Tribuna Ribeirão
Saúde

Anvisa libera terapia que ‘ataca’ o câncer

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Agência Nacional de Vi­gilância Sanitária (Anvisa) apro­vou pela primeira vez um tipo de terapia com células genetica­mente modificadas considerada promissora no combate ao cân­cer. O tratamento usa células de defesa do próprio corpo, mo­dificadas em laboratório, para atacar linfomas e leucemia. Aplicada há cinco anos nos Estados Unidos, a terapia tem bons resultados e abre portas para tratamentos no Brasil.

Pesquisas ainda em cur­so em todo o mundo buscam identificar benefícios da técni­ca para outros tumores, além do câncer com origem no san­gue, como a leucemia. Espe­cialistas calculam que, no Bra­sil, cerca de dois mil pacientes, nos serviços públicos ou priva­dos, podem ser beneficiados com esse tratamento por ano.

Chamada de CAR-T, a te­rapia consiste em alterar gene­ticamente as células T, de defe­sa do paciente, em laboratório. Com a alteração, elas são “trei­nadas” a matar as células do câncer. O tratamento é eficaz em pacientes que já passaram por outras intervenções, como quimioterapia e transplante, mas não tiveram melhora.

Segundo Jayr Schmidt Fi­lho, diretor do departamento de hematologia, hemoterapia e terapia celular do A.C. Camar­go Cancer Center, esse tipo de tratamento envolve uma série de conceitos inovadores no combate à doença.”Trabalha­-se com uma forma de terapia celular, pelo fato de ter células atuando contra a doença; com terapia gênica, ao fazer essa modificação genética; e me­dicina personalizada, porque cada modificação que se faz é para o paciente unicamente”, explica o hematologista.

Além disso, é uma imuno­terapia, uma vez que há ativa­ção do sistema imunológico. O tratamento aprovado pela Anvisa é indicado para crian­ças e jovens até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B, que não melhoram com outras inter­venções ou que já tiveram duas recidivas (recaídas). Também é indicado para adultos com lin­foma difuso de grandes células B nas mesmas condições.

“É um marco bastante im­portante e deve ser comemo­rado. Isso significa que o Brasil está entrando na era do trata­mento da célula geneticamente modificada”, diz Renato Luiz Guerino Cunha, professor da Divisão de Hematologia, He­moterapia e Terapia Celular do Departamento de Imagens Médica, Hematologia e On­cologia Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

O produto que recebeu o aval é o Kymriah, desenvolvi­do pela Novartis, a primeira a conseguir o registro nos Esta­dos Unidos, em 2017. Aqui, o tratamento funcionará assim: as células T do paciente serão coletadas no serviço de saúde e exportadas para modificação nos EUA. Depois, retornam para ser infundidas (injetadas) nos pacientes em hospitais.

Custo
Um dos gargalos será o custo. O tratamento ainda não foi precificado no Brasil, mas, se seguir parâmetros seme­lhantes aos dos Estados Uni­dos, pode custar mais de R$ 1 milhão. “É notícia muito boa a Anvisa ter liberado”, diz Van­derson Rocha, professor titular de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Universidade de São Paulo.

“O problema é o acesso.” É possível que pacientes tenham de recorrer à Justiça para conse­guir custeio pelo plano. E não há previsão de quando a tecnolo­gia ficará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas Ro­cha estima que isso pode levar dez anos. Uma solução contra essas barreiras é o desenvolvi­mento da técnica no Brasil – foco das pesquisas na USP.

Países como a Espanha, diz Rocha, já produzem as células modificadas em centros liga­dos à universidade. No Brasil, há a expectativa de que, no fu­turo, isso possa ser feito no Ins­tituto Butantan, em São Paulo. Em 2019, um paciente de 62 anos com linfoma foi subme­tido em caráter experimental à terapia CAR-T desenvolvida pela USP de Ribeirão Preto. Foi o primeiro da América La­tina a passar pelo tratamento.

Menos de 20 dias depois, apresentou remissão da doen­ça. O desfecho do caso, porém, não pôde ser acompanhado porque o homem morreu em um acidente doméstico. Segun­do Rocha, outros quatro pa­cientes já receberam a infusão com células modificadas – os resultados com esse grupo ain­da não foram divulgados. Até agora, brasileiros tratados com a terapia CAR -T conseguiram acesso ao tratamento fora do País pela via judicial ou porque foram incluídos em protocolos de pesquisa no exterior.

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