É certo que cada vez mais as mulheres têm ganhado espaço nas atividades públicas e econômicas. Contudo, ainda é baixa a proporção delas em cargos de liderança e protagonismo.
Com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, em Ribeirão Preto a média salarial feminina é 25% menor que a dos homens que ocupam a mesma função, pelo mesmo tempo de serviço, e chega a ser o dobro dependendo da profissão.
Os dados não sinalizam que a mesma empresa contrata homens e mulheres com salários diferentes para a mesma função, mas sim que aquelas a pagarem os maiores salários possuem mais homens em seus quadros profissionais. Significa que os homens estão mais presentes em atividades com melhor remuneração e possuem maior chance de serem promovidos para cargos de chefia.
No mercado corporativo, quanto mais alta a posição de liderança, menor a participação das mulheres. Para os cargos de mais alto nível nas corporações, apenas 15% das empresas possuem uma mulher no topo, segundo a última edição da International Business Report (IBR) – Women in Business 2019, pesquisa realizada pela Grant Thornton com mais de 4,5 mil empresas no mundo.
A sub-representação feminina negra é ainda maior. O mercado confere às mulheres pretas apenas 0,4% de participação em cargos de lideranças, segundo pesquisa do Instituto Ethos com as 500 empresas de maior faturamento do Brasil em 2019. E quando se trata de mulheres com deficiência em cargos de liderança sequer encontramos dados com facilidade.
A desvalorização profissional da mulher é diretamente vinculada à estrutura social patriarcal e excludente, que dificulta a conquista de espaços de protagonismo feminino. Como exemplo, temos os cargos públicos, nos quais, tecnicamente, não ocorre a distinção salarial, mas são ocupados, em sua maioria, por homens nos cargos de liderança.
Na política brasileira, a Câmara dos Deputados possui apenas 15% de mulheres e o Senado Federal, 12%. Em âmbito municipal, 900 municípios não tiveram sequer uma vereadora eleita em 2020. E reportagens na grande imprensa denunciaram candidaturas femininas de fachada, apresentadas como legítimas só para que os partidos atingissem a cota mínima obrigatória de 30% de candidatas, estabelecida pela Lei Eleitoral. Na prática, porém, as cotas de verba de campanha que cabiam a essas mulheres iam direto para os cofres dos partidos, sem que elas tivessem acesso a sequer um centavo para fazerem suas campanhas.
Pesquisas ainda colocam o Brasil na 140ª posição no ranking da União Interparlamentar que avalia a participação política de mulheres em 192 países. O país está atrás de quase todas as nações da América Latina, com exceção do Paraguai e do Haiti.
A busca pelo protagonismo feminino encontra inúmeras dificuldades sob o aspecto cultural. Três em cada 10 pessoas no Brasil (27%) admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe, com maior resistência à liderança feminina entre os homens, alcançando 31% deles, de acordo com a pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero” (em tradução livre do inglês), publicada em 2019 pela Ipsos.
E existem diferentes leituras do comportamento de homens e mulheres que ocupam posições de liderança. Por vezes uma mulher assertiva é tida como mandona, prepotente, arrogante enquanto um homem com a mesma característica é visto como um líder natural. Além do que elas sempre são deslegitimadas, sendo consideradas novas demais ou pouco experientes, quando não velhas demais. Ser mãe é um complicador e não querer ser, egoísmo. Ser casada é um problema, mas não ser, um diagnóstico. Em todos os cenários, são sempre vistas como insuficientes para os cargos de liderança.
O reconhecimento da capacidade feminina de liderar deve ser uma constante luta social. E a efetivação dos direitos fundamentais, em especial o de equidade entre homens e mulheres, deve ser instituída por meio de iniciativas públicas e privadas que promovam a paridade de gênero como princípio da ordem constitucional. A médio prazo, isso implica a necessidade de criar políticas afirmativas para alterar este cenário. No longo prazo, investir na educação sobre igualdade de gênero para transformação social.
Na prática, todas as esferas da sociedade devem fazer a sua parte: o governo, por exemplo, implementando um maior número de vagas em creches – o que permitiria às mulheres mais dedicação à sua vida profissional, fortalecendo as instituições de apoio e suporte a mulheres que vivenciam situação de violência e criando mais políticas afirmativas de cotas para mulheres na política.
As famílias, promovendo uma divisão de tarefas igualitária diante das 21,4 horas dedicadas aos afazeres domésticos pelo público feminino, contra 11 horas do público masculino – segundo o IBGE que escancara as desigualdades de gênero dentro dos ambientes familiares, além de as tarefas domésticas serem responsabilidade social da mulher, mas sim de toda a família que vive e usufrui da casa.
As empresas, colocando em prática políticas organizacionais que contemplem as necessidades das mulheres, como sala de amamentação, creches conveniadas, oportunidade de chefia e paridade salarial, entre outros. Por fim, as instituições representativas da sociedade civil estabelecendo cotas de representatividade feminina e cobrando dos governos leis inclusivas.
É uma luta para mais de uma geração, mas que precisa começar “ontem”.