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Entidades analisam impactos da guerra na economia regional

ALFREDO RISK

Mesmo em situações geo­gráficas distantes, os impactos da guerra envolvendo direta­mente Rússia e Ucrânia pro­vocarão consequências que, mais cedo ou mais tarde, chegarão ao bolso e à mesa dos brasileiros. O principal temor é com relação ao agro­negócio, uma vez que o Brasil importa 90% dos fertilizantes usados em diferentes tipos de culturas agrícolas e uma par­te significativa vem da região de conflitos ou passa por por­tos que não estão conseguin­do escoar a produção.

Dorival Balbino, presidente da Acirp: “principal problema que observamos é a inflação, algo que já vem acontecendo devido às dificuldades na cadeia do trigo, milho, fertilizantes e, principalmente, dos combustíveis”

Mas e em Ribeirão Pre­to e região? Esses impactos serão sentidos diretamente? Segundo avaliações da Asso­ciação Comercial e Industrial (Acirp), os efeitos da guerra podem ter impactos negati­vos diretos para alguns seto­res da economia da cidade, que mantém comércio bila­teral com a Rússia. De modo geral, no entanto, os efeitos deste impacto no comércio são suportáveis.

“O principal problema que observamos é a inflação, algo que já vem acontecendo de­vido às dificuldades na cadeia do trigo, milho, fertilizantes e, principalmente, dos combus­tíveis”, afirma o presidente da Acirp, Dorival Balbino.

O comércio bilateral com a Ucrânia é pouco relevante de modo geral: por exemplo, entre 2019 e 2021, Ribeirão Preto importou cerca de US$ 160 mil (cerca de R$ 900 mil) daquele país. As exportações, por outro lado, não chegam a US$ 400 mil e estão basica­mente resumidas à venda de amendoim in natura.

A situação com a Rússia, no entanto, é mais preocupante. Nas importações, por exem­plo, o país presidido por Vla­dimir Putin é o sexto parceiro comercial de Ribeirão Preto, atrás de China, Estados Uni­dos, Itália, Israel e Argentina.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Ex­terior do Ministério da Eco­nomia, em 2021 as empresas instaladas no município im­portaram US$ 9 milhões da Rússia. “Cerca de 90% das importações estão ligadas à compra de fertilizantes ou produtos químicos utiliza­dos na fabricação de adubos. Portanto, a nossa relação co­mercial com a Rússia reflete a que o próprio Brasil tem, que é ter grande parte das impor­tações ligadas à compra de fertilizantes.”, afirmou a as­sessora de Comércio Exterior da Acirp, Thayná Rais.

Para a assessora de Comércio Exterior da Acirp, Thayná Rais, alternativa pode ser a busca de outros mercados como China, Estados Unidos, Bélgica ou Nigéria

Segundo ela, quanto mais a guerra entre os dois países permanecer, maiores as difi­culdades para a importação desses produtos, sobretudo se as sanções econômicas ado­tadas por Estados Unidos e União Europeia se intensifica­rem. “Também é importante levarmos em conta que, atual­mente, fala-se das importações de fertilizantes como vindos, quase que exclusivamente, da Rússia. No entanto, no caso de Ribeirão Preto, o município importa da Bielo-Rússia cer­ca de US$ 3,4 milhões, que é praticamente o mesmo valor que se paga à Rússia. Essa in­formação é importante porque a Bielo-Rússia também é alvo de sanções internacionais, pelo apoio ao governo russo na in­vasão da Ucrânia”, completa a responsável pelo Núcleo de Comércio Exterior da Acirp.

Portanto, segundo ela, a guerra deve ser acompanha­da com atenção, sobretudo no caso dos fertilizantes. Afinal, quase dois terços de todos os fertilizantes importados por Ribeirão Preto vêm de dois países que são alvo de sanções internacionais. Isso, segundo Thayná, pode se refletir não apenas no encarecimento dos preços dos produtos, como também no próprio processo de importação, justamente por causa das sanções atual­mente existentes.

