O presidente russo, Vladimir Putin, está tentando dividir a Ucrânia em duas, emulando a divisão pós-guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, disse o chefe da inteligência militar ucraniana, general Kyrylo Budanov, em um comunicado distribuído no domingo, 27 de março, à imprensa.
Em comentários que levantam a perspectiva de um longo e amargo conflito, Budanov, que previu a invasão da Rússia já em novembro de 2021, alertou para uma sangrenta guerra de guerrilhas. “Embora Putin não tenha tropas para tomar todo o país, ele pode tentar dividi-lo consolidando território em partes da Ucrânia”, diz.
Autoridades ocidentais disseram estar determinadas a impedir que Putin consiga dividir a Ucrânia. Segundo o chefe de inteligência, Putin teria repensado seu plano de ocupação total depois que não conseguiu tomar rapidamente Kiev e derrubar o governo do presidente Volodmir Zelensky.
Recentemente, o líder da autoproclamada República Popular de Luhansk, no leste da Ucrânia, Leonid Pasechnik, disse acreditar “que em um futuro próximo um referendo será realizado no território da república, durante o qual o povo dará sua opinião sobre a adesão à Federação Russa”.
Autoridades ucranianas disseram no domingo que estão cada vez mais confiantes em sua capacidade de evitar ataques terrestres à capital. As forças ucranianas partiram para a ofensiva em áreas onde as linhas russas estão mais reduzidas. No entanto, as forças russas continuaram a bombardear vilas e cidades, ao redor da capital.
Tendo sofrido pesadas perdas, uma grande formação de soldados russos voltou a se reagrupar no norte, especialmente em uma área ao redor da extinta usina nuclear de Chernobyl. Ao longo da frente leste, que se estende por mais de 965 quilômetros de Chernihiv, no norte, até a cidade portuária de Mariupol, no sul, os combates continuam intensos.
O Exército ucraniano – que impediu os russos de cercar Kharkiv – afirmou no domingo que seus soldados recuperaram duas aldeias nos arredores da cidade. As forças russas já cercaram Chernihiv, a cerca de 160 quilômetros de Kiev, de acordo com o prefeito da cidade, Vladislav Atroshenko.
Dezenas de milhares estão agora presos. Aqueles que permaneceram nas cidades arruinadas de Mariupol, Sumy e Chernihiv – que abrigavam coletivamente mais de dois milhões de pessoas antes da guerra – agora estão confinados em abrigos antiaéreos e porões com suprimentos cada vez menores de comida e água.
As forças russas se concentraram no domingo em enfrentar as contraofensivas ucranianas e manter os ganhos no leste e no sul, onde a cidade de Kherson – uma fortaleza crítica na fronteira com a Crimeia – agora é duramente disputada.
Em outras cidades, os russos continuaram uma campanha brutal destinada a forçar os civis a capitular ou fugir. A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.119 civis, incluindo 139 crianças, e feriu 1.790, entre os quais 200 crianças.
Os mais recentes dados são do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnur), que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior. Kiev anunciou que nenhum corredor humanitário para retirada de civis seria usado nesta segunda-feira (28).
A decisão do governo do presidente Volodmir Zelensky foi tomada para evitar “eventuais provocações” russas, antes de uma nova sessão presencial de negociações entre as delegações russa e ucraniana na Turquia, marcada para esta terça-feira (29).
Os corredores humanitários são geralmente organizados a cada dia, a partir das cidades mais afetadas pelos combates, para permitir a retirada de civis. A Ucrânia tem denunciado repetidamente ataques russos a esses corredores, especialmente ao redor da cidade cercada e devastada de Mariupol, no Sul do país.
A Ucrânia poderia declarar neutralidade, potencialmente aceitando um acordo sobre áreas contestadas no leste do país, e oferecer garantias de segurança à Rússia para conseguir a paz “sem atraso”, diz Zelensky. A declaração é dada antes de negociações previstas para começar nesta terça-feira, mas o líder ucraniano disse que apenas um encontro dele com Putin poderia encerrar a guerra.