Adalberto Luque
O deputado federal reeleito e ex-capitão da Polícia Militar, Guilherme Muraro Derrite, é o primeiro secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo que não integra um governo do PSDB. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Derrite foi escolhido pelo atual governador, Tarcísio de Freitas, para comandar a Segurança Pública, que engloba a Polícia Civil, Militar e Técnico-Científica.
Ingressou na Polícia Militar em 2003 e chegou à patente de capitão, chegando a comandar a Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (ROTA) na capital, em 2012. Também atuou no Corpo de Bombeiros. Em 2018 foi eleito deputado federal, reeleito em 2022.
Natural de Sorocaba, tem 38 anos, é formado em Ciências Sociais e Segurança Pública e em Direito, com pós-graduações em Ciências Jurídicas e Direito Constitucional.
Em entrevista exclusiva ao Tribuna Ribeirão, ele admitiu falta de efetivo e anunciou planos para combater a criminalidade e reduzir os índices. Confira a seguir.
Tribuna Ribeirão – O senhor é o primeiro secretário da Segurança Pública, em 28 anos, em um governo que não é do PSDB. Como fica a SSP com a sua nomeação?
Capitão Guilherme Muraro Derrite (Secretário da Segurança Pública) – Nossa gestão tem o compromisso de aperfeiçoar as políticas de segurança do estado e reduzir os indicadores criminais. Vamos investir em tecnologias modernas de combate ao crime e valorizar o policial. De um lado, por exemplo, vamos contar com o Sistema Córtex, do Governo Federal, e outras ferramentas de inteligência policial.
De outro, vamos colocar em pauta o plano de carreira, a carga horária e o aumento dos salários dos policiais. Para aumentar a presença e a eficiência das polícias paulistas, pretendemos fazer concursos, até de forma concomitante, para completar os efetivos policiais, atrelado ao aumento de produtividade e da melhora nos índices criminais.
Aumentar a proteção para quem cuida da segurança de toda a sociedade e reduzir a vitimização policial (policiais mortos).
Na região de Ribeirão Preto, houve troca na diretoria do Deinter-3, da Polícia Civil. E em relação ao CPI-3, quem deve assumir o comando da PM em 93 cidades da região?
Capitão Derrite – Até o momento não está prevista a troca do comando do CPI-3 que, atualmente, é exercido pelo coronel Robson Douglas, mas, no momento, quem está respondendo interinamente é o tenente coronel José Wilson.
O que é “Muralha Paulista”? Como será implantado em Ribeirão Preto e o que deve mudar?
Capitão Derrite – É um sistema que integra bancos de dados criminais, informações e imagens captadas pelas polícias, municípios e até a União. Permite a integração de informações e troca de tecnologias, em nível estadual e federal, como é o caso da assinatura, recente, para acesso à ferramenta Córtex, em que diversos dados são compartilhados para prisão de envolvidos em crimes, por exemplo, e no aperfeiçoamento das políticas de segurança pública.
O senhor nomeou 878 novos soldados, que iniciaram o Curso de Formação. Quantos serão destinados para o CPI-3 de Ribeirão Preto e região?
Capitão Derrite – A distribuição dos policiais é feita após o curso de formação que, no caso dos soldados de 2ª classe, dura, em média, 1 ano. Depois da formatura, todas as regiões do Estado serão beneficiadas com a chegada desses novos policiais.
Na época da criação do 11º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), houve remanejamento de policiais militares de vários setores e diferentes localidades, para conseguir formar a equipe, que tem apresentado desempenho muito bom na região. Há planos de se formar mais integrantes para o BAEP de Ribeirão Preto?
Capitão Derrite – O preenchimento de vagas segue critérios estabelecidos e o planejamento da Diretoria de Pessoal da Polícia Militar. Após a movimentação, os policiais militares realizam curso e estágio a fim de atender às necessidades específicas do batalhão, como é o caso do 11º BAEP. O reforço também é garantido com a entrada de novos policiais, como é o caso dos 878 soldados de 2ª classe que foram nomeados no último dia 21.
Qual seria, na sua opinião, a defasagem de efetivo para a região de Ribeirão Preto?
Capitão Derrite – O estado passa pela maior crise de efetivos policiais da história. O déficit é de 14% na PM, 25% na Polícia Técnico-Científica e 32% na Polícia Civil.
