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Novo diretor admite falta de efetivo na polícia

Adalberto Luque

O novo diretor do Depar­tamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-3), Jorge Amaro Cury Neto, é, na ver­dade, um velho conhecido de Ribeirão Preto. Ele ingressou como delegado em 1993 e trabalhou boa parte de sua carreira na cidade. Cien­te do desafio, admite a falta de efetivo e adianta que em 2023 esse problema não será resolvido, pois os concursos ainda estão em andamento – são 250 vagas para delega­do, 1.600 para escrivão e 900 para investigador que serão nomeados neste ano, terão o curso na Academia de Polícia e só em 2024 é que devem es­tar aptos para trabalhar.

Natural de Tietê (SP), veio para Ribeirão Preto quando tinha 11 anos. Entre outros setores, atuou no 8º Distrito Policial (DP), criou o Grupo Antissequestro em 2001, pas­sou pela Inteligência Policial e participou da instalação do Núcleo Especial Criminal (Necrim), um órgão especia­lizado que promove a solução de conflitos de interesse de­correntes de crimes de menor potencial ofensivo.

Em 2014 foi para a cidade de São Paulo, passando pela Academia de Polícia, Delega­cia Geral de Polícia, até chegar à Corregedoria Geral da Polí­cia Civil. Chegou a responder duas vezes pelo órgão no Con­selho da Polícia Civil. Na últi­ma vez, em dezembro, encon­trou na reunião seu colega de turma no curso para Delegado Especial, Artur José Dian, que era diretor do Departamento de Operações Policiais Estra­tégicas (DOPE) e integrava a equipe de transição do gover­nador Tarcísio de Freitas.

Foi na reunião que rece­beu o convite para assumir o Deinter-3. Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 4 de janeiro e, deste então, ele está dirigin­do a Polícia Civil de Ribeirão Preto e outras 92 cidades da região. Acompanhe, a seguir os tópicos da entrevista ao Tribuna Ribeirão.

O convite
“Em 2018, fiz o CPS [Cur­so Superior de Polícia]. Fi­quei nove meses na academia fazendo esse curso [para de­legado de Classe Especial]. Nele, estava Artur José Dian, meu colega de sala. Em de­zembro de 2022, já estava pu­blicada a equipe de transição do governo Tarcísio. Estava lá Capitão Derrite e Artur José Dian, que era diretor da DOPE. Evidentemente que é uma sinalização. O único classe especial na comissão de transição era ele. Chegamos no Conselho, fui representar a delegada Rose [Rosemeire Monteiro Francisco Ibañez, diretora da Corregedoria Geral], que estava de férias. Entrei e encontrei o Artur no salão. Estávamos só nos dois e dei os parabéns a ele. Na hora ele disse que só estava na transição. ‘Te desejo uma excelente gestão’, eu disse. Ele me puxou para trás do pilar, colocou a mão nos meus om­bros e disse: ‘Irmão, arrume as malas que você vai voltar para casa’. O convite que tive para ser diretor em Ribeirão foi feito em 10 segundos. E o tempo que tive para pensar foi zero segundo”, diz.

O primeiro diretor após 28 anos de PSDB
“A expectativa é a mes­ma. Meu comprometimento é com a Polícia Civil, com a população. Melhorar a inves­tigação, melhorar o atendi­mento. Independentemente, entraria honrosamente na diretoria com a mesma gar­ra, com a mesma vontade de acertar”.

Reduzir a criminalidade
“Nesse primeiro momen­to, estou conversando com os Seccionais, com a DEIC, para ver o diagnóstico sobre o que estamos encontrando. Vamos conversar para que possam, aos poucos, melhorar essa estatística com prisões tem­porárias, de autores de assal­to, roubos. Com preventivas. Com mandados de busca e apreensão. Esse é o caminho. E a Inteligência ajudando nessa investigação”.

ARQUIVO JORNAL DO SINPOL

Dificuldades
“Eu sei exatamente o desa­fio que tenho. É árduo, enor­me. Sou prata da casa, então a responsabilidade aumenta. Mas quero fazer um planeja­mento de quatro anos. Todo mundo quer um resultado imediato. Quando você quer um resultado rápido, não fica bom. Sei exatamente as difi­culdades imediatas e media­tas. Entre as imediatas, não tenho condição de aumentar muito o efetivo. Já consegui, com meu pedido pessoal, um delegado de Bauru. E liguei para o diretor do Departa­mento de Inteligência da Po­lícia Civil (DIPOL). Tem um investigador aí que foi me vi­sitar no Deinter. Está há dois anos na Delegacia Eletrônica e quer vir para Ribeirão Pre­to. Ele disse que tem 200 pe­didos para liberar gente, mas vai pensar com carinho. Já trouxe dois, em uma semana. Ele vai liberar, pode demorar um mês. Mas vai liberar. Pos­so usar esse investigador no GOE, que estou reorganizan­do, posso usar na DEIC, pos­so usar na Seccional. Se ele negar, vai me ver duas vezes por mês no conselho. Uma hora vai liberar (risos)”.

