A Rússia lançou sua ofensiva em larga escala para assumir o controle do leste da Ucrânia, anunciou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nesta segunda-feira, 18 de abril. “Agora já podemos afirmar que as tropas russas iniciaram a batalha por Donbas, para a qual estão se preparando há muito tempo”, disse o presidente em um discurso em vídeo.
Zelensky afirmou que “uma parte significativa de todo o exército russo está agora focada nesta ofensiva”. Donbas é o coração industrial da Ucrânia localizado no leste do país, com uma população majoritariamente de língua russa, e onde os separatistas apoiados por Moscou lutaram contra as forças ucranianas nos últimos oito anos.
Eles declararam duas repúblicas independentes que foram reconhecidas pela Rússia. Há algumas semanas, o Kremlin declarou que a captura de Donbas era o principal objetivo da guerra, depois de ter fracassado em sua tentativa de chegar a Kiev.
“Vamos lutar”
Depois de se retirar da capital, o exército começou a se reagrupar e reforçar suas tropas terrestres no leste para o que poderia ser uma batalha aberta. “Não importa quantas tropas russas sejam levadas para lá, vamos lutar”, prometeu Zelensky. “Vamos nos defender. Faremos isso todos os dias”, disse.
Enquanto isso, a Rússia bombardeou a cidade ocidental de Lviv e vários alvos em toda a Ucrânia, em uma aparente tentativa de dizimar as defesas do país. Pelo menos sete pessoas foram mortas na ofensiva de mísseis em Lviv, uma cidade perto da fronteira polonesa que sofreu apenas ataques esporádicos nos quase dois meses de conflito e se tornou um refúgio para civis que fogem de combates em outras partes do país.
Civis
Para crescente aborrecimento do Kremlin, Lviv também se tornou um importante canal para o fornecimento de armas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A agência de direitos humanos das Nações Unidas registrou um total de 1.982 mortes de civis na Ucrânia desde 24 de fevereiro, quando começou o conflito, até 14 de abril.
A guerra com a Rússia entra em seu 55º dia nesta terça-feira (19). Os dados foram publicados em comunicado no site oficial da entidade, que ainda alerta que os números reais podem ser muito maiores já que o recebimento de informações de alguns locais onde ocorreram confrontos foi adiado e muitos relatórios ainda aguardam confirmação.
O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH, na sigla em inglês) disse em nota que pelo menos 2.651 pessoas ficaram feridas em igual período analisado. No mesmo relatório, a agência pontua que a maioria das mortes e dos ferimentos aos civis foi causada pelo uso de armas explosivas com uma ampla área de impacto.
“Incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos”, afirma. De acordo com análise feita pelo governo da Ucrânia até as 7h30 do dia 15 de abril, desde o início da guerra, pelo menos 2.700 civis foram mortos, incluindo mulheres e crianças. Em período semelhante, o órgão registra mortes de 198 crianças.
Mais mortes
As autoridades regionais de Lugansk anunciaram, nesta segunda-feira (18), o início de grande ofensiva russa no leste da Ucrânia. Quatro civis foram mortos a tiro quando tentavam fugir de carro da cidade de Kreminna, na região leste de Lugansk, que já está sob controle russo.
Duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas em Zolote, enquanto sete foram retiradas dos escombros de um prédio destruído em Rubizhne. Novos ataques com mísseis russos na cidade de Kramators, bem como em outras cidades em Donetsk, como Vugledar, Marinka e Gradiv, foram relatados durante a noite no leste da Ucrânia.
Os russos têm tentado quebrar a resistência ucraniana em Kreminna e numa série de vilas e cidades em Lugansk, enquanto avançam para a região de Donbass. Os corpos de mais de 900 civis foram descobertos na região de Kiev após a retirada de forças russas, segundo o chefe da força policial local, Andriy Nebytov. Haviam sido abandonados nas ruas ou enterrados de forma provisória. Dados policiais indicam que 95% das mortes foram causadas por atiradores de elite ou ferimentos de bala.
Mariupol
A situação não mudou em Mariupol, cidade portuária sitiada que o comando russo exortou à rendição no domingo. Milhares de civis em Mariupol, na costa do Mar de Azov, resistem ao bombardeio contínuo das tropas russas abrigadas nas instalações da Siderúrgica Azovstal, antiga fábrica metalúrgica da década de 1930.
O ultimato imposto por Moscou expirou ao meio-dia de domingo, sem que a resistência ucraniana depusesse as armas. Estima-se que cerca de 2.500 soldados também estejam entrincheirados na antiga siderúrgica, que seria a última defesa do lado ucraniano da cidade.