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No Pinguim com Rolando Boldrin

Estava à toa na vida, meu telefone tocou, era o Sócrates me pedindo pra ir urgente para o Pinguim 1, o original, hoje uma loja de calçados. Disse mais: “Buenão, eu tôte dando um toque, mas tem alguém aqui que quer te intimar” e passou seu celular para alguém que foi logo dizendo: “Buenão, não venha sem seu violão”. Não reconheci a voz e perguntei quem era e ele fechou: Rolando Boldrin. E caiu na risada… Eu, surpreso, me lembro de ter dito “já tôindo”.

Sabia que Sócrates ia entrevistar o nosso amado Rolando Bol­drin para seu programa Papo com o Doutor, só não sabia que seria no Pinguim. Cheguei com meu violão, minha cadeira ao lado da do Boldrin estava reservada, de cara desceram uma rodada de chope e a coisa fluiu. Dentro de mim sentia explodir enorme satisfação por estar vivendo aquele momento, tocando e cantando músicas que compus com Sócrates para outro ídolo meu.

Rolando falava sem parar, era um causo atrás do outro, o tempo passava e a gente lá. De repente, ele perguntou a Sócrates se ele tinha algum causo interessante pra contar no programa dele. Magrão falou que tinha muitos, mas não se lembrava, depois disse: “Buenão, conte pro Boldrin aquela do Gersinho na funerária, é causo bom pra TV”.

“Conta aí, Buenão”, disse Boldrin e eu mandei ver. Gersinho era meu percussionista, certa noite ele me disse: “Buenão, to trampando de dia na funerária da Vila Tibério”. Perguntei o que ele fazia. “Olha, eu arrumo defunto no caixão, dou aquele talento pro morto parecer que tá vivo, flor, sedas finas e coisa e tal”.

Boldrin só ligado no causo. Algumas noites depois, perguntei ao Gersinho: “E aí, parceiro, e seus defuntos, como estão?” Ele respon­deu: “Buenão, vazei de lá!!!” Surpreso, perguntei, por quê? Ele disse que tinha morrido uma velhinha magrinha, já fazia algum tempo; “Seus braços estavam abertos e enrijecidos e eu tinha que amarrá-los cruzados no peito, como se faz com defuntos.
Com muito custo consegui amarrar um braço, virei pra pegar uma cordinha para amarrar o outro braço, e o que eu tinha acabado de amarrar se soltou e bateu nas minhas costas com muita força”.

“Buenão, levei o maior sustão!!! Larguei a velhinha no caixão e me mandei, não voltei nem pra receber meu pagamento”. Boldrin gostou do causo, disse que ia dar nele uma floreada e pediu para seu assessor lembrá-lo de contar na TV. A tarde invadiu a noite e a gente lá, nem sei quem pagou a conta, e dá-lhe causos.

De repente, Boldrin falou: “Sócrates, vendo o violão do Bue­não, lembrei-me do causo do Tião Larápio”. Como sempre, ele coloca na jogada uma cidadezinha, onde todos se conhecem, e lá tudo que era roubado logo acusavam o Tião Larápio. E Rolando prosseguiu: “Um belo dia roubaram o violão do ‘cantadô’ da ci­dade, a notícia se espalhou e todos diziam ‘foi o Tião, foi o Tião’, só que ninguém viu, mas Tião tava na mira de todo mundo. O delegado intimou na delegacia o Tião Larápio e três testemu­nhas. Tião negava copiosamente ser ele o lalau do pinho.

O delegado perguntou pra primeira testemunha: ‘Você viu o Tião roubando?’ O caboclo disse: ‘Não vi não, seu dotô, mas pode prender que foi ele’. Veio a segunda testemunha, que falou a mes­ma coisa. A terceira disse: ‘Seu dotô, eu não vi, mas não tem outro ladrão na cidade a não ser o Tião, pode colocar ele no xilindró’.

Tião ali, calado, o delegado coçava a cabeça pensando em qual decisão tomar, até que deu um tapa na mesa e disse: ‘Vocês três estão acusando o Tião. Mas ninguém viu ele roubando e ninguém sabe onde está o violão do ‘cantadô’… Sendo assim, o delegado olhou pro Tião e disse: ‘Tião, eu te absorvo’.

Tião, um sujeito pouco letrado, sem saber o significado da palavra ‘absolvo’, e com a maior cara de pau, perguntou pro delegado: ‘Seu dotô, o senhor falou absorvo, absorvo… Isso quer dizer que eu tenho que ‘devorve’ o violão do ‘homi’?”

Sexta conto mais.

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