Tem sido usualmente entendido que todos os estudantes nas escolas públicas devem ser proficientes em matérias básicas (matemática, ciência, leitura e escrita). Neste contexto, se as escolas fracassam em alcançar tal objetivo, poderão haver consequências, tais como: suspensão de recursos ou outros benefícios proporcionados pelo Município, Estado ou Federação, conforme a origem funcional das escolas. Não obstante, uma parcela enorme de educadores e dirigentes tem se deparado com a realidade de que tal objetivo é praticamente inalcançável. Os educadores e outros estudiosos da inteligência humana sabem, há décadas, que é impossível que todas as crianças dominem um currículo. Contudo, convive-se com a retórica, e ilusão de sabedoria, que é possível fazer todas as crianças proficientes nas disciplinas fundamentais oferecidas por quaisquer escolas. Ao tentarem impor tal objetivo, as políticas públicas educacionais refletem um otimismo ilimitado, acreditando numa suposta habilidade infalível do sistema educacional para produzir desfechos favoráveis para cada estudante. Como resultado, as pessoas afirmam, em qualquer lugar na educação, que seu currículo personalizado, ou política pública adotada, podem eliminar as desigualdades educacionais entre os estudantes.
A crença de qualquer um pode alcançar (ser conduzido) a um padrão elevado de desempenho acadêmico, é tão comum que isto tem sido ser um “ato de fé” nos círculos educacionais. A denominação “ato de fé” revelando-se apropriada porque nenhum país, ou Estado, tem, até então, criado um sistema escolar que tenha obtido sucesso em educar todos os seus estudantes, sem exceção, em nível elevado. Porém, os fazedores de políticas públicas educacionais acreditam que isto é possível de qualquer maneira e a qualquer custo.
Na realidade, nenhum sistema educacional pode fazer 100% dos estudantes competentes. Há boas razões teóricas enraizadas nas pesquisas sobre a inteligência humana que revelam ser tal desfecho utópico algo impossível. A primeira razão é fundamental: inteligência é positivamente correlacionada com desempenho educacional. Dependendo das características dos estudos, os escores de inteligência correlacionam-se com desempenho escolástico de valores variando de 0,40 a 0,70. Estas correlações, em média, são tão elevadas e robustas que podemos afirmar que inteligência é o melhor preditor de sucesso na escola do que qualquer outra variável. Isto significa que onde quer que exista diferenças individuais na inteligência, haverá diferenças individuais na competência escolar, com estudantes mais brilhantes usualmente desempenhando muito melhor do que aqueles menos brilhantes. Estudantes mais brilhantes cognitivamente aprendem mais rapidamente, aprendem mais eficientemente, organizam e generalizam informação mais espontaneamente e, ademais, fazem menos erros do que os seus pares que se situam na média ou abaixo da média. E, o que é muito importante, nenhuma lei educacional, nenhuma crença, nenhuma sabedoria popular, nenhuma política educacional pode mudar isso.
A segunda razão pela qual as escolas não podem fazer com que todas as crianças dominem totalmente o currículo proposto é que as causas das diferenças de inteligência e as causas do desempenho acadêmico são ambas parcialmente genéticas. Estudos revelam que 20% a 80% das causas das diferenças de QI (Quociente de inteligência) são geneticamente determinadas, especialmente em nações afluentes. Portanto, os genes são uma causa indireta do desempenho educacional porque eles atuam sobre a inteligência e as diferenças genéticas afetam as diferenças de inteligência que por sua vez afetam as diferenças de desempenho escolar.
A despeito da importância da inteligência em determinar os desfechos educacionais, os professores, e outros líderes educacionais, raramente reconhecem sua importância. Importante: esta negação tem consequências negativas muito sérias no sistema educacional. É extremamente prejudicial para os estudantes um incorreto diagnóstico das fontes das diferenças educacionais. Crenças e slogans políticos de que todas as crianças podem alcançar, e terem sucesso total, não são embasados na realidade. Lembremos, entretanto, que a pesquisa científica pode apenas informar quais políticas são inviáveis e quais têm chance de terem sucesso.