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O Brasil não é cor-de-rosa

Em 1910, durante o II Congresso Internacional de Mu­lheres Socialistas, na cidade de Copenhague, Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher para que o movimento operário desse maior atenção à causa das mulheres trabalhadoras. A data somente foi oficializada pela Organização das Nações Unidas em 1975. Mais do que uma celebração de conquistas, a data destaca necessidades e simboliza a luta histórica das mulheres pela igualdade. Se no início a maior reivindicação era a igualdade salarial, com o passar do tempo foram incorporadas outras bandeiras como o fim do machismo e da violência de gênero.

Neste ano um novo ingrediente foi o vazamento dos repug­náveis áudios do deputado Arthur do Val em relação às mu­lheres ucranianas. Insensível à cruel realidade enfrentada pelas vítimas da guerra, o parlamentar exalou machismo e sexismo externando o que, infelizmente ainda passa pela cabeça de mui­tos homens, inclusive em relação ao chamado turismo sexual.

Outro político que já fez apologia ao turismo sexual foi o atual presidente da república “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Aliás, foram vários deslizes em relação às mulheres. Referindo-se à deputada petista Maria do Rosário disse que não a estupraria “porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”.

Quando vetou o projeto de lei que previa aumenta na mul­ta trabalhista para empregadores que pagam salários diferen­tes para homens e mulheres que exercem a mesma função, justificou que seria “quase impossível” a entrada de mulhe­res no mercado de trabalho. Com relação à própria família zombou que tinha quatro filhos homens “a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”. Ainda, respondeu às denúncias feitas, sobre possíveis irregularidades na sua campanha eleito­ral, afirmando que a jornalista “queria dar o furo”.

Tentando apagar suas declarações misóginas e sexistas e na busca de aproximação do eleitorado feminino Bolsonaro par­ticipou de evento alusivo à data quando chegou às lágrimas ao ouvir o discurso da primeira dama que o chamou de “Presidente mais cor-de-rosa do Brasil”. Já a Ministra Damares Alves cele­brou supostos avanços na proteção das mulheres brasileiras, no entanto omitiu que sua pasta está sob investigação pelo Ministé­rio Público Federal, pois nos últimos três anos, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que deveria realizar as po­líticas públicas em favor das mulheres, crianças, idosos e grupos minoritários não cumpre suas metas. Somente em 2021, apenas 43,8% dos recursos destinados a ações da pasta foram efetiva­mente pagos. Em números, dos R$ 482,7 milhões inicialmente previstos, apenas R$ 211,4 milhões foram efetivados.

O rompimento da teoria da submissão continua sendo um desafio em muitos países. O Brasil não é cor-de-rosa, já que em 2021 registrou um estupro a cada 10 minutos, um feminicídio a cada 7 horas. Na economia, no trabalho e, na maioria dos seto­res, a exclusão, o preconceito e a desigualdade de gênero conti­nuam presentes, até na realização de um evento sobre mulheres na política que só contou com homens palestrantes.

Sei que você está se perguntando o que fazer para mudar esta triste realidade. Mais do que um post na internet, uma flor ou vestir uma camiseta rosa, uma forma simples de adesão à luta pela igualdade de gênero é ouvir. Quando os homens se dedica­rem à escuta sincera, compreenderão que as mulheres querem respeito, igualdade de direitos e principalmente, escolher seus destinos. Será o primeiro passo para a adesão transformadora.

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