Uma das primeiras emissoras de rádio do país e a primeira do interior não está mais em operação pela amplitude modulada (AM). Na última segunda-feira, dia 23 de janeiro, por volta das 17h30, a Rádio Clube AM, antiga PRA-7, deixou o AM e foi em definitivo para o FM [frequência modulada].
A Clube AM completou 98 anos de transmissão ininterrupta em 24 de dezembro de 2022. Segundo o diretor do Sistema Clube de Comunicação, Demétrio Luiz Pedro Bom, o processo da migração do AM para o FM começou em 2014, quando houve autorização do Ministério das Comunicações.
A mudança era quase inevitável. De acordo com um decreto federal publicado em 2013, as rádios AM poderiam migrar para o FM. As emissoras não eram obrigadas a aderir ao processo, porém quem ficasse enfrentaria algumas barreiras, como por exemplo, pagamento de outorgas e diminuição da frequência, consequentemente, de alcance de aparelhos.
Dados oficiais do Ministérios das Comunicações, na ocasião mostravam a existência de cerca de 1,7 mil rádios em AM no Brasil. A grande maioria optou por fazer seus processos de migração. As migrações devem ser realizadas até 31 de dezembro de 2023. Depois, quem permanecer será reenquadrado.
“Com a certeza de que a migração seria um fato real, em fevereiro de 2018 colocamos no ar a 96,7 FM Clube 1 com transmissão simultânea da programação da Clube AM”, explica Demétrio. “Em dezembro de 2022 foi emitida a licença da nova emissora derivada da migração 83,1 MHz que entrou no ar em 23 de janeiro de 2023 com programação POP, desligando e desativando assim a Clube AM”, completa o diretor.
“Até agora não tivemos reclamações sobre este desligamento a não ser dois saudosistas que me ligaram, mas entenderam perfeitamente a situação”, finaliza.
Livro conta a história da PRA-7
Os jornalistas André Luís Resende e Gil Santiago lançaram em 2005 o livro “PRA-7, a primeira rádio do interior do Brasil”. A obra foi concebida por meio de uma ampla pesquisa – com fotos, depoimentos e documentos – e fez, de forma inédita, um importante resgate e registro históricos do rádio de Ribeirão Preto, de São Paulo e do Brasil.
“Há muitos livros que contam a história do rádio, mas quase sempre com uma visão de Brasil, com muito foco nas capitais, nas personalidades nacionais. Nosso livro foca no interior, que também foi pioneiro do rádio e sempre teve enorme importância nas comunicações do país. A obra também destaca e faz justiça àqueles que merecem estar entre os grandes nomes da comunicação brasileira. Desbravadores, à frente de seus tempos, que, por serem do interior, não são lembrados da forma que merecem”, explica Rezende.
O jornalista destaca que a PRA-7 foi fundada em 23 de dezembro de 1924, sendo a primeira emissora de rádio de Ribeirão Preto, do interior de São Paulo e a primeira do interior do Brasil (fora de capitais). Foi a sétima a entrar em operação no Brasil.
“Quando a PRA-7 surgiu, a partir de um clube [na época chamado de Radio Club, em inglês] de associados (comerciantes e personalidades mais abastadas) que estudavam e praticavam a radiodifusão sonora (grande novidade tecnológica da primeira metade do século XX), a emissora representou uma verdadeira revolução na vida das pessoas. Transmitia o som por um meio (ondas sonoras) que ninguém conseguia ver ou tocar. Muitos demoraram a acreditar no que ouviam. Há relatos de pessoas que desmontaram aparelhos de rádio (que eram grandes na época) para ver se tinha alguém lá dentro”, ressalta Rezende.
Antes do rádio o que dominava eram os jornais e algumas poucas revistas. “Quando surgiu, o rádio evoluiu rápido trazendo notícias, músicas, radioteatro, radionovelas, jornalismo esportivo, prestação de serviços, homenagens, informações sobre a sociedade ribeirão-pretana, enfim, tornou-se o grande companheiro dos ribeirão-pretanos e de todos os brasileiros. Foi pelo rádio que a humanidade pôde acompanhar os grandes acontecimentos do mundo, na primeira metade do século XX. A TV só foi inaugurada no Brasil, em 1950, e demorou para que a grande massa da população tivesse acesso aos aparelhos televisores”, complementa.
A PRA-7 esteve sozinha em Ribeirão Preto de 1924 a 1953 quando entrou em operação a Rádio 79. Foram 29 anos de reinado absoluto. Segundo a pesquisa de Rezende, a audiência era tão grande que, segundo relatos, as pessoas andavam pelas ruas e iam ouvindo a programação da emissora de casa em casa, pelas janelas abertas. “Foi um marco para o desenvolvimento da cidade que impactou em vários aspectos, principalmente no político, sendo responsável por projetar diversos nomes que saíram dos microfones para ocupar cargos eletivos no legislativo e no executivo”, salienta.
Outro marco importante da PRA-7 foi o Palácio do Rádio, primeiro edifício da América Latina construído exclusivamente para ser uma emissora de rádio e já tendo o último pavimento preparado para receber uma futura emissora de TV. O prédio está localizado na esquina da rua Barão do Amazonas com a avenida Francisco Junqueira, no centro de Ribeirão Preto. Hoje é um estabelecimento comercial, mas ficou abandonado por alguns anos.
“O Rádio contou, registrou e ajudou a construir os últimos 98 anos da história de Ribeirão Preto e a PRA-7 esteve presente desde o primeiro minuto. Importante destacar que, ao longo dessa trajetória, a PRA-7 teve grandes lideranças que a conduziram de forma exemplar até aqui, tais como José da Silva Bueno, José Claudio Louzada e Ticiano Mazzetto. E, desde o início dos anos 80, com José Ignácio Pizani Paulo (falecido em 2022) e, atualmente, com Paulo de Tarso Pizani junto com seu filho Giuliano Pizani. Demétrio Luiz Pedro Bom, que começou a trabalhar na PRA-7 em 1962 e tornou-se diretor e um dos sócios-proprietários do Sistema Clube de Comunicação, é outra personalidade importante nesse contexto histórico”, finaliza o jornalista.
Fotos históricas: ‘PRA-7, a primeira rádio do interior do Brasil’
Veja algumas das fotos históricas que estão estampadas no livro”PRA-7, a primeira rádio do interior do Brasil”. Confira outras em nosso site www.tribunaribeirao.com.br