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A benção de Vinicius de Moraes
Anos passados, quando o Rádio empolgava as multidões, em uma cidade, havia uma emissora que era muito importante. Possuía um cast (conjunto de artistas) muito aplaudido e as suas instalações eram de primeira qualidade. Até um auditório estava instalado junto ao complexo de transmissão. Dentre os funcionários havia muitos jovens que estavam aprendendo a sonoplastia e os segredos da mesa de som. Ainda estavam em formação, com todas as virtudes e defeitos da passagem da juventude para a maioridade.

Estouvado
Dentre os aprendizes havia um loiro, rosto pintadinho de sar­das, que despontava dentre os demais pela sua agilidade em trabalhar, mas também afoiteza no trato com os demais. Tal “pintadinho” descobriu que a esposa do gerente tomava ba­nho sempre às 17 horas, quando não havia programação em que se exigisse dedicação dos técnicos de som. Eles preci­savam ficar na mesa dos controles técnicos, para seguirem a programação musical, sem outros lances dos programas ao vivo e também para levar ao ar as propagandas gravadas. Chegava na hora do banho da bonita mulher do gerente, ele colocava uma música da Bossa Nova, ‘A Benção’, de Vinicius de Moraes, que tinha a duração de 12 minutos e era uma das mais longas da seleção musical da época. Colocava o Vinicius e saía de fininho para ver a “Belle de Jour” de sua imaginação. E lá ficava por dez minutos e, quase no final da música, voltava correndo para seu posto.

Surpresaaa
Certo dia, quando ele menos esperava, eis que o gerente foi verificar as razões de todo dia aquela música tocar naquele horário. Viu o mancebo em plena ação, olhando pelo vitrô dos camarins dos artistas para dentro de sua casa com sua mu­lher em pleno banho. Ele deu um grito que assustou o rapaz. O mesmo não se deu por vencido. Saltou para o lado. Pegou um peso que era utilizado para segurar os LPs de vinil nos pratos e começou a gritar que estava sendo perseguido, que iria matar um, etc.
O gerente, moço educado, religioso, afastou-se pedindo que a “entidade que o havia possuído abandonasse aquele corpo”. Quanto mais ele falava, mais o técnico crescia e fazia seu te­atro. Depois se acalmou e disse que as entidades o haviam libertado. O gerente correu para ele, ofereceu-lhe água com açúcar e deixou tudo por conta dos maus espíritos. Ficou ba­rato.

Providências
Depois deste episódio, por via das dúvidas, a esposa do geren­te passou a tomar banho com as janelas fechadas para evitar outras manifestações de entidades não explicitadas. Tempos depois o técnico conseguiu um emprego em São Paulo, capi­tal, e saiu da rádio, pois dizia que ali havia maus fluidos. Os mesmos tinham nomes e endereços.

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