A alternativa, portanto, pode ser a busca de mercados alternativos, como China, Estados Unidos, Bélgica ou Nigéria.

Indústria
No ponto de vista do Cen­tro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br), que representa as indústrias de transformação, metal mecâ­nico, indústria de base – de máquinas e equipamentos, a guerra no leste europeu, im­pacta principalmente sobre o preço do aço no mercado internacional.

Luís Carlos Júnior Jorge, presidente do Ceise Br: “as usinas siderúrgicas, considerando o câmbio do dólar em alta, vão priorizar o mercado internacional, criando um possível cenário de escassez do aço no mercado interno”

“Lembramos que a Rússia é o terceiro maior produtor de níquel, que é utilizado na fundição, sobre tudo na for­mação do aço inox, o preço do níquel já ultrapassou 100 mil dólares a tonelada, então há uma expectativa que falte esse componente e com isso, con­sequentemente abale os preços praticados no mercado do aço. Porque a guerra mexeu com as commodities, os minérios es­tão em alta, isso acaba impac­tando mesmo”, disse o presi­dente da entidade, Luís Carlos Júnior Jorge.

“Também observar que este cenário abre espaço para as usinas siderúrgicas brasi­leiras para ampliar o forneci­mento de aço para os Estados Unidos, em razão do em­bargo econômico americano em relação aos produtos da Rússia, que também pode­rá afetar o mercado interno, porque as usinas siderúrgi­cas, considerando o câmbio do dólar em alta, vão priori­zar o mercado internacional, criando um possível cenário de escassez do aço no mer­cado interno. Há expectativa de grande aumento no preço desta matéria utilizada em diversos segmentos da eco­nomia”, finaliza o dirigente.

Importações em Ribeirão Preto: cerca de 5% vêm da Rússia
As relações comerciais bilaterais de Ribeirão Preto com a Ucrânia são mínimas. No entanto, com a Rússia isso não ocor­re, embora o comércio desse país com o município não seja vital. Do total de importações feitas em 2021 por empresas de Ribeirão Preto, cerca de 5% vêm da Rússia, segundo dados da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).

Para se ter uma ideia, com a China, que é o principal país de onde Ribeirão Preto importa produtos, esse percentual é de 25%.

Nas exportações, a situação é praticamente idêntica, mas com uma diferença importante: embora o que Ribeirão Preto exporta para a Rússia seja de cerca de 5%, as vendas entre o município e o país de Putin vêm crescendo de forma significa­tiva desde 2019.

Naquele ano, a Rússia representava apenas 0,27% das expor­tações do município, com vendas estimadas em cerca de US$ 800 mil. No ano passado, no entanto, esse valor passou para quase R$ 13,5 milhões, em um aumento de quase 17 vezes em apenas três anos.

Portanto, caso o conflito no norte da Europa permaneça por mais tempo, Ribeirão Preto teria mais a se preocupar como vendedor do que como comprador, mas em uma área muito es­pecífica: o comércio de amendoim. Dos US$ 13,5 milhões que Ribeirão Preto exportou para a Rússia em 2021, quase US$ 12 milhões são de amendoim in natura.

Ou seja, tendo em vista o cenário geral das exportações para a Rússia, o efeito da guerra na economia local é baixo. No entanto, pode representar um problema bastante sério para as empresas que atuam especificamente na venda de amendoins para aquele país.

Amendoim
A reportagem do Tribuna Ribeirão entrou em contato com a Coplana – Cooperativa Agroindustrial – entidade formada por produtores de cana-de-açúcar, culturas em rotação com cana, como amendoim e soja, além de outras culturas em menor escala, com atuação regional e sede em Guariba. Segundo informações da área técnica da entidade, por meio de sua assessoria de imprensa, no momento ainda não há impactos da guerra, pois não há carregamentos destinados para aquela região neste período. A entidade é uma das principais exporta­doras de amendoim.

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