Tribuna Ribeirão
Geral

Número de doadores de órgãos recua 4,5%

ELZA FIÚZA/ARQUIVO AG.BR.

O número de doadores de órgãos em 2021 foi 4,5% me­nor que o registrado em 2020. Segundo um levantamento que a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (Abto) divulgou nesta semana, a taxa de doadores efetivos por mi­lhão de pessoas da população (pmp), que tinha atingido 15,8 pmp em 2020, caiu para 15,1 pmp no ano passado.

Em números absolutos, a diferença foi de 123 doadores a menos. Enquanto, em 2020, eles eram 3.330, no ano passa­do houve apenas 3.207 doações. Uma redução significativa, se­gundo a associação, uma vez que o número de doadores já tinha diminuído bastante de­vido à pandemia da covid-19 – em 2019, foram 3.768 doa­dores efetivos e a taxa atingiu 18,1 pmp, a maior desde 2010, quando estava em 9,9 pmp.

Segundo a Abto, a nova queda do número de doadores efetivos ocorreu na contramão do aumento das notificações a potenciais doadores de órgãos ou seus familiares. De acordo com a entidade, no ano passa­do, foram feitas 12.215 notifi­cações – o melhor número já obtido, superando as 11.399 de 2019 (em 2020, já no contexto pandêmico, foram 10.639).

Contraindicação
Para a associação, algumas das medidas adotadas para con­ter a disseminação do novo co­ronavírus, enquanto o mundo inteiro lidava com as incertezas quanto à melhor forma de en­frentar a covid-19, acabaram por impactar a doação e o trans­plante de órgãos, fazendo com que a taxa de contraindicação a doações aumentasse.

“A principal causa da queda na taxa de efetivação da doação foi o aumento de 60% da taxa de contraindicação, que pas­sou de 15% em 2019 para 24% em 2021”, aponta a associação, em documento. Esse aumento da taxa de contraindicação se deve às medidas tomadas no início da pandemia para evi­tar a transmissão da covid-19 pelo transplante, pois o risco de transmissão era então des­conhecido e poderia ser alto.

Entretanto, agora já há dados suficientes na literatura cien­tífica sugerindo que esse risco cirúrgico é mínimo ou ausente, com exceção do transplante de pulmão e, portanto, as medidas devem ser revisadas, acrescenta a associação, informando que, dos 12.215 potenciais doado­res notificados no ano passado, 2.781 foram contraindicados.

Caso a taxa de 2019 (15%) tivesse se mantido, os casos contraindicados não passariam de 1.832, o que, considerando a taxa de efetivação das doações (2 pmp), corresponderia a poten­ciais 420 doações a mais. Ainda segundo a Abto, no ano passa­do, tanto a taxa de transplantes renais (22,4 pmp) quanto a de fígado (9,6 pmp) recuaram 2% em comparação às de 2020.

Já o transplante de córneas (60,2 pmp), cuja taxa caiu 53% em 2020, aumentou, em 2021, 77% – percentual que, embora elevado, a mantém 16% abaixo do resultado de 2019, antes da chegada do novo coronavírus ao país. Situações parecidas com as dos transplantes cardí­acos e pulmonar.
Ainda que as taxas tenham crescido, respectivamente, 7% e 33%, continuam abaixo dos ní­veis registrados em 2019. Reali­zados em apenas seis unidades federativas, os transplantes de pâncreas aumentaram 12% nes­te ano, retornando à mesma taxa anterior à pandemia (0,8 pmp).

Governo
O Ministério da Saúde já ti­nha divulgado, no início de feve­reiro, que, em 2021, o número de transplantes de órgãos realiza­dos no país caiu em comparação com o ano anterior. Segundo a pasta, entre janeiro e novembro do ano passado, foram realiza­dos 12 mil transplantes.

Em 2020, no mesmo perío­do, equipes de saúde executaram 13 mil procedimentos. Ainda de acordo com o ministério, a lista de espera para transplantes de órgãos e córnea aumentou. Em 2020, 32.900 pessoas estavam aguardando para receber um ór­gão externo. Em 2021, o número subiu para 34.380 pessoas.

Lista de espera
Em seu levantamento, a Abto aponta que só a lista de espera para o transplante renal (27.427) cresceu, em 2021, 2% em relação ao ano anterior, enquanto o in­gresso em lista, que tinha caído 31% em 2020, aumentou 70% no ano passado – em parte, de­vido à demanda reprimida do período anterior. Em relação a outros órgãos, também foi regis­trado um aumento da procura.

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