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Fernando Nobre e seu livro

O meu querido amigo Doutor Fernando Nobre, reno­mado cardiologista de nossa cidade e professor da nossa Faculdade de Medicina, acaba de lançar, em concorrido evento na Livraria da Travessa, seu livro “Superfícies, Pro­fundidades”, cujo subtítulo indica o conteúdo da obra: his­tórias, estórias e poesia. Depois de publicar mais de trinta livros sobre sua especialidade, área da Hipertensão Arte­rial, – um deles merecedor do Prêmio Jabuti de 2006, como melhor Livro de Ciências da Saúde – o autor lança-se, pela segunda vez, na ficção literária, brindando-nos com “cau­sos” interessantes de sua vivência pessoal e profissional.

Médico formado pela nossa Faculdade de Medicina da USP-RP, onde também se doutorou e colabora até hoje com seu trabalho e prestígio, Fernando já tinha entrado no campo literário com livro infantil dedicado às suas netas, de grande sucesso.

Agora, busca na sua vida pessoal e profissional, inspira­ção para nos contar sua vivência, compartilhando histórias e estórias curiosas, das quais participou. O livro traz pre­fácio da insigne Professora Doutora Marisa Giannecchini Gonçalves de Souza, que, num texto brilhante como são sempre os seus, resume o trabalho de Fernando: “uma plu­ralidade de vozes, trazida à superfície: um tempo passado e presente, amigos, familiares, sem estabelecer hierarquia entre vínculos, sejam eles biológicos, sejam de alma, de forma circular, sem obrigatória classificação”.

E nos encanta também o texto inaugural de Ignácio de Loyola Brandão, da Academia Brasileira de Letras, que fez questão de destacar o papel do cronista encontrado em Fernando: “Nobre é observador atento, aquele que nada deixa escapar, que guarda os insights em que nos mostra­mos humanos, felizes, irônicos, esperançosos, furiosos”.

Suas estórias surgem da vivência profissional nos hospitais e clínicas, cheias de curiosidade e surpresa e que bem cons­troem o brasileiro simples. Recolhidas em tempos ainda de estudo e, depois, na prática da medicina, são saborosos casos acontecidos no dia a dia e que, pela sua estrutura, se tornam representantes da nossa personalidade nacional: o Francisco Dois Pintos; o jogador inveterado de baralho; agarol a cada oito horas, em vez de aerossol neste período; o paciente cujo procedimento virou ângio e os familiares entenderam que havia virado anjo, morrido; e por aí vai se desenvolvendo a narrativa. Aborda também duas pessoas ilustres, com respeito e saudade: o Professor Doutor Sérgio Henrique Ferreira, da nossa Faculdade, cientista de renome e Cezar Lattes.

Na parte final da obra, descobrimos o poeta, que, em mais de sessenta textos poéticos, faz desabrochar sua cria­tividade e sensibilidade.

O livro termina com o poema Ser Médico: Ser médico é consultar primeiro a razão / Antes que outro seja consul­tado / Para ter a melhor ação / Que aquele anseia deses­perado/. Ser médico é pensar na fragilidade/ Imposta pela doença / O pavor, o medo, a ansiedade / Que nada ampara senão a fé e crença. / É ter um pouco de cada um/ Ser todos em um único sentimento / É dar conforto incomum / Divino, humano a um só tempo/, resumindo a vitoriosa trajetória do cientista e médico.

Com a mesma maestria com que desenvolve sua profis­são, cuidando dos que o procuram, Fernando se lança na literatura. Seu livro é belo presente para a arte literária e para todos nós.

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