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Os Desafios de Estudar a Percepção do Tempo (21): Linguagem e Leitura

Será que capacidade de leitura e de linguagem são causadas por problemas de processamento de informação temporal? Há certa controvérsia se um déficit/uma deficiência no mecanismo de processamento de informação temporal seja o principal fator responsável por causar proble­mas de leitura ou incapacidades de linguagem e fala. As respostas para essa questão são muito complexas. Mas, é certo que, o processamento temporal de interesses constitui, principalmente, aqueles que afetam o julgamento sobre a ordem de chegada dos estímulos sensoriais ou a habili­dade para detectar uma interrupção num sinal contínuo, mais do que julgamentos explícitos sobre a duração temporal.

Estudiosos referem-se às incapacidades de lin­guagem e fala quando um atraso no desenvolvimento das habilidades de linguagem e de fala não pode ser atribuído à incapacidade auditiva, ou a outras desordens de desenvol­vimento, tais como incapacidade cognitiva geral. Tal atraso ou de­sordens afetam 7% das crianças no mundo todo. As razões que podem explicar as incapacidades de fala e de linguagem não são ainda totalmente claras. Mas uma hipótese tornou-se clássica. Aventada há quase 50 anos, supõe que as habilidades necessárias para processar informação temporal estão na raiz de tais incapacidades. De fato, deve ser compreendido que a aquisição da linguagem originalmente consiste em perce­ber corretamente os sons da fala. Esta percepção torna-se possível apenas quando o fluxo de palavras pode ser segmentado em unidades signi­ficativas. Esta é uma tarefa difícil, considerando o ritmo rápido de sucessão de fonemas na fala.

Segundo Simon Grondin, em seu livro “The perception of time: your questions answered” (2020), um estudo por ele realizado mos­trou que, comparado às crianças sem dificuldade de linguagem, aquelas que apresentam alguma deficiência têm maior obstáculo em determinar a ordem temporal de estímulos auditivos não verbais quando a duração entre esses estímulos é de 150 milissegundos ou menos. Observações similares têm sido focalizadas sobre o uso de sílabas que seguem uma à outra rapidamente. Por sua vez, outro estudo relatado por Grondin (2020), envolvendo mais de 160 variáveis, conhecidas por estarem relacionadas a problemas de linguagem, 98% das crianças, no estudo, foram classificadas como tendo ou não tendo uma desordem, baseado em seis variáveis, cada uma envolvendo habilidades de processamento temporal.

Considerando, até então, estes e outros estudos similares, reforça-se a hipótese de um déficit de processamento temporal como um plausível fator causal de incapacidade de lingua­gem específica. Em relação à incapacidade de leitura, também se supõe problemas conectados ao processamento de informação temporal, pois este fator não é apenas limitado à linguagem oral, mas, também, estende-se à aprendizagem de leitura. De fato, uma incapacidade de leitura é diagnosticada como tal quando a habilidade de leitura é significativamente piorada do que o nor­malmente esperado de uma criança de uma dada idade, considerando suas habilidades sensoriais e intelectuais e o ensino por ela recebido. Assim, a desordem frequentemente conhecida como dis­lexia, ou dislexia de desenvolvimento, não é um mero atraso na aprendizagem. Segundo Grondin (2020), quando comparadas às crianças que não têm qualquer problema dessa ordem, aquelas com incapacidade de aprendizagem de leitura também têm dificuldade para perceber a ordem de chegada de estímulos separados por 8 até 305 milissegundos.

Também, em outros estudos envolvendo crianças com diferentes níveis de eficiência de leitura, a hipótese do déficit de processamento temporal foi testada usando detecção de intervalos, julgamento de ordem temporal, discriminação temporal e reprodução de intervalo. Em todas essas tarefas, as crianças foram testadas tanto com estímulos auditivos quanto com estímulos visuais. Tomados juntos, os dados revelaram que as deficiências temporais nas crianças com dificuldade de leitura foram globais e além do processamento dentro de uma dada modalidade sensorial.

Finalmente, a possibilidade de observar diferenças entre crianças com incapacidade de leitura e outras com desenvolvimento normal pode depender do comprimento do intervalo sob estudo. Quando grandes intervalos são conside­rados, não há, aparentemente, diferenças entre os grupos. Mas, em intervalos mais curtos, pode-se encontrar diferenças na habilidade para discriminar intervalos definidos por sons contínuos. Concluindo, não há dúvida de que crianças com inca­pacidade de leitura e de linguagens específicas frequentemente terão dificuldades em desempenhar tarefas envolvendo resolução temporal.

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