O Sindicato dos Policiais Civis afirma que só para Ribeirão Preto, são necessários mais 50 escrivães, 30 investigadores e 20 delegados. E acredita que haja uma defasagem de 1,5 mil nas 93 cidades que integram o Deinter-3 e 15 mil no total, em todo o Estado. O senhor concorda com isso? Qual seria o déficit real da Polícia Civil?
Capitão Derrite – A atual gestão reconhece e está enfrentando essa crise de efetivo. Na Delegacia Seccional de Ribeirão Preto que cobre 15 municípios, para a carreira de delegado, a necessidade é de mais 15 delegados, além de outros 159 policiais das demais carreiras. Já estão em andamento concursos para 2.750 vagas da Polícia Civil. Os policiais devem ser nomeados ainda neste semestre e, em seguida, fazer o curso de formação. Além disto, temos autorizadas mais 3.500 novas vagas, sendo 552 para delegados, para novos concursos que devem ser lançados também nos próximos meses.
Cidades como Santa Cruz da Esperança têm um único policial civil trabalhando na delegacia. Sabe-se que, os concursos em andamento, com previsão de nomeação de 2,5 mil policiais civis entre delegados, investigadores e escrivães, estão em fase de investigação social e depois academia. Novos policiais civis em número razoável somente para 2024. Como o senhor pretende trabalhar essa questão?
Capitão Derrite – As cidades de Santa Cruz da Esperança e Santo Antônio da Alegria são atendidas por delegados de sobreaviso, que, quando necessário, se deslocam aos municípios. Ambas têm menos de 2.000 habitantes e ficam a cerca de 10 quilômetros de cidades que contam com unidades com delegados e estruturas maiores. O baixo índice criminal também dispensa uma equipe maior, já que elas contam com bases também da PM. É importante ressaltar que as unidades da Polícia Civil nestes municípios contam com ao menos um policial para atender as ocorrências.
A Lei 17.293, de 15/10/2020, em seu artigo 59, autoriza a contratação de policiais civis aposentados e funcionários administrativos para suprir demandas das unidades da Polícia Civil, liberando policiais da ativa para funções diretas às suas carreiras, como investigação, por exemplo. O senhor pretende realizar essa contratação? Se sim, a partir de quando?
Capitão Derrite – O processo para este tipo de contratação está em análise, já adiantada, na Procuradoria Geral do Estado. A intenção é que, caso aprovado, sejam contratados até 1.300 policiais civis nesse regime.
O senhor pretende publicar edital de novos concursos ainda neste ano? Caso afirmativo, já tem o número aproximado de vagas para policiais militares e civis?
Capitão Derrite – Sim. Os editais e processos seletivos estão sendo preparados para contratação de 3.500 novos policiais civis e técnico-científicos. Já para a Polícia Militar, está em análise a autorização para seleção de mais 5.400 novos soldados de 2ª classe e 220 alunos oficiais.
Ribeirão Preto tem um número elevado de furtos e roubos de veículos, sobretudo de caminhonetes. Em 2022, em uma operação conjunta, mais de 90 desmanches irregulares e clandestinos foram fechados e vários deles foram até lacrados. O senhor pretende intensificar essas ações?
Capitão Derrite – As polícias Civil e Militar de Ribeirão Preto realizam forças-tarefas com o Detran, autarquia responsável para este fim, e outros agentes municipais para a fiscalização de locais de desmonte e comércio de peças automotivas irregulares e detenção dos envolvidos. As ações acontecem com um cronograma em nível estadual. Em 2022, fomos informados de que a Operação Desmonte 1 localizou 46 desmontes clandestinos, dos quais 41 foram lacrados pelo Detran e emparedados pela prefeitura.
A cidade também enfrenta problemas em outros tipos de crimes contra o patrimônio. Roubos são muitos e furtos cresceram de forma muito grande. Como combater isso?
Capitão Derrite – A atual gestão, assim que assumiu, reforçou o compromisso de combater a criminalidade e iniciou os trabalhos para reduzir os índices criminais, que estavam em alta. Por isso, no dia 11 de janeiro deste ano, foi lançada a Operação Impacto, que ampliou a ação ostensiva a fim de potencializar a percepção de segurança. As forças policiais utilizaram o reforço operacional de forma direcionada, com planejamento estratégico baseado no uso de inteligência policial e geoprocessamento de dados. Em todo o estado, são mais de 17 mil homens e mulheres reforçando o policiamento.
