Um dossiê de cerca de 50 páginas recentemente formulado por médicos que atuaram na operadora, trouxe a público o episódio da Prevent Senior, que passou a ser investigada por alegadamente maquiar mortes por covid-19, distribuir kits de tratamento precoce e fazer pesquisa sem consentimento de pacientes, utilizando-os como cobaias. Segundo reportagem publicada pelo jornal Estadão, em 31 de março de 2020, o plano de saúde particular voltado para idosos chegou a acumular 58% das mortes por covid-19 no estado de São Paulo.
Independentemente de qual seja o desfecho das inúmeras investigações das irregularidades denunciadas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o caso Prevent Senior, no mínimo, deveria ter servido para ressaltar a falta de transparência ainda existente em parte do mercado da saúde, a vulnerabilidade dos pacientes e o frágil controle social sobre as práticas das operadoras.
Ao invés de fazer o óbvio e fortalecer o Serviço de Assistência à Saúde dos Municipiários (SASSOM) – onde a iniciativa privada nunca colocou um só centavo – o governo municipal resolveu trabalhar de vez para bagunçar o atendimento da autarquia pública e, assim, gerar pretexto para a completa extinção do órgão.
Na mais recente turbulência inventada pelo governo em relação ao SASSOM, a atual superintendente do órgão publicou, no diário oficial do dia 1º de abril, um edital para credenciamento de operadoras de serviço, para que grandes grupos privados passem a responder pela execução do atendimento médico e odontológico aos servidores municipais. O que está em pauta é a extinção por completo do próprio SASSOM!
Se a atual superintendente do SASSOM está mesmo convencida de que a autarquia que paga o seu salário está quebrada e não pode fazer nada para mudar essa realidade, senão transferir tudo para grandes grupos privados, é imperioso – para o bem do SASSOM, dos servidores e do próprio Município – que ela renuncie ao cargo o quanto antes.
Num Estado Democrático de Direito, o exercício do poder exige necessariamente diálogo, respeito ao outro, reconhecimento dos erros e da realidade. Por sua vez, a aposta no conflito gera impasse e paralisia. A comandante do SASSOM demonstrou que desrespeita o diálogo, não é capaz de atender nem mesmo o apelo de membros do seu próprio Conselho (que votaram contra o projeto) para discussão do tema, ignora os erros recentes que cometeu e, principalmente, desconsidera a realidade que o escândalo da Prevent Senior trouxe à tona.
O comando do SASSOM ao invés de se esforçar para tornar a autarquia cada vez mais sustentável, barata e eficiente, como o servidor de Ribeirão Preto precisa e merece, caminha na direção oposta. Aliás, caminha na direção incerta! É uma gestão que muda de direção, às vezes mais de uma vez por dia, de acordo com os ventos políticos, numa atitude de absoluta falta de rumo.
Tal falta de rumo da direção do SASSOM lembra muito aquele equipamento que orienta os pilotos para que lado está o vento, conhecido como biruta de aeroporto, que vai para o lado que o vento assopra. Mas ao contrário dos equipamentos dos aeroportos – que são tão úteis nas atividades da aviação – a direção do SASSOM não muda de direção para orientar, e sim para desorientar a todos e assim afastar-se, cada vez mais, do compromisso com os servidores e com os interesses públicos.
No caso do SASSOM, os ventos da contradição e da falta de interesse público, tornaram a autarquia um aeroporto perigoso, rumo ao abismo da extinção. O Sindicato dos Servidores Municipais/RPGP, como sempre tem feito em situações assim, não assistirá a esse show de efeitos especiais lançado com a intenção de agradar a grandes grupos e prejudicar os servidores. Cabe-nos a missão de denunciar que este triste espetáculo, tornado público no dia 1º de abril, é vazio de conteúdo e carente de seriedade e legalidade. Acompanhem.