A cada ano, a competição nacional se firma como a principal da modalidade na América do Sul. Não à toa, como ocorre com no masculino, o Brasileirão Feminino tem se acostumado a receber mais e mais atletas de outros países do continente. Em 2022, dez dos 16 clubes da Série A1 têm estrangeiras no elenco. A estatística supera a do ano passado, quando metade dos participantes iniciou o torneio com jogadoras de fora nos respectivos grupos.
Uma das estrangeiras é a zagueira Verónica Riveros, do São José-SP. Entre as 16 atletas do exterior ligadas a times da primeira divisão, a paraguaia de 34 anos é quem está há mais tempo no Brasil. A defensora chegou em 2013 para jogar no Foz Cataratas-PR, após se destacar na Libertadores Feminina do ano anterior pelo Universidad Autónoma, de seu país natal. Ela, inclusive, fez um gol na competição, disputada nas cidades pernambucanas de Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão.
“No fim do campeonato, o presidente do Foz pediu ao do meu clube que deixasse três atletas fazerem testes. Em fevereiro de 2013, eu passei. Foi um desafio muito grande na hora de sair de casa, deixar a família, ir atrás de um sonho. O mais importante é que seria no futebol brasileiro, a terra do jogo bonito”, recordou Vero, como é conhecida a zagueira, à Agência Brasil.
Segundo a paraguaia, o começo no Brasil foi difícil. A defensora explicou que demorou a conseguir atuar devido a problemas de documentação e que o idioma foi inicialmente uma barreira. Superadas as complicações, Vero construiu a sequência da carreira toda aqui. Permaneceu no Foz até 2019, onde conciliou treinos e jogos com a faculdade de Educação Física. Em 2020, ela foi para o Avaí/Kindermann. No ano seguinte, defendeu o Napoli-SC, sendo contratada pelo São José em julho.
“O meu primeiro ano aqui foi também o do primeiro Campeonato Brasileiro. Tivemos um bom desempenho, tanto que o Foz ficou em terceiro [o título ficou com o Centro Olímpico-SP]. Foi uma diferença impressionante para mim, porque no Paraguai, o nível do campeonato estava muito abaixo. Foi grande a diferença em nível de organização, de tudo. Hoje, o Paraguai está tentando melhorar essa questão, mas ainda falta. Acredito que, em nível sul-americano, o Brasil está acima de todos”, disse a defensora.
Seis país sul-americanos, além do Brasil, terão jogadoras atuando na Série A1 nacional em 2022. O Paraguai, de Vero, é a nação mais representada, com cinco atletas. Além da zagueira, a lateral Camila Arrieta, a meia Fabi Sandoval (ambas do Avai/Kindermann) e a atacante Fany Gauto (Ferroviária) estiveram nos amistosos contra o Uruguai, em casa, nos dias 19 e 22 de fevereiro. Após empatarem por 1 a 1 no primeiro duelo, as paraguaias ganharam o segundo por 2 a 0.
“A maioria das convocadas estava no estrangeiro, no Brasil ou na Europa. Foi nítido o nível de competição, trabalho, intensidade e compreensão das questões técnicas e táticas das quatro jogadoras que estão aqui”, afirmou Verónica, que, até pela experiência no futebol brasileiro, costuma receber pedidos de indicação de compatriotas que desejam atuar na liga nacional. “Eu consegui ajudar duas atletas. Acho que no quarto ou quinto ano de Foz, indiquei uma menina, pois achei que era o momento dela sair do futebol paraguaio. Daqui, ela foi para Portugal. Eu vejo potencial nas meninas do Paraguai e posso dizer que o melhor mercado está aqui. Gostaria de ajudar muito mais, que mais atletas [paraguaias] viessem jogar no Brasil ou em outros países sul-americanos, mas o futebol mais forte [do continente] é o brasileiro”, destacou.
Tradição em campo
O São José, clube da zagueira, é uma das equipes mais tradicionais do futebol feminino no país. Duas vezes vice-campeãs brasileiras (2013 e 2015), as Meninas da Águia ganharam duas vezes a extinta Copa do Brasil (2012 e 2013) e são tricampeãs da Libertadores (2011, 2013 e 2014), dividindo o posto de maior vencedor do torneio com o Corinthians. Além disso, em 2014, as paulistas venceram a Copa do Mundo de Clubes, realizada no Japão e que, apesar de não ter o reconhecimento da Federação Internacional de Futebol (Fifa), foi tratada à ocasião como um Mundial.
No ano passado, as joseenses escaparam do rebaixamento à Série A2 na última rodada, ao derrotarem o Napoli por 2 a 0. Para este ano, uma parte do elenco foi mantida e reforçada pela meia Júlia Cipriani e a lateral Poliana, que voltou ao clube após duas temporadas no Corinthians, onde foi bicampeã nacional. A equipe estreia neste sábado, às 15h, contra o Avaí/Kindermann, no estádio Martins Pereira, em São José dos Campos (SP).
“É uma honra vestir a camisa do São José, pela história que [o clube] tem. É uma responsabilidade muito grande. Estamos confiantes no trabalho que temos feito com a comissão técnica. Será um campeonato competitivo, disputado, mas o São José estará na briga”, concluiu Vero.
Ainda no sábado, o atual bicampeão Corinthians inicia a busca pelo quarto título nacional diante do Red Bull Bragantino (que levou o título da Série A2 em 2021), a partir das 14h, no Parque São Jorge, em São Paulo. No mesmo dia, às 16h, o Internacional recebe o Cresspom-DF, estreante na elite, no Sesc Protásio Alves, em Porto Alegre.
No domingo, às 15h, o Real Brasília enfrenta o Santos no estádio Ciro Machado do Espírito Santo (Defelê), na capital federal. No mesmo horário, o Cruzeiro mede forças com o Grêmio no Sesc Alterosas, em Belo Horizonte. Mais tarde, às 18h, o Esmac-PA, outra cara nova na primeira divisão, visita a Ferroviária, duas vezes campeã nacional, na Arena da Fonte Luminosa, em Araraquara (SP). A rodada termina segunda, às 20h, com o duelo entre Flamengo e São Paulo no estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro.
Na primeira fase, as 16 equipes se enfrentam em turno único, com as oito melhores avançando às quartas de final e as quatro piores caindo para a Série A2 de 2023. Os confrontos do mata-mata serão disputados em jogos de ida e volta, com mando de campo do time de campanha mais positiva. As partidas da final estão marcadas para os dias 18 e 29 de setembro.
Edição: Cláudia Soares Rodrigues