A exemplo de outras regiões, inclusive a capital, Ribeirão Preto enfrenta um grande número de furtos de itens como fios de semáforo e tampas de bueiro. São crimes que só existem porque existe quem compre. Mas jamais foi feita na cidade uma grande operação nos ferros velhos. Como o senhor pretende atacar essa situação? Seria preciso mudar a lei e agir com mais rigor contra receptadores?
Capitão Derrite – Nos casos de furtos de fios e tampas de bueiros, dois fatores devem ser considerados: o perfil do envolvido, que, geralmente, é usuário de drogas, como crack. Portanto, trata-se de uma questão também de saúde pública. O outro fator é a destinação do material que, por vezes, está atrelada a empresas de sucata que atuam de forma clandestina, afetando, por exemplo, locais de preservação permanente, gerando também um problema ambiental.
Além do policiamento ostensivo realizado pela PM e da investigação criminal por parte da Polícia Civil, foi solicitado à prefeitura a elaboração de legislação municipal visando enfrentar, com mais rigor, a questão, cuidando do perdimento de bens das empresas clandestinas e retomada das áreas públicas invadidas. Em outra frente, alinhamos com o Poder Judiciário, nos casos de reincidência específica, dentro do que prevê a lei, que os autores permaneçam custodiados.
A violência contra a mulher também preocupa na região. Em Ribeirão Preto, de janeiro a novembro de 2022, uma mulher foi estuprada a cada três dias. Isso em números da própria SSP. Porém a subnotificação pode ser grande e representar um número ainda maior. O que fazer para atuar contra o estupro?
Capitão Derrite – Por mais que a atuação da Segurança Pública seja primordial para combater e prevenir qualquer tipo de crime, no caso dos estupros, sobretudo os de vulnerável, os crimes acontecem em boa parte dos casos na residência ou são praticados por pessoas próximas às vítimas. É de extrema importância que a vítima seja acolhida pelas forças de segurança e efetue o registro, tanto para ajudar na análise criminal, quanto para dar a ela a devida assistência psicossocial.
E a violência contra a mulher em geral? A cidade teve, em 2022, quatro feminicídios. Em um deles, o homem que executou sua companheira cometeu suicídio. Nos outros três, os suspeitos de autoria estão todos foragidos. O que fazer para reverter isso?
Capitão Derrite – São Paulo conta com 140 DDMs, sendo 11 com atendimento 24 horas. Vamos aumentar o número de DDMs com funcionamento noite e dia. Além disto, temos 77 salas DDM 24 horas, onde a vítima é atendida nos plantões policiais pela equipe da DDM online. O Estado conta com aplicativo SOS Mulher da PM para mulheres com medidas protetivas. Elas são cadastradas no aplicativo e podem, rapidamente, acionar as equipes da Polícia Militar, que já prenderam 132 agressores em flagrante, até o momento.
Ribeirão Preto tem oito delegacias, mas todas foram unificadas em um único prédio, numa área nobre da cidade e longe da periferia. O senhor pretende mudar esse conceito de unificar unidades, ou pode voltar a instalar delegacias nas áreas às quais elas respondem?
Capitão Derrite – A aglutinação de unidades policiais é uma realidade já implementada em outras regiões administrativas, com resultados satisfatórios e reflexos positivos, pois foram verificados melhores índices de esclarecimentos, em razão da integração das atividades investigativas, permitindo melhor planejamento, execução, fiscalização e avaliação dos serviços administrativos e de polícia judiciária, além de otimizar a gestão de recursos materiais, equipamentos e os recursos financeiros. Além disto, a medida não representou o fechamento de qualquer unidade policial, até porque os distritos vinculados já permaneciam fechados à noite, finais de semana e feriados, tornando-se, inclusive, locais vulneráveis.
Quanto ao imóvel que foi objeto de locação para abrigar a Central de Polícia Judiciária Integrada, ele dispõe de toda a estrutura necessária para o desempenho das atividades, com segurança e conforto ao público interno e externo, sendo que me adianto a informar ser nossa intenção possuir um próprio do Estado, já adquirido mediante transferência do imóvel da Procuradoria Regional do Estado para a Delegacia Seccional de Polícia.