda dos golpistas anestesiou a população bra­sileira, que via naqueles homens fardados, cheios de estrelas e me­dalhas os super-herois que iriam salvar o Brasil da suposta ameaça comunista, e a maioria embarcou nesta barca furada. Este é um país que vai pra frente, Brasil, ame-o ou deixo-o! Eram frases ditas e co­mentadas o tempo todo nos meios de comunicação, principalmente nas Rádios, e com isso qualquer cidadão que se opusesse ou fizesse críticas ao governo era mal visto pela própria população, e daí para cair nas garras da repressão, e sofrer todos os tipos de torturas nos porões da repressão era questão de tempo.

A milicada e seus asseclas usaram com eficiência o mito da merito­cracia, que o sucesso só dependia da sua força de vontade, e neste con­texto foi criada a figura do operário padrão, que era aquele operário for­jado na obediência e na disciplina incondicional, que aprendeu a fazer o que o “mestre mandar”, e o processo para eleger o operário “padrão” do ano, tornou-se uma festa nacional, onde o operário ungido pelo sistema recebia o prêmio das mãos do ditador revestido de presidente, situação que foi materializada nos versos do grande Gonzaguinha: “Receber um fuscão no juízo final, e o diploma de bem comportado, você merece…”.

A censura implacável aos meios de comunicação, e o sufocamen­to dos movimentos estudantis serviu de alicerce para transformar o processo educacional no Brasil, pois para os golpistas controlar o povo através da educação escolar é mais eficiente. Os currículos das universidades públicas e privadas foram adequados aos ideais dos golpistas, o controle dos estudantes era feito por milicos infiltrados, que se passavam por estudantes. Na educação básica, os currículos foram adaptados, para que desde a educação infantil, os alunos aprendessem a endeusar os ditadores, como heróis nacionais.

Criaram uma disciplina chamada: “educação moral e cívica”, cuja meta principal era esmiuçar os feitos da ditadura, e adestrar as crian­ças para que no futuro defendam com unhas e dentes este sistema. As avaliações que os alunos eram submetidos nesta disciplina passavam por saber todos os nomes dos ministros de Estado, e só aprender as “maravilhas” que a “revolução” estava fazendo para o povo brasileiro.

Os milicos mostraram a sua incompetência administrativa, pois após vinte e um anos no poder entregarem o País para os civis, com uma economia bagunçada, com uma inflação de trezentos por cento ao ano, mas para muita gente que passou pela vida e não viveu, e interiori­zou os ensinamentos da disciplina “Educação Moral e Cívica” estavam até pouco tempo acampados nas portas dos quartéis do Exército brasi­leiro pedindo a volta da ditadura militar. Um novo contrato social passa indubitavelmente por uma educação básica libertadora e cidadã!

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