Com base no preço da cesta básica de São Paulo (SP), de R$ 761,19, a mais cara observada pela pesquisa mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em março o salário mínimo ideal necessário para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele deveria ser de R$ 6.394,76, valor que corresponde a 5,28 vezes o piso nacional vigente no mês passado, de R$ 1.212.
No mesmo mês de 2021, o salário mínimo necessário calculado pelo Dieese seria de R$ 5.315,74, ou 4,83 vezes o valor vigente à época (R$ 1.100). Em fevereiro deveria ser de R$ 6.012,18, valor que corresponde a 4,96 vezes o piso nacional, e em janeiro o salário ideal seria de R$ 5.997,14, o correspondente a 4,95 vezes o mínimo. Em dezembro, era de R$ 5.800,98, o equivalente a 5,27 vezes o piso vigente no ano passado, de R$ 1.100.
O Dieese calcula que, em março, seriam necessárias 119 horas e onze minutos para que um trabalhador que recebe o mínimo legal pudesse comprar o conjunto de itens da cesta básica e outros produtos e serviços. O valor estimado pelo Dieese bancaria as despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
O tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta, em fevereiro deste ano, ficou em 114 horas e 11 minutos, superior ao de janeiro, de 112 horas e 20 minutos, e inferior ao de dezembro, de 119 horas e 53 minutos. Em março do ano passado a jornada necessária era de 109 horas e 18 minutos.
Quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social (7,5%), verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em março, 58,57% do piso para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta. Em fevereiro era de 56,11%, em janeiro de 55,20% e em dezembro, de 58,91%. Em março do ano passado foi de 53,71%.
O salário mínimo de R$ 1.212 em 2022 não repõe a inflação do ano passado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador que corrige o piso nacional, registrou alta de 10,06% em 2021, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação ficou acima do reajuste de 10,02% dado no salário mínimo, aporte de R$ 112. Isso significa que a alta no piso não repõe o poder de compra, como assegurado pela Constituição. Para isso, o piso deveria subir para R$ 1.213. No ano passado, o salário mínimo também foi estipulado abaixo da inflação do ano anterior.
Ao decidir por R$ 1.212 neste ano, o governo incorporou R$ 1,62 referente à inflação maior de 2020 que não havia sido contabilizada no valor de R$ 1.100 que vigorou em 2021. Deixar a diferença para o ano seguinte é permitido pela lei.
Em 2020, porém, o governo mudou o salário no próprio ano, depois da divulgação do INPC. A política de valorização do salário mínimo, com reajustes pelo índice de preços e pela variação do Produto Interno Bruto (PIB), vigorou entre 2011 e 2019, mas nem sempre o salário mínimo subiu acima da inflação.
Em 2019, houve um aumento real de 1%, refletindo o crescimento de dois anos antes e marcando o fim da política. O reajuste do salário mínimo em 2022 aumentará despesas do governo federal em cerca de R$ 40,8 bilhões, de acordo com cálculos do Ministério da Economia.
De acordo com as estimativas do governo, para cada aumento de R$ 1 no salário mínimo, despesas com benefícios previdenciários, abono, seguro desemprego e Benefícios de Prestação Continuada (BPC) aumentarão em aproximadamente R$ 364,8 milhões no ano de 2022.