Mais policiais civis
“Eu também estou nas bancas de concurso. Estou na banca de escrivão de polícia, 1.600 vagas. Estamos na fase de investigação social. Daqui dois meses começa o exame oral. Depois tem academia. Esse pessoal vai sair só em 2024. Então tenho pedido: gente, vamos segurar a onda com o melhor que a gente possa fazer em 2023. Para 2024 tenho certeza de que vem um alento de funcioná­rios. Delegados, investigado­res, escrivães”.

O início dos trabalhos
“Não quis fazer uma reunião com todos os Sec­cionais juntos. Eu sabia que iria mexer. Não quis expor ninguém. Então fiz o que se­ria pior para mim, mas acho que é o certo. Cheguei 14h na quarta-feira, assim que publicou minha nomeação para o Deinter-3. Nesse ho­rário já me reuni com o João Osinski. Fiquei três horas na sala dele. Ele foi diretor 10 anos. Já falei pra ele: tenho um tanque cheio de vontade e você tem um tanque cheio de experiência. Daqui a pou­co terei experiência como di­retor, mas ainda não tenho. A partir daí, me reuni com todos os do primeiro escalão do Deinter-3. Divisionário da DEIC e todos os Seccionais. Na quarta e na quinta-feira. Na quarta, saí de lá 20h30. Já não aguentava mais de cansa­ço. Na quinta cheguei às 09h e o primeiro era o [Sebastião Vicente] Picinato [Seccional de Ribeirão Preto]. Precisava conversar muito com ele, so­bre a importância da Seccional dele. Fiquei com ele até 11h30. Com o Wanir [Silveira Júnior, Seccional de Franca] fiquei até as 13h. Fui almoçar às 15h já estava com o Fernando [Luiz Giareta, Seccional] de Ara­raquara. E aí foi um atrás do outro. Saí 20h. Falei com todos individualmente. Quem eu pretendo trocar já sabe pela minha boca”.

Planos
“Volto a dizer, tenho um planejamento de quatro anos. Quero reorganizar o GOE no Deinter-3. Vai ser difícil, eu sei. E demorado. Tem os aqui na região alguns que conhe­cem muito o GOE. O Wanir, de Franca e o [José Eduardo] Vasconcelos, de Bebedouro. Eles vão me ajudar. Tem um delegado de Bebedouro que tem um curso na SWAT. Não vou trazer ele de Bebedouro pra cá. Isso vai atrapalhar Be­bedouro. Não sou diretor de Ribeirão Preto. Sou do Dein­ter-3. Não posso quebrar a perna de Bebedouro, nem de Franca. Tenho que admi­nistrar 93 cidades. Mas vou aproveitar o know how deles”.

Atendimento
“Sabemos da dificuldade. Você pode ter 10 na fila do plantão, mas tem que aten­der bem. Tem que atender a população. Você tem que sair do plantão esgotado, mas não pode mandar a pessoa embo­ra. Você pode até orientar a usar a Delegacia Eletrônica. Mas tem que atender. Dele­gacia Eletrônica: a população precisa fomentar. Há uma fila enorme no plantão, pode orientar as pessoas: ‘isso aqui você pode fazer na Delegacia Eletrônica. Abre o seu celular que vou te ensinar’. Não vai mandar o cara para casa”.

Inteligência
“A inteligência é um assun­to que me agrada muito. Tra­balhei 10 anos na UIP [Unida­de de Inteligência Policial] do Deinter. Temos que fomentar, capacitar cada vez mais os delegados, investigadores e escrivães pra eles auxiliarem relatórios de inteligência nas investigações de campo”.

Diálogo
“Isso é preponderante. A Polícia Civil é apenas um elo, num sistema enorme de Justiça Criminal, que tem Polícia Militar, Guarda Mu­nicipal, Judiciário, Ministério Público, Ordem dos Advoga­dos do Brasil. Não tem como trabalhar isolado. Tem que trabalhar integrado. Cada um tem uma parcela nesse contexto aí”.

DDM
“Vai evoluir. a Delegacia de Defesa da Mulher cresceu muito nos últimos quatro anos, tendo em vista a impor­tância, como o feminicídio e todos os outros crimes cor­relatos. Temos que ampliar, melhorar esse atendimento, que é especializado. Isso é algo muito importante e tam­bém será pauta nossa”.

Recado para a população
“Podem esperar, vou tra­balhar bastante”.

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