Minha terra difere muito do clima, solo, topografia e o relevo daquelas cantadas por João Guimarães Rosa, “O sertão é o mundo”.
Não sei porque cargas d’água foi escolhida para rodar uma película tendo como a saga o cangaço e as peripécias de Virgulino Ferreira e Maria Bonita.
O jovem e estreante Diretor, sonhando com seus dias de John Ford, Huston, reuniu os figurantes, moradores da viela para passar as características necessárias para uma determinada tomada.
Começou uma longa narrativa de como seria o “figurante”, alto, magro, ossatura à mostra e mais feio que as noites de tempestades, quando um gaiato lá do fundo gritou: é o Zé Horrível, lá da Guardinha.
A cena era bastante simples e o figurante ao ser alvejado deveria cair do cavalo e a vida seguir em frente, ou o filme.
E lá foi o nosso homem, devidamente paramentado, com alpercatas, demonstrando as imensas joanetes nos pés, tamanho 50, empertigado, duro como aroeira, a olhar todos lá de cima do alazão, piteiro debaixo do chapéu de ouricuri, com aquele ar de John Wayne em “O homem que matou o facínora”.
Luzes, câmera, ação, e o ator permaneceu imóvel, olhar perdido nas montanhas, paiero apertado nos dentes, soltando fumaça pelo nariz e pela boca, em uma alusão ao imortal Humphrey Bogart, sob o desespero do perplexo Diretor que arrancava os cabelos e vociferava, caia! Você tem que cair, pule deste cavalo seu desgraçado, você só tem que morrer e o Zé permaneceu imóvel e impassível, determinando.
Eu sou mocinho e mocinho não morre.
O jeito foi passar uma corda na barriga do herói, luzes, câmera, ação, um dois três e já.
E lá foi o nosso aspirante a Lampião, fulminado com um certeiro tiro de fuzil, arremessado do corcel branco, rolando na poeira ladeira abaixo, nas saudosas matinês para a alegria da garotada entre palmas, assovios, pipocas, balas Chita e drops Dulcora.