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Petrópolis, a festa macabra do nonsense nacional

A tragédia de Petrópolis, de novo, que poderia ser evitada. No momento em que escrevo este texto, o número oficial de mortos na recente tragédia provocada pelo deslizamento de barreiras na cidade de Petrópolis, passava de 170 mortos e ainda existiam mais de 100 pessoas desaparecidas. As cenas medonhas, que as novas tecnologias midiáticas nos permitem assistir praticamente em tempo real, mostraram os desliza­mentos de terra e a enxurrada de lama varrendo e enterrando dezenas de casas, carros e pessoas. É a Natureza nos mostran­do a cara, em sua forma mais assustadora, violenta e mortal.

Não é a primeira vez que o município fluminense é flagelado dessa maneira pela mãe de todas as coisas universais. Em 2011, mais de 900 pessoas morreram na cidade em uma situação semelhante. Toda vez que isso acontece, políticos e autoridades prometem soluções inócuas, que vão desde sistemas de alerta à relocação dos habitantes para áreas mais seguras. Mas sabemos, desde outros carnavais e outras águas rolantes, que decretos, discursos e que fazeres, ditos por burocratas e políticos, são mais vazios que bolso de pobre em tempo de inflação alta.

Solução há, mas não pode ser limitada apenas a um município, tem que ser realizada com uma política pública de Estado destinada á prevenção desse tipo de acidente em todo o Brasil, incluindo as áreas habitacional, de saneamen­to urbano, de defesa civil e de economia popular. Porém, vivemos num país que reserva quase 5 bilhões de reais para uma campanha eleitoral e esconde um “orçamento secreto” que pode chegar a 30 bilhões de reais, tudo isso destinado ao manuseio inescrupuloso de partidos políticos, aliados ou não, ao desgoverno federal.

Na cotação do dólar de hoje, seria alguma coisa com 7 bilhões de dólares para fazer uma campanha eleitoral e enfiar o restante sabe-se lá onde. É a festa macabra da comemoração do nonsense nacional.

A Natureza não se move por paixões ou razões. O que a movimenta são as forças químicas e físicas naturais. Como diz o ditado popular: “água de morro abaixo e fogo de morro acima, nem Deus segura”. Melhor tomar providências para não ficar no caminho dela.

P.S. O maior de todos, Maestro Tom Jobim, teve a inspi­ração, segundo ele próprio contava, para compor “Águas de março”, ao ver um dia, a enchente que descia pelo Rio Preto, nos fundos do sítio em que passava as férias, distante cerca de 40 minutos de Petrópolis. Infelizmente, a enchente de 2011 arrastou o sítio onde o maestro compôs vários clássicos da nossa MPB, conforme o que foi publicado no jornal “O Esta­do de São Paulo”, em 15 de janeiro de 2011:
“À beira do Rio Preto, no sítio Poço Fundo, onde passa­va férias sozinho, Tom Jobim fazia tudo virar música. Era a lama, o sapo, a rã, o caco de vidro, a luz da manhã e até um carro enguiçado do amigo João Gilberto, que visitava a toca do maestro em busca de arranjos para suas canções. Águas de Março foi o que de mais impressionante Jobim anotou ali na casinha, depois de uma temporada de verão com muita água caindo do céu na tranquila São José do Vale Rio Preto, a 40 minutos de Petrópolis, Rio.

Desde as 8 horas da manhã de quarta-feira, a casa em que Jobim criou também Dindi e Matita Perê, segundo seu filho Paulo Jobim, não existe mais. O teto desabou, as paredes ru­íram, muitas árvores se foram. O refúgio de Jobim desapare­ceu em duas horas. Ali perto, no mesmo sítio, estava seu neto Daniel com a família. Ninguém ficou ferido”.

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