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O Pedro II e a Orquestra Sinfônica

Raras as cidades brasileiras e certamente raras também as da esfera terrestre que têm e mantém em seu patrimônio físico e cultural tanto um Teatro Pedro II, como a quase centenária Orquestra Sinfônica. A tão brava e leal cidade de São Sebastião de Ribeirão Preto tem mantido este patrimônio cultural.

Registre-se que infelizmente no passado foi derrubado o Teatro Car­los Gomes edificado do outro lado da Praça XV. O local foi convertido no ponto de parada de ônibus!

Na época da inauguração do Pedro II, eclodiu um grande debate no processo da escolha do seu nome. De um lado estavam os monar­quistas do outro os republicanos. Os primeiros venceram e batizaram o nosso teatro com o nome do rei deposto pelos republicanos.

Naqueles antigos tempos, todos os grandes artistas estrangeiros que visitavam o Brasil apresentavam a sua arte para o público de Ribeirão Preto.

É escusado dizer que, sofrendo esta influência, a cultura da cidade despontava pela sua singularidade. Até então estava aqui instalada a PRA-7 Rádio Clube de Ribeirão Preto, com notáveis programas cultu­rais. Afirma-se que a nossa rádio era mais antiga do que a Rádio Nacio­nal do Rio de Janeiro, então capital da República, segundo documentava o seu número. A do Rio era PRE-8 em contraste com a nossa PRA-7.

Na noite de 6 de março, no palco do Teatro Pedro II, foram iniciadas as comemorações do centenário da nossa Orquestra Sinfônica. A apresentação foi regida pelo maestro Reginaldo Nascimento, com um trabalho inesquecível. Foram brilhantes tanto o maestro como a nossa orquestra, é desnecessário dizer.

O programa foi constituído pela soma de peças musicais de diversos autores de diversas escolas musicais. Foram ouvidas, por exemplo, músicas do romântico Mendelsshon, como do moderno Villa-Lobos e do moderníssimo Stravinski. Entre outros. O espetáculo, que honrou a história do Pedro II, foi aplaudido de pé pelos presentes.

Na saída fiquei matutando. Se eu pudesse opinar, diria que seria também da mais alta repercussão apresentar, segundo o mesmo modelo, os trabalhos do italiano Nino Rota que, antes dos seus 10 anos, já compunha ópera.

O cineasta Fellini valeu-se das músicas de Nino Rota transforman­do-as nas trilhas sonoras de seus filmes. Outros cineastas bateram tam­bém na sua porta. Durante o século XX poucos foram os compositores tão comprometidos com a história da música como o italiano Nino Rota. E de tão extensa criação.

Temo que a sua insuperável criação musical seja lançada para a tum­ba do esquecimento, como ocorreu com a obra do nosso Guerra Peixe que desde a sua criação foi mergulhada na tumba do esquecimento. Guerra Peixe revelava aos seus amigos que somente ouvia suas músicas quando o nosso Ministério das Relações Exteriores comunicava-lhe que seriam apresentadas em emissoras de rádios espalhadas pelas nações estrangeiras. Guerra Peixe compunha peças dodecafônicas e foi um dos inspiradores da nossa Bossa Nova.

No âmbito da educação artística devemos ter sempre como guia uma das regras mais consagradas pela tradição: “devemos dar aos brasi­leiros muito daquilo que eles gostam e um pouco do que precisam”.

Precisamos unir nossos aplausos para a nossa Orquestra Sinfônica e para o seu notável maestro Reginaldo Nascimento, pois permanecem manten­do o padrão de nossos antigos mestres Ignácio Stábile, Ovídio Ciciarelli, Roberto Minczuck, Gian Luigi Zampieri e Carlos Nardelli. Entre tantos outros.

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