A forte ventania, no condomínio onde moro, abateu gigantesco e cinquentenário pinheiro, de mais de 40 metros de altura, que tombou com estrondo sobre a rede elétrica, destruindo o muro de residência em sua frente. Interrompeu o fornecimento de energia e o trânsito na nossa principal avenida. Movimentou toda a estrutura do condomínio, agentes da empresa de eletricidade, que levaram longo tempo para remover a grande árvore e restabelecer a eletricidade.
Quando o vi, já estava seccionado em vários troncos menores, que mostravam os círculos indicativos de sua idade. Sua folhagem, composta por agulhas longas e verdes, começava a murchar. Sempre me impressionava o assobio destas folhas provocado pelo vento, numa sinfonia natural e comovente, a mesma que Chopin deve ter ouvido, quando compôs seu estudo As Harpas Eólicas.
Junto com a árvore, vieram algumas cactáceas e ninhos de passarinhos, destruindo um mini ecossistema. Pus-me a pensar como um gigante destes, com raízes profundas, vivo e robusto, pôde tombar de repente. Pensei que, um dia, alguém tinha depositado uma pequena semente, que soltou pequeno broto, depois outro e a árvore foi crescendo até se transformar no enorme exemplar.
Várias vezes, encontrei, no chão, cones cheios de suas sementes, as quais, na existência cinquentenária, devem ter propagado a espécie, bem como servido de alimento para pássaros e animais. O pinheiro estava plantado em fileira, bem perto de outros exemplares. Por que só ele caiu? Teria havido um fenômeno da natureza, que abalou as estruturas, desestabilizando o gigante? Ou existia em suas raízes alguma falha, que precipitou a queda? Alguma doença desconhecida, como aquelas que algumas vezes crescem silenciosas e nos pregam desagradável surpresa?
Algumas vezes me pego estranho, a constatar que as árvores são seres vivos como nós, nascem, se desenvolvem, se reproduzem e morrem. Vêm povoando a Terra muito antes de nós homens existirmos. Os vegetais têm a maior quantidade de espécies vivas do planeta, mais de 80% dos seres viventes. São fundamentais para nossa existência, pois, pela fotossíntese, eliminam o gás carbônico da atmosfera, produzindo o oxigênio vital para nós. Além disto, dependemos deles para nossas frutas, verduras e vegetais, injetando em nós a energia do Sol que os banha. E, sem falar da bela sombra nos dias ensolarados.
No nosso dia a dia, não damos às árvores e arbustos a importância que merecem: cortamos seus galhos aleatoriamente, cobrimos suas raízes com nossas calçadas, e muitas vezes simplesmente os eliminamos, para não sujar a nossa casa. Nossas cidades, localizadas num país tropical, não têm a cobertura vegetal mínima necessária.
Precisamos travar a batalha dos ambientalistas, que constantemente pregam a necessidade de plantarmos árvores, espalhá-las pela cidade e dentro de nossas casas. Mesmo quem mora em apartamentos pode colaborar, com um vaso de flores, algum pote de temperos ou ervas medicinais. E louvar e apoiar sempre o trabalho daqueles que plantam pela cidade, como meu querido amigo Gula Biagi.
A morte do grande pinheiro calou em minha alma. Foi-se o companheiro de minhas andanças diárias, embora muitas vezes passasse por ele, sem notá-lo. Ficou a lembrança de seu assobio, quando o vento movimentava suas agulhas, sua sombra e sua majestosa presença.
Explicação: Vários leitores me questionaram o que significa chairman da Santa Emília, no cabeçalho. Chairman é o presidente do Conselho de Administração. No dia a dia empresarial, adotam-se abreviaturas americanas: CEO (presidente), CFO (diretor financeiro), COO (diretor superintendente) e por aí vai. O presidente do Conselho é o único cargo sem abreviatura.