As chances de uma pessoa ser atingida por um raio são raras, mas existem. O Brasil é o país recordista em número de raios – isso devido ao seu grande território em porção tropical. Um detalhe é que a maioria dos raios ocorre na altura das nuvens e não atinge o solo. São 77,8 milhões de descargas no solo a cada ano somente no Brasil.
De acordo com levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), cerca de 300 pessoas são atingidas por raios por ano no Brasil, sendo que 110 destas morrem (média entre os anos de 2000-2019).
Por ironia do destino, por conta da profissão, o engenheiro eletricista, Wiliam Penteado, foi um dos “sorteados” por um raio. Ele dirigia o carro pela Rodovia Anhanguera, vindo de São Paulo para Ribeirão Preto, no dia 28 de dezembro, para visitar a namorada, quando o fato aconteceu.
“Era por volta das 18h30 no km 245. Estava em velocidade reduzida e chegando perto de Santa Cruz, na faixa da esquerda. Chovia muito e estava com baixa visibilidade. Foi quando deu um estouro. Similar a uma explosão. Muito grande, junto a um clarão intenso bem em cima do capô do carro. Neste mesmo instante o carro desligou bruscamente e ficou entre a pista esquerda e o canteiro central, pois havia perdido o reflexo momentaneamente. Sem muito o que fazer, pois chovia muito e era perigoso descer do carro, com risco de ser eletrocutado devido à carga elétrica ainda presente nas partes metálicas do carro. Houve tentativa de pedir ajuda à concessionária da rodovia, porém os celulares estavam sem sinal, era eu e mais 4 pessoas. Cerca de 20 minutos depois um motorista de caminhão parou para ajudar e passou rádio para a base mais próxima da polícia. Pouco tempo depois fomos atendidos pela concessionária local (Autovias)”, conta Wiliam.
Ele ressalta que os ocupantes em geral estão bem. “Tiveram apenas dor de cabeça no dia e no dia seguinte, porém o carro foi bastante danificado, sendo removido para a base da Porto Seguro e depois para a concessionária da Honda no dia seguinte em Ribeirão Preto, com danos severos na parte elétrica e eletrônica”.
O engenheiro eletricista entende que por pouco não houve mortes no acidente. “A queda de raio geralmente causa incêndio e descargas elétricas severas. Um susto indescritível no momento, mas todos passam bem, tirando o prejuízo material, por isso é importante ter cuidado redobrado em dia com incidência de raios e fortes chuvas e jamais descer do carro após o ocorrido, principalmente em regiões com árvores e pedras, como o do ocorrido no acidente”, salienta.
Ele concorda que sua formação ajudou a evitar um desastre maior. “De certa forma sim, ajudou o fato de ter um conhecimento a mais, pois logo quando um carro é atingido por um raio, a carga elétrica presente nas partes metálicas dele, podem permanecer ainda durante alguns minutos, por isso, aconselha-se permanecer dentro do carro, porém se houver um princípio de incêndio e tiver que sair do carro, a dica seria, sair do carro sem encostar nas partes metálicas e se afastar o mais rápido possível”, finaliza.
Onde acontecem as principais fatalidades
As principais circunstâncias com as fatalidades por conta de raios estão ligadas ao agronegócio (26%) e estar dentro de casa próximo à rede elétrica ou hidráulica (21%). Também estão na lista atividades na água ou próximo a praias, rios ou piscinas (9%), embaixo de árvores (9%), em áreas cobertas que protegem da chuva, mas não dos raios (8%), em áreas descampadas (7%), próximo a veículos ou em veículo abertos (6%), em rodovias, estradas ou ruas, sem estar dentro de veículos (4%), próximo a cercas, varal ou similares (4%) e outros casos (6%). Não há registro de fatalidade dentro de veículos fechados.
Segundo o Inpe, a probabilidade de uma pessoa morrer atingida por raio no Brasil ao longo de sua vida é de uma em 25 mil, em média. É mais fácil do que ser mordido por um cachorro (uma em 100 mil). Curioso notar que muitas pessoas consideram uma probabilidade muito baixa, mas fazem apostas na Mega Sena, em que a probabilidade de ganhar é de 1 em 50 milhões, ou na Quina, que é de 1 em 24 milhões. Ou seja, é mais fácil ser atingido por um raio do que ganhar na loteria.
A incidência de raios em Ribeirão Preto
O Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) possui um ranking de concentração de raios nas cidades do Brasil. O ranking é relativo a estudos entre 2016-2019. Nesse período, São Caetano do Sul tem o primeiro lugar no ranking de densidade estadual, com quase 21 descargas por km²/ ano. Outras cidades da Grande São Paulo lideram o ranking, com taxas acima de 10 descargas por km²/ano. Isso acontece devido à intensa urbanização, que promove a ilha de calor, e proximidade com o oceano, que traz umidade. Por ser um cálculo de densidade, a área do município acaba tendo um peso no cálculo também.
Em Ribeirão a densidade de descargas é de 5,6 por km²/ano. A cidade ocupa o posto 1.353 no ranking nacional e 209 no estadual. Nos últimos meses, devido às chuvas fortes, o número de raios aumentou, mas não há dados oficiais.
Prevenção de raios
Durante o verão, são comuns dias com chuvas de curta e grande intensidade, acompanhadas por trovoadas, raios e rajadas de vento. Por isso, é importante redobrar a atenção e se proteger dos raios, já que a descarga elétrica corresponde a cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico.
Confira orientações da Defesa Civil do Estado de São Paulo para se proteger dos raios durante as tempestades:
– Evite lugares abertos, como estacionamentos, praias e campos de futebol;
– Abrigue-se em casa, edifício ou em instalação subterrânea como metrô;
– Não permaneça em rio, mar, lago ou piscina;
– Se estiver no carro, mantenha os vidros fechados, sem contato com as partes metálicas do veículo;
– Caso não encontre um abrigo por perto, fique agachado com os pés juntos, curvado para frente, colocando as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles até a tempestade passar;
– Mantenha distância de objetos altos e isolados, como árvores, postes, quiosques, caixas d’água, bem como de objetos metálicos grandes e expostos, como tratores, escadas e cercas de arame;
– Evite soltar pipas, carregar objetos, como canos e varas de pesca e andar de bicicleta, motocicleta ou a cavalo;
– Mantenha distância de aparelhos e objetos ligados à rede elétrica, como TVs, geladeiras e fogões;
– Evite o uso de telefone, a menos que seja sem fio ou celular;
– Fique afastado de janelas, tomadas, torneiras e canos elétricos;
– Evite tomar banho durante a tempestade.
Fonte: Portal do Governo do Estado