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Endrick dispensa ser popstar: ‘Sou uma pessoal normal. Tenho muito a melhorar’

Foto: Cesar Greco
Por Ricardo Magatti

Endrick, 15 anos, está “suave”, “tranquilo”. São as palavras que mais usa para explicar como se sente ao lidar com o sucesso e a fama precoces e as consequências deles, como o assédio de clubes gigantes da Europa, casos de Real Madrid e Barcelona. O garoto do Palmeiras quer se dissociar da imagem de popstar que muitos atribuem a ele. Só pensa em jogar futebol e, embora empilhe taças e recordes na base palmeirense, acredita que pode melhorar seu desempenho.

“Eu sou uma pessoal normal. Tenho que melhorar bastante ainda. Não sou tão rápido, não tenho um chute tão bom. Tenho muito a melhorar. As pessoas podem me achar muito bom, mas eu acho outra coisa”, diz o jovem ao Estadão. “Com 15 anos, para vocês, eu não sou um atleta normal dentro de campo. Mas para mim, eu sou um cara comum”.

Endrick conversou com a reportagem no Museu do Futebol, onde teve recepção de astro para anunciar seu novo patrocinador, a OdontoCompany, rede de clínicas odontológicas que também patrocina a skatista Rayssa Leal. Chegou acompanhado do pai, da mãe e da namorada. Posou para várias fotos, inclusive com fãs, que estavam do lado de fora do local.

O atacante do Palmeiras superou Neymar e se tornou o jogador de futebol mais jovem a fechar um acordo de patrocínio, desconsiderando parcerias com fornecedores de material esportivo Trata-se de um contrato de três anos com gatilhos que aumentam a remuneração do jovem à medida que alcançar as metas estipuladas.

Endrick tem 167 gols em 171 partidas na base do Palmeiras. Joga com atletas até cinco anos mais velho que ele e foi protagonista em várias conquistas, a mais importantes delas a Copinha, em janeiro. Seu talento raro impede que leve uma vida igual a qualquer adolescente de 15 anos. Ele está no primeiro ano do ensino médio, mas em um esquema diferente, adaptado à sua rotina de treinos e jogos. Assiste às aulas online e faz as tarefas em casa.

O atleta diz sentir falta de poder ir ao shopping com tranquilidade. Mas pôde aproveitar as férias na Europa com a família. Acatou a sugestão de Abel Ferreira e foi conhecer a Disney de Paris. Assistiu a PSG x Real Madrid, no Parque dos Príncipes, a convite do time francês e Barcelona x Napoli, no Camp Nou, e se encontrou com Ronaldo Fenômeno e Daniel Alves. “Foi muito importante essa viagem pra mim. Aprendi muito. Vi Benzema, Mbappé, Neymar”, conta.

O jogador afirma não se importar com o interesse de grandes clubes da Europa em seu futebol, ainda que tenham vindo a São Paulo até jornalistas espanhóis para falar com ele. Só pensa, por ora, em assinar seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras, o que ocorrerá em 21 de julho, quando completa 16 anos.

“Só penso no Palmeiras. Não sei quais times vão me querer quando eu puder sair do Palmeiras. Ou então fico no Palmeiras porque é o que eu mais quero, quero virar ídolo”, reforça o jovem, já preparado, na sua avaliação, para atuar entre os profissionais.

“Quando fui treinar no profissional vi os espaços que tem, as diferenças em relação à base. Na base, a gente quer a bola toda hora. No profissional, os atletas não vão tanto em cima da bola. Sabem a hora de atacar. Eu ouço conselhos dos meus amigos que jogam no profissional. Creio que se eu treinar bem, posso me adaptar bem e ter sucesso no profissional”, opina. Ele volta a treinar nesta terça-feira. Deve alternar atividade na base, em Guarulhos, com o grupo principal, na Academia de Futebol.

Ao Palmeiras, gratidão – Endrick está ansioso para assinar seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras. Sempre fala ao pai que conta os dias para que chegue esse dia. Já faz planos de conquistar títulos e virar ídolo no time de Abel Ferreira. “Tenho muita gratidão ao Palmeiras. Se um dia eu sair do Palmeiras, vou querer voltar. É o clube que mais amo”, salienta

É um clube que fez de tudo para me ter. Desbancou o São Paulo e outros clubes para me ter. Fico muito feliz com tudo que aconteceu. Agradeço o Palmeiras e ao João Paulo (Sampaio), que foi outro cara essencial na minha trajetória”, acrescenta, citando o coordenador da base alviverde, um dos responsáveis por garimpar o garoto em Brasília e trazê-lo a São Paulo.

O ENTORNO – Endrick é cercado pelos familiares e por um estafe grande, incluindo o famoso empresário Wagner Ribeiro, que atua como conselheiro da família do atleta. Segundo o agente, foram colocados “itens irreversíveis” no contrato de formação do atleta em 2020 para a sua profissionalização. “Acredito que o Palmeiras não queira negociá-lo já. Ele fica ao menos até julho de 2024. Se ele saísse, seria ruim para todas as partes”, afirma o empresário.

Hoje, ele, o pai, a mãe e o irmão recém-nascido têm uma vida confortável graças ao dom do garoto. Douglas Sousa, o pai, chegou a vender café no terminal rodoviário da Barra Funda e fez parte da equipe de limpeza do Palmeiras nos primeiros anos de seu filho no time. A família, muitas vezes, vivia com a geladeira e a despensa vazias quando moravam em Valparaíso de Goiás, no entorno do Distrito Federal.

“Eu jogava em Brasília para ganhar uma cesta básica, comprar o botijão de gás e pagar as contas. Hoje eu vejo que a nossa vida mudou muito. Eu entro no mercado e sei que meu filho vai poder escolher o que ele quer comprar. Isso é bom. Dá a segurança de que estamos fazendo a coisa certa”, relata Douglas ao Estadão.

Ele vive na cola do filho. Vai aos treinos, jogos e eventos. A mãe, Cintia, ajuda a cuidar da alimentação do garoto, embora ela tenha acompanhamento nutricional. “Minha mãe e meu pai não precisam trabalhar hoje. Meu pai me acompanha em tudo hoje. Ele fica até triste quando não me leva no treino. Agradeço a tudo que meus pais fazem por mim. São coisas inexplicáveis. Agora posso estar com eles, felizes, comendo e comprando o que querem”, celebra o jogador.

MATURIDADE – Não são só os atributos técnicos que impressionam em campo. A força mental e a maturidade do jovem são proporcionais ao seu talento. O pai diz que se surpreende com a postura do filho diante da nova vida de estrela que leva.

“O Endrick parece que está mais preparado do que eu e minha mulher. Tem a cabeça muito boa, é um garoto muito tranquilo. Gosta de jogar videogame dele, de curtir o irmão, ficar com a família e a namorada. Sabe levar da melhor forma possível”, observa. “Ele surpreende a gente a cada dia que passa. É um menino maduro, consciente. As declarações que ele dá não somos nós que orientamos. Ele responde às perguntas da maneira que acha ser melhor”.

Quem convive com ele entende que a conduta do garoto é resultado da educação da família e da própria personalidade do jovem. “As pessoas acham que ele tem mais idade pelo porte físico e também pelo comportamento. Ele não se deslumbrou com nada”, ressalta Douglas.

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