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Ônibus urbanos na mira do MP

Foto: Alfredo Risk/Jornal Tribuna

O promotor de Defesa do Consumidor, Carlos Cezar Barbosa, propôs um Termo de Ajustamento de Condu­ta (TAC) entre a prefeitura de Ribeirão Preto e o Consórcio PróUrbano – grupo conces­sionário do transporte coletivo na cidade, formado por Rápi­do D’Oeste (50%) e Transcorp (50%). A proposta foi apresen­tada na tarde desta terça-feira, 26 de abril, em audiência para discutir a situação do serviço público no município.

Participaram do encontro representantes da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp), diretores do PróUrbano e o vereador Marcos Papa (Pode­mos), representando a Câma­ra. O promotor deu 15 dias de prazo para que a prefeitura e o consórcio respondam se acei­tam a proposta. Além do TAC, o representante do Ministério Público de São Paulo (MPSP) propôs a elevação do valor das multas aplicadas pela Transerp. O valor não foi revelado.

Quase mil multas
De abril de 2021 a fevereiro deste ano foram expedidas 977 multas pela Transerp contra o Consórcio PróUrbano, num montante de R$ 264.243,07. Se­gundo Carlos Cezar Barbosa, o total arrecadado com as autua­ções previstas no TAC será re­vertido em favor do Fundo Mu­nicipal de Interesses Difusos. O novo valor atinge também as futuras penalidades.

Na audiência, o PróUr­bano reafirmou que enfren­ta problemas financeiros. O promotor disse que entende a situação, mas ressalta que a população não pode ser pena­lizada. Também cobrou mais rigor da Transerp na fiscaliza­ção do contrato de concessão, assinado em maio de 2012 e com vigência de 20 anos.

Caso o TAC não seja aceito, o Ministério Público deverá im­petrar uma ação civil pública. A audiência foi agendada após o promotor receber documen­tos solicitados ao consórcio e à Transerp sobre o funciona­mento do transporte coletivo. Segundo Barbosa, o exame da documentação que recebeu tem fortes indícios de que o ser­viço de transporte coletivo está sendo prestado de forma inade­quada, em prejuízo da coletivi­dade de usuários.

Entre os problemas consta­tados pela Promotoria de De­fesa do Consumidor estão epi­sódios que representam falta de segurança em ônibus e muitas reclamações por descumpri­mento do horário de embarque, excesso de passageiros e veícu­los circulando sem a devida manutenção técnica.

Inquérito
Barbosa instaurou, em 16 de março, inquérito civil para investigar o descumprimento na prestação de serviços pelo grupo concessionário do trans­porte coletivo em Ribeirão Pre­to devido às reclamações feitas por passageiros e os recentes acidentes envolvendo usuários do transporte coletivo.

Queda
O procedimento foi aberto em função das reclamações e dos recentes acidentes com usuários do transporte coleti­vo, como a queda de uma pas­sageira de um micro-ônibus, em 9 de março. A mulher caiu quando o veículo fez uma cur­va na avenida Heráclito Fon­toura Sobral Pinto, no Jardim Guaporé, Zona Sul da cidade.

Renovação
Os passageiros postaram vídeos nas redes sociais mos­trando que a porta do veícu­lo estava presa com arame. A Transerp também abriu um processo sancionatário para ve­rificar se o Consórcio PróUr­bano está renovando a frota de ônibus, conforme estipula­do no contrato de concessão.

Trata-se de um procedi­mento administrativo por meio do qual são apuradas infrações às normas de defesa do consumidor e que poderá resultar, se confirmada a exis­tência da infração, na aplica­ção de sanções – penalidades – ao fornecedor ou prestador de serviço ou produto.

A Secretaria Municipal da Administração é gestora do contrato de concessão do trans­porte coletivo assinado em 2012, durante a primeira gestão da então prefeita Dárcy Vera (sem partido). Já a Transerp é a fisca­lizadora do cumprimento das cláusulas contratuais.

Frota
No caso da renovação dos veículos, o contrato de con­cessão prevê que eles tenham no máximo cinco anos de uso, contados da fabricação de cada um deles. Ribeirão tem uma frota de 352 veículos que ope­ram 119 linhas. No mês de feve­reiro, o PróUrbano afirmou ao Tribuna que, antes da pande­mia de coronavírus, a renova­ção da frota estava acontecendo normalmente.

“Depois não foi mais pos­sível manter o cronograma de renovação, e o foco foi manter a operação, mesmo com todo o déficit financeiro”, afirma o con­sórcio por meio de nota. O con­sórcio aponta que o desequilí­brio econômico-financeiro do contrato do transporte durante a pandemia (2020-2021) perfaz R$ 83.485.195.96.

Mais de 1.100 multas em cerca de 15 meses
O Consórcio PróUrbano foi autuado 518 vezes nos meses de janeiro e fevereiro e até 15 de março, média de sete multas por dia. As penalidades foram aplicadas pela Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp).

O valor total das autuações chega a R$ 150 mil, consequência do descumprimento de vários serviços prestados pelo Consórcio PróUr­bano. As multas foram aplicadas por vários motivos, como superlo­tação de veículos, descumprimento de horários, atrasos, desvio de itinerários das linhas de ônibus e falta de higienização.

No ano passado
No ano passado todo foram 606 autuações por descumprimentos de itens do contrato de prestação do serviço, totalizando 1.124 multas em cerca de 15 meses – de janeiro de 2021 a 15 de março deste ano. Ao todo, as punições resultaram em multas no valor de R$ 150.079,06, o mesmo montante registrado em menos de três meses deste ano.

As 518 autuações de 2022 já representam 85,5% do total de 2021. Entre os principais motivos de autuações estão o não cumprimento de horários e o excesso de tempo de parada nos pontos de ônibus. Cerca de 700 motoristas estão ligados ao grupo.

Ouvidoria
Segundo dados da Ouvidoria da Transerp, no ano passado o Consór­cio PróUrbano foi alvo de 2.704 queixas de usuários, média de sete reclamações por dia. No primeiro bimestre deste ano, entre janeiro e fevereiro, já são 665, média diária de onze e 24,6% do total de 2021.

Somente em janeiro, o 0800 da Transerp recebeu mais de 300 reclamações de usuários. A Transerp informa que promove ações de fiscalização e vistoria nos veículos e, quando o problema é detecta­do, o Consórcio PróUrbano é notificado, podendo ser multado.

Tarifa cara
Depois de ser notificado sobre as autuações, o consórcio tem 30 dias para recorrer. Em 16 de fevereiro, o valor da passagem de ônibus foi reajustado em 19%. A tarifa do transporte coletivo urbano saltou de R$ 4,20 para R$ 5, acréscimo de R$ 0,80. Vereadores entraram com ações judiciais para barrar o aumento e aprovaram um decreto suspendendo o reajuste, mas a medida não teve resultado prático.

Inflação
Em março, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE), o preço da tarifa de ônibus urbano avançou 1,29% no país. No acumulado em doze meses, sobe 3% e, no primeiro trimes­tre, 2,21%.

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