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O que fica

Quando impera o silêncio da morte, a lembrança da pessoa emerge na sua essência, deixando extinguir-se jun­to com o corpo físico tudo que aparecia como acessório.

Assim, surge o que fica do Said Issa Halak, que é a controvérsia projetada na expressão pública da sua perso­nalidade.

Nada mais fala do homem do que o ser controvertido pelos seus atos e ideias, especialmente quando defendidos, com segurança, determinação e coragem. Sua profissão tinha que ser a do advogado, pois, a ela pertence a ética da parcialidade, na defesa de interesses e direitos mate­riais e imateriais da pessoa. E não só por isso, pois, é essa profissão que tem o convívio obrigatório com o direito fundamental da liberdade da pessoa, como defensor dela, na projeção que se espraia pelos campos, cidades, vertentes e florestas pelos quais o homem caminha na sua vida. Os direitos fundamentais da pessoa, eis bandeira.

Said circulou pelo campo movediço da política partidá­ria, antes de 1964, como vereador. Depois, trouxe pela vida o orgulho de ter sido preso e depois vigiado pelos assaltan­tes da democracia, os mesmos que hoje têm o desatino de falar que a ditadura é uma etapa da construção democrá­tica, mas sem esclarecer que, como etapa, é o episódio abo­minável da construção, porque de consequências deletérias e perversas, até hoje. Mais recentemente foi Vice, quando Sérgio Roxo da Fonseca foi candidato a Prefeito.

A defesa criminal atraiu a competência do Said, para a tribuna do júri, cuja voz era ouvida com atenção e respeito.

Quando transmiti a notícia ao advogado de Tatuí Be­nedito Antonio Dias da Silva, o Bene, ele imediatamente retornou com o seguinte testemunho: “Um grande líder da política corporativa em toda Região Ribeirão-pretana. Meu amigo, companheiro em dois Conselhos da OAB”.

Esteve, como participante, na fundação da Associação dos Advogados de Ribeirão Preto, sempre a prestigiou, alcançando depois, por duas vezes, a Presidência da 12ª Subseção da OAB, de Ribeirão Preto e da Região.

Um típico grande advogado, felizmente controverti­do, como só acontece com quem tenha posição definida expressada com ênfase.

Essa é a expressão pública da personalidade.

A expressão interior, especialmente a do seio familiar, é analisada pelos seus frutos. Deixa a mulher com quem conviveu mais de meio século, deixa filhos, deixa noras e netos, numa longitude de tempo, morreu com 91 anos, que dá gosto de admirar e aplaudir.

Nós não queremos nos aproximar da morte, apesar da espreita dela ser diária e permanente, mas especialmente com o tempo prolongado de vida, e sendo ela comum a todos, temos que bendizer quem nos deixa, arquivando no coração e na memória de todos o mesmo que a memória da cidade não pode esquecer.

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