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A maldade de gente boa e a bondade da pessoa ruim

No próximo dia 26 de janeiro será aniversário de Francisco César Gonçalves, jornalista, escritor, cantor e compositor, natural de Catolé do Rocha, Paraíba e conhecido como Chico César, que emplacou sucessos nacionais como Mama África, Á Primeira Vista e Deus me Proteja. Na última em parceria com Dominguinhos, escreveu “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa. Da bondade da pessoa ruim. Deus me governe e guarde, ilumine e zele assim”. A canção inicia propondo uma autocrítica, depois nos instiga a pensar que as chamadas pessoas boas também cometem maldades e que as bondades dos ruins podem ser perigosas.

A música poderia servir de trilha sonora para um clipe sobre os ataques realizados por extremistas bolsonaristas no último domin­go, que invadiram, depredaram e tentaram conquistar o Congres­so Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal objetivando criar o caos que justificaria a ruptura do estado demo­crático de direito com uma intervenção militar. Os ataques já eram previstos por quem acompanha as mídias sociais onde em inúmeros vídeos, essas pessoas que se auto intitulam patriotas, cristãos, gente de bem e como diriam os italianos: “Tutti Buona Gente”, prolifera­vam mentiras e teorias conspiratórias absurdas e fantasiosas.

Nos diversos dicionários, podemos encontrar a definição de gente boa como sendo pessoa agradável, divertida, legal, boa índole e bom caráter, e a qual todos querem ficar juntos dela pela boa companhia. Olhando nas portas dos quarteis, encontraríamos vários assim, mas quem realmente são aqueles golpistas? Se por um lado os financiado­res estavam no conforto de seus lares e empresas, na linha de frente e nos acampamentos, havia uma bizarra diversidade.

Um grupo que pacificamente exercia o direito de livremente defender suas ideologias ou convicções políticas, emulado por outros recebendo para atuar na organização e manipulação de massa ou com pretensões eleitorais mirando futuras candidaturas; alguns simplesmente querendo angariar fama; outros dinheiro com a monetização de redes socias; até fanáticos religiosos; deficientes mentais; sociopatas e elementos solitários, que não tinham um bom relacionamento com a família ou vizinhos e que, unidos pelo ódio, encontraram um grupo para chamar de seu.

O preocupante é que, mesmo após toda aquela catastrófica ação e prisões, muitos não retornaram à realidade. E em uma inimaginá­vel inversão de papéis, agora são eles que fazem mimimi e poderão ser chamados de ex-presidiários. Acostumados com os banquetes fornecidos nos acampamentos, os terroristas reclamam das refeições servidas no ginásio da Academia Nacional da Polícia Federal: “Nem cachorro come isso. Horrível”, porém se esquecem, que são as mes­mas vendidas a R$ 1 nos restaurantes comunitários que alimentam milhões de brasileiros. Alguns que antes defendiam pena de morte e as péssimas condições do sistema carcerário, agora clamam por direitos humanos e confundem prisão com colônia de férias.

O judiciário deverá percorrer um longo e complicado caminho para a individualização das condutas criminosas e instauração de processos que garantam o contraditório e a ampla defesa, e aplicação dos rigores da lei para os que tentaram usurpar nosso sistema de­mocrático. Aos agentes políticos e à sociedade civil organizada cabe a missão de buscar a pacificação e a volta da convivência respeitosa entre os que pensam diferente.

A democracia brasileira prevaleceu e recebeu o apoio histórico de governos latino-americanos e europeus, além das potências Estados Unidos, Rússia e China. O mundo livre condenou com veemência os ataques terroristas e golpistas. O país jamais será o mesmo e o domingo, 8 de janeiro de 2022, deverá ser eternamente lembrado para que não voltemos a experimentar tão esdrúxula situação. Que o verdadeiro Deus governe, guarde, ilumine e zele, por todos nós especialmente contra a maldade de gente boa e a bondade da pessoa ruim.

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