No último dia 31 de março, completou-se 58 anos da instauração da ditadura militar no Brasil, um período que marcou para sempre a história do país. O regime foi instaurado no dia 1º de abril de 1964 e durou até 15 de março de 1985, sob comando de sucessivos governos militares. Teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, então presidente democraticamente eleito e acabou quando José Sarney assumiu a presidência do Brasil, após a morte de Tancredo Neves. O golpe de estado de 1964 é qualificado por seus apoiadores como uma revolução.
Em Ribeirão Preto um fato marcante deste período, foi a prisão e a tortura da madre Maurina Borges. Em outubro de 1969, ela foi detida em frente ao orfanato para meninas do qual era diretora, o Lar Santana, localizado na Vila Tibério, sob suspeita de abrigar membros do grupo guerrilheiro Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN), que ela havia pensado que faziam parte do Movimento Estudantil Jovem (MEJ), que utilizavam um espaço no orfanato.
Segundo a jornalista e escritora do livro “Sombras da Repressão – O Outono de Maurina Borges”, Matilde Leone, no início da década de 1960, quando a madre começou a coordenar o orfanato, um grupo de jovens usava uma das salas, mas a madre não sabia o objetivo dos encontros. A madre sempre negou ter qualquer conhecimento das atividades reais do grupo.
“[Eu] não sabia de nada. Só sabia do MEJ, mas nada da guerrilha. Nem desconfiava. Um dia, o pessoal do MEJ me pediu para fazer uma palestra sobre amor… Então, nem dá para imaginar que gente de um grupo guerrilheiro se interesse por palestra de uma freira sobre amor”, contou a religiosa em uma entrevista concedida em 1998 ao jornal Folha de São Paulo.
A freira era membro da Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição e ficou presa em Ribeirão Preto, em Cravinhos, e na Penitenciária feminina do Tremembé, onde soube de seu exílio forçado para o México, em 1970. A madre voltou ao Brasil 15 anos depois, em 1985. Sofrendo de Alzheimer, Maurina morreu aos 84 anos, em 2011, na cidade de Araraquara. A história da madre virou tema de vários livros.
Comissão da Verdade montou acervo sobre o período
A Comissão da Verdade “Rubens Paiva” – criada em fevereiro de 2012 -, pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) colheu documentos e depoimentos sobre vítimas do período (1964 a 1985) – todos disponíveis para consulta no Acervo Histórico daquela Casa de leis.
Foram mais de 150 audiências públicas com o objetivo de esclarecer casos de violações de direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar. São 40 caixas com a transcrição dos depoimentos das audiências realizadas, além de vasto material, como livros, recortes de jornais e CDs com depoimentos de comissões da verdade municipais. Esse conteúdo pode ser pesquisado na internet ou, pessoalmente, no Acervo Histórico da Alesp. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade concluiu que, durante a ditadura, 434 pessoas morreram ou desapareceram.
Vala de Perus
Em 1990, foi descoberto no Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, na capital paulista, uma vala clandestina com 1.049 ossadas sem identificação. Na época, funcionários do cemitério informaram que o local era usado para enterrar indigentes, vítimas de epidemia de meningite e também da repressão política na época da ditadura.
No dia 4 de setembro de 1990 a vala foi aberta para exumação dos corpos. Para recordar a data, a Alesp chegou a aprovar a Lei 14.594/2011, que instituiu o dia 4 de setembro como Dia Estadual de Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos. Após análise das ossadas, alguns desaparecidos políticos foram identificados.
Como consultar os documentos
Todo o material da Comissão Estadual da Verdade está disponível para consulta no site: http://comissaodaverdade. al.sp.gov.br/ e também no Acervo Histórico da Alesp. As visitas podem ser agendadas pelo e-mail: [email protected]