Empossado em 1º de janeiro de 2023, Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez sua primeira viagem oficial a Ribeirão Preto como governador do Estado na última quinta-feira (12), apenas 11 dias depois de ocupar a principal cadeira do Palácio dos Bandeirantes. Em meio a uma grande crise política, Tarcísio aproveitou a entrega de viaturas e equipamentos da Defesa Civil para várias cidades da região e fez a visita.
Em uma rápida solenidade na Esplanada do Theatro Pedro II, o novo governador reuniu-se com dezenas de prefeitos, vereadores, deputados, autoridades e simpatizantes. Entregou 32 viaturas da Defesa Civil do Estado e repassou 80 equipamentos do Programa Ação de Aparelhamento, com 32 kits de combate a incêndio, 36 motosserras, oito geradores e quatro tendas. Antes do evento começar, sua assessoria informou que ele falaria com a imprensa somente após a solenidade.
Foram investidos R$ 7,2 milhões nos equipamentos. Participaram do evento o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Henguel Pereira; o secretário-chefe da Casa Civil, Arthur Lima; e representantes de municípios como Altinópolis, Brodowski, Cajuru, Cravinhos, Dumont, Guaíra, Guará, Guatapará, Jaboticabal, Morro Agudo, Pradópolis, Santa Rosa de Viterbo, Serra Azul, Taquaral e Viradouro, entre os 32 contemplados com as entregas.
O prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Júnior (PSDB), que declarou apoio no segundo turno às candidaturas de Tarcísio para o governo e Jair Bolsonaro para a presidência da República, foi o anfitrião, embora Ribeirão Preto não tenha recebido nenhuma viatura ou kit.
Na tenda montada para o evento havia cerca de 500 pessoas. Chegando com um atraso de 15 minutos, o governador foi fotografado entrando pelo local onde estavam as viaturas que seriam entregues durante a solenidade.
Houve um princípio de tumulto, com muitos apoiadores e alguns manifestantes. A imprensa pôde filmar sua chegada e arriscou algumas perguntas antes da coletiva prevista. Uma delas Tarcísio respondeu. Foi sobre a nomeação de seu concunhado Maurício Pozzobon Martins para o cargo de “assessor especial II”.
“Quando eu nomeei, eu achei que pudesse, porque quando você pega a definição de parentesco consanguíneo ou por afinidade do Código Civil, concunhado não aparece. E aí eu vi uma decisão do Fachin [ministro do STF], de 2019, que inclui o concunhado como vedação ou em adição ao que está na Súmula 13 do Supremo”, disse o governador.
Tarcísio de Freitas havia nomeado, além de Pozzobon, o cunhado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Diego Torres Dourado, para cargo de “assessor especial I”. O salário líquido é em torno de R$ 21,5 mil. O concunhado do governador é militar da reserva e é dele a casa alugada em São José dos Campos, usada pelo republicano para justificar seu domicílio eleitoral. O chefe do Executivo estadual nasceu no Rio de Janeiro e morava em Brasília.
Em seguida, a comitiva foi até o palco armado. O primeiro a discursar foi o coordenador estadual da Defesa Civil, Coronel Henguel. Depois foi a vez do deputado federal Ricardo Silva (PSD). Nogueira discursou a seguir.
Após o discurso do prefeito de Ribeirão Preto, o cerimonial anunciou que Tarcísio iria falar aos presentes. Muitos aplausos, mas uma manifestação, nos fundos da tenda, reunindo cerca de 15 pessoas, passou a ser ouvida. Com vaias, gritos de protesto e faixas pedindo “anistia não” e “piso de enfermagem”, o grupo acabou ofuscado, num primeiro momento, pelos aplausos e pelo som do auto falante.
Tarcísio começou agradecendo a população da cidade e região. “A primeira coisa que queria dizer a Ribeirão Preto é muito obrigado. Obrigado pelo carinho com que sempre me acolheram, obrigado pela votação expressiva que eu tive nas eleições do ano passado e que me ajudaram a chegar aqui. Cheguei a um lugar que nunca tinha imaginado chegar. Nunca tinha planejado ser governador”, discursou.
O governador disse que, em sua primeira semana de trabalho, liberou R$ 11 milhões para as cidades de Amparo, Socorro e Araraquara, entre outras fortemente castigadas pelas chuvas em dezembro e no início de janeiro. Também adiantou que está tudo certo para liberar mais R$ 14 milhões para as cidades que estão precisando.
Tarcísio anunciou que, preocupado com os estragos das chuvas também na área rural, pretende tratar a questão com urgência. Sobretudo porque o ano letivo está prestes a começar e muitos estudantes necessitam das estradas para acessar as escolas das zonas urbanas das cidades.
Enquanto o grupo seguia protestando, o governador anunciou que pretende não apenas recuperar pontes destruídas pelas chuvas na zona rural, mas prometeu a substituição das pontes de madeiras em estradas rurais por outras de concreto.
“Temos um programa bastante ousado de investimentos em infraestrutura. Vamos fazer a diferença. Tenho certeza de que esses investimentos vão tornar o estado de São Paulo cada vez mais competitivo. Isso vai fazer a diferença. Isso vai ser traduzido, no final das contas, em empregos”, garantiu.
Disse ter conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a necessidade de mexer no financiamento da saúde, na recuperação da saúde das Santas Casas, no alívio financeiro das dívidas, no reajuste da tabela do SUS e na estruturação financeira do Sistema Único de Saúde, por exemplo, para pagar o piso da enfermagem, que considera justo. Essa frase, todavia, não diminuiu os protestos.
Os encontros com Lula teriam desagradado seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teria criticado o governador asperamente em grupos ligados ao PL, partido do presidente.
Tarcísio lembrou que no estado de São Paulo, 9 mil leitos estão fechados nos hospitais. Disse que pretende reabrir leitos para esgotar filas mais rapidamente.
Acrescentou que vai investir na acessibilidade e no tratamento e diagnóstico precoce de doenças raras. Prometeu centros de referência e também reforçar o que chamou de patrimônio, a rede Lucy Montoro, com diversas unidades espalhadas pelo Estado cuidando da reabilitação de pessoas.
Encerrou fazendo a entrega simbólica das chaves da viatura ao prefeito de Jaboticabal, Emerson Rodrigo Camargo. Os apoiadores invadiram, enquanto a manifestação subia o tom. A assessoria passou a organizar os jornalistas para a coletiva.
Até que alguém chegou com a informação: “o governador foi embora sem falar com a imprensa”. Ele teria saído pela lateral do palco e embarcado em um carro que o aguardava nos fundos da estrutura montada. Indo embora sem falar com os jornalistas. Assim foi sua primeira passagem oficial em Ribeirão Preto. Foi questionado por nomear seu concunhado na chegada ao local da solenidade. Depois foi aclamado e vaiado, saindo sem dar aos jornalistas a possibilidade de entrevistá-lo e questioná-lo. Justamente no momento em que está sendo atacado nos bastidores por Bolsonaro, pelos dois encontros que teve com Lula.