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O Peru e sua Literatura (9): Alfredo Bryce Echenique

Descendente de linhagem abastada, proe­minente família de banqueiros, Alfredo Bryce Echenique (1856-1939) foi um escritor peruano que graduou-se em Direito e especializou-se na área de literatura clássica francesa, atuando, no início da carreira, como professor de espanhol e literatura e, posteriormente, como catedrático nas universidades de Nanterre, La Sorbonne, Vincennes, Montpellier, Yale, Austin e Porto Rico, entre outras. Trajetória acadêmica, esta, que o levou a ministrar palestras e conviver com outros escritores na Argenti­na, Bulgária, Canadá, Cuba, Espanha, Esta­dos Unidos, França, Itália, México, Peru, Porto Rico, Suécia e Venezuela. No contexto das Letras, manifestou afinidade pela criação literária que deixasse entrever sentimentos e humor, como, respectivamente, a poesia de César Vallejo e os contos de Julio Ramón Ribeyro, conterrâneos seus que, cientes da escassez de tais temas na literatura latino­-americana da época, a eles se dedicaram com esmero e talento. Talvez advindo daí os quatro temas que orientam sua produção literária, a saber, amor, solidão, depressão e felicidade, por ele entendidos como as experiências fundamentais que todo ser humano deve ter para compreender sua existência no mundo.

Em linguagem coloquial e estilo narrativo mesclando o erudito e o popular, Echenique com frequência retrata a classe alta de Lima. Seu primeiro romance, Un mundo para Julius (1970), foca o declínio de uma família aristocrática influente e cen­tenária confrontada com a invasão do capital estrangeiro na década de 1950. A origem temática? O fato de, em 1968, o general Juan Velasco Alvarado assumir o poder no país e nacionalizar o Banco Internacional do Peru, no qual seu pai havia sido gerente e seu avô presidente, o que muito prejudicou sua família. De viés autobiográfico, traz ao leitor o protagonista Julius, filho mais novo de uma rica família peruana, que, assis­tindo a todo o declínio da mesma, relata suas impressões sobre o fato. Aclamado pela crítica e pelo público, o livro ganhou o Prêmio Nacional de Literatura em 1972, localizando seu autor entre as grandes figuras literárias do Peru.

Dentre seus romances mais conhecidos também se encontram Tantas veces Pedro (1977), La vida exagerada de Martín Romaña (1981), El hombre que hablaba de Octavia de Cádiz (1984) e El huerto de mi amada (2002). Tantas veces Pedro, segundo romance do autor, narra a paixão segundo São Pedro Balbuena, que tantas vezes foi Pe­dro e que nunca pôde negar a ninguém. Quem é Pedro Balbuena? Um irônico escritor peruano que, neurótico, apaixona-se por uma garota, Sophie, que tem seu retrato estampado numa revista. Passados os anos, já adulto, embarca numa viagem repleta de peripécias em busca de reencontrá-la, passando, para tanto, na Cali­fórnia, em Paris, na Itália e outros lugares, nos quais, a cada parada, conhece outras tantas mu­lheres, como ocorreu com Virginia, Claudine, Beatrice, Julie e Pamela, por exemplo, alter egos de sua desejada Sophie. Engraçado sem deixar de ser amargo, algumas vezes feliz, sem deixar de ser trágico, o roman­ce representa a busca dolorosa, peregrina e obstinada do ser hu­mano por um grande amor ou paixão que ressignifique sua vida.

Outras obras de sua autoria? Permiso para retirar-me (Permissão para aposentar), Dándole pena a la tristeza (Dando tristeza à tristeza), Permiso para vivir (Permissão para morar). Permiso para retirar-me, terceira e última parte de Antimemorias , um livro “feito de restos e momentos de uma vida dedicada à literatura, amizade e amor”, marca a despedida de Echenique como escritor. Divi­dida em cinco partes, traz evocações emocionais e tragicômicas da infância do autor no Peru, bem como, o ambiente escolar e familiar, o pai aventureiro e a mãe sensível e leitora; a mudança para Paris nos anos sessenta com o propósito de ser escritor, a des­coberta da liberdade e a passagem por outras cidades europeias como Barcelona; grandes amigos, como Julio Ramón Ribeyro; encontros com figuras como García Márquez; casos de amor; as taças; as doenças e explosões de melancolia; as leituras… E Stendhal, sempre Stendhal como referência. Vale conferir.

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