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PESQUISA USP RIBEIRÃO – Recuperação de crianças usuárias de drogas está atrelada ao ambiente

DEVANIR AMANCIO/FLICKR

O ambiente, a rotina, o cuidado próximo e afetivo e a qualificação dos profissionais são fundamentais para um atendimento eficaz de jovens em situação de vulnerabilida­de social e necessidades de­correntes do uso de drogas. Esses são os indicativos nos resultados de pesquisa realiza­da durante o mestrado de Júlia Corrêa Gomes, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, orientada pela profes­sora Clarissa Mendonça Cor­radi-Webster. Esses resultados “oferecem contribuições para a compreensão de aspectos im­portantes dos serviços de aco­lhimento de crianças e adoles­centes usuários de drogas, que precisam ser considerados na construção de políticas e servi­ços de atenção a esses jovens”, avaliam as pesquisadoras.

A pesquisa ‘Cuidado Ins­titucional a Crianças e Ado­lescentes Usuários de Drogas’ analisou a forma como uma unidade de acolhimento infan­to-juvenil presta serviços em Ribeirão Preto. A conclusão do trabalho mostra que esse tipo de serviço deve estar aten­to às necessidades básicas dos jovens, construir uma rotina flexível e estabelecer regras e limites aos adolescentes. Mas, permeando todo o relaciona­mento de cuidados, verifica­ram que os “vínculos afetivos se mostraram fundamentais”.

Coordenadora do Labora­tório de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e So­ciedade (LePsis) da USP, Cla­rissa conta que os membros do LePsis já haviam notado um crescimento de internações de adolescentes em clínicas para tratamentos de uso de drogas, com posterior relato sobre as más condições desses locais. Entre as principais queixas ou­vidas pelo pessoal do LePsis, estavam desrespeitos, agres­sões, violações, além da falta de uma proposta terapêutica dirigida a essa faixa etária. Se­gundo Clarissa, os adolescen­tes dizem que ficam isolados “em um lugar longe da comu­nidade por muitos meses”.

Sobre a escolha da uni­dade de acolhimento infan­to-juvenil no município de Ribeirão Preto, a professora diz que apresentavam “uma proposta muito interessante e alternativa de cuidado para esses jovens”, que não eram isolados em locais distantes. Os pesquisadores queriam conhecer as características desse serviço que, segundo os profissionais da rede de aten­ção do município, era defi­nido como de um “cuidado diferenciado e interessante para essa população”.

O que chamou a atenção da equipe, diz Clarissa, foi a maneira como construíram uma rotina flexível com regras acordadas junto aos adoles­centes, que dá ênfase ao esta­belecimento de regras “sem autoritarismo, em uma relação horizontal de cuidado”. Para a professora, o ideal nesses am­bientes é conversar com os jo­vens sobre as regras, negociar e ter flexibilidade para que compreendam os motivos de serem estabelecidas.

Cuidado profissional e empático
É preciso um olhar pro­fissional e empático, uma vez que, no contexto do uso de drogas, há o “afunilamento da identidade e o adolescente acaba sendo visto e descri­to sempre como um usuário de drogas e apenas isso”, diz Clarissa. Os adolescentes que chegam aos serviços de acolhimento, geralmente, pos­suem “histórias de muito so­frimento social” e são vistos de formas estigmatizadas e pre­conceituosas, o que “traz con­sequências muito ruins para a construção da identidade”. Diante disso, a professora ob­serva que o cuidado próximo e afetivo dos profissionais é fun­damental para desenvolver o vínculo e a confiança entre eles e os adolescentes.

Para os jovens, que vêm de situações de grande vulnera­bilidade social, sem vivências de relacionamentos e confian­ça mútuos para a criação de vínculos, o processo é “lento e custoso”. Ao acolher e ofe­recer cuidados físicos e apoio emocional, conta Clarissa, “as instituições permitem que o adolescente encontre o outro, sinta-se visto em suas necessi­dades”, levando-os a desenvol­verem segurança, confiança e autoestima, considerados “ne­cessários ao convívio social”.

Formas de atendimento es­pecíficas para essa população também são importantes, lem­bra a professora, para que haja a ampliação de “possibilidades de expressão dos adolescentes” e para que se enxerguem sob outras perspectivas na vida. Nesse sentido, os profissionais “têm a função de enxergar ou­tras facetas do adolescente”, como observado na unidade estudada, onde se empregam técnicas para o treino de ha­bilidades sociais e atividades para o manejo de agressivida­de e resolução de conflitos.

A qualificação profissional e o fortalecimento da articu­lação da rede de atenção ofer­tada aos adolescentes também são essenciais. Isso porque “a provisão afetiva, no contexto institucional, acaba sendo um trabalho protetivo temporário” e outros serviços devem conti­nuar prestando cuidados.

O estudo faz parte do mestrado da aluna Júlia Cor­rêa Gomes, que realizou en­trevistas com os profissionais da unidade, além de uma “imersão de campo impor­tante”, considera a orientado­ra. (Por Brenda Marchiori/ Jornal da USP)

DEVANIR AMANCIO / FLICKR

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