Tribuna Ribeirão
Geral

Pesquisa – Pandemia ‘esgotou’ 51% dos médicos

MARCELO CAMARGO/AG.BR

Mais da metade dos mé­dicos (57%) se queixam de deficiências que dificultam o tratamento dispensado aos pacientes com covid-19, co­locando em risco a própria integridade dos entrevistados. O resultado faz parte de uma pesquisa feita pelas associa­ções Médica Brasileira (AMB) e Paulista de Medicina (APM) com médicos de todo o país.

Entre os entrevistados, 45% responderam que faltam profis­sionais de saúde para atender aos pacientes com covid-19 nas unidades onde trabalham. O resultado é superior aos 32,5% registrados em fevereiro do ano passado. Também hou­ve quem se queixasse da falta de máscaras, luvas, aventais, medicamentos e até de leitos de internação em unidades regulares ou em unidades de terapia intensiva (UTIs).

Mais metade dos médicos (51%) disse que estão esgota­dos ou apreensivos frente ao aumento do número de casos, decorrentes da disseminação da variante Ômicron – cujas subvariantes são mais infeccio­sas, segundo os especialistas.

Falando não só de si, mas também de colegas, a maioria dos entrevistados disse haver, em seu ambiente de trabalho, profissionais com claros sinto­mas de estarem sobrecarregados (64%) e/ou estressados (62%); ansiosos (57%); próximos à exaustão física ou emocional (56%) ou com algum distúrbio relacionado ao sono, como di­ficuldades para dormir (39%).

O levantamento, cujos re­sultados foram divulgados nesta quinta-feira, 3 de feve­reiro, ouviu 3.517 médicos que trabalham tanto em estabeleci­mentos particulares como em unidades públicas de saúde, entre os dias 21 e 31 de janeiro.

Aumento de casos
Entre os profissionais de saúde ouvidos, 96% afirma­ram que o número de casos da doença tinha aumentado em comparação ao último trimes­tre de 2021, mas seis em cada dez (59,5%) deles disseram não observar uma tendência de alta no número de mortes. Há pelo menos seis semanas que o nú­mero de mortes pela doença vem aumentando no país.

O avanço da nova onda da covid-19 por todo o país pode ser constatado na própria pes­quisa das entidades médicas: 87% dos entrevistados rela­taram que eles mesmos, ou colegas de trabalho próximos, receberam diagnóstico positi­vo para a doença nos últimos dois meses. Ainda assim, 81% deles dizem que a ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ainda era me­nor que nos momentos mais críticos de 2021.

Reprovação
A ampla maioria (75%) dos entrevistados destacou como positiva a forma como vem sendo executado o Plano Nacional de Operacionaliza­ção de Vacinação contra a co­vid-19. Apesar disso, 72% dos médicos ouvidos disseram re­provar a atuação do Ministério da Saúde: 34,4% deles conside­ram que a gestão ministerial da crise é péssima; 16,6% a consi­deram ruim e 21%, regular.

Todavia, há 18,9% de pro­fissionais que a julgam boa e 6,3% que a avaliam como óti­ma. A avaliação da postura das secretarias estaduais de Saúde é um pouco melhor: no geral, 52,6% dos médicos entrevistados aprovam a ges­tão dos seus estados.

“Do ponto de vista da es­tratégia, de informações, o mi­nistério deixa muito a desejar. E, certamente, onde a falha é maior, é nas recomendações”, declarou o presidente da As­sociação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes de Amaral. Segundo ele, enquanto 65% dos entrevistados disseram buscar referências para o tratamento de pacientes junto às associações e sociedades médicas, apenas 14,6% responderam consultar os documentos produzidos pelo Ministério da Saúde.

Para o presidente da As­sociação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes, o ministério envia sinais confli­tantes à população, chegando mesmo a colocar em dúvida a segurança das vacinas aprova­das pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e distribuídas pela pasta.

Assim como Fernandes, 68,7% dos médicos que res­ponderam à pesquisa reprova­ram o trabalho de orientação à população sobre a impor­tância da vacinação. Entre os médicos entrevistados, 81% disseram que a maioria dos pa­cientes atendidos nas unidades em que trabalham já tomou ao menos duas doses dos imuni­zantes. Apenas 0,2% dos 3.072 profissionais que responderam a esta pergunta afirmaram ter contato com pessoas que se ne­gam a ser vacinados.

Além disso, 71% disseram acreditar que a maioria dos pais ou responsáveis levará as crianças sob sua responsabi­lidade para tomar a vacina. Contra 12% que acreditam que os adultos não farão isso por diversas razões – quase o mes­mo percentual (13,7%) de en­trevistados que disseram não crer que a divulgação de fake news e/ou de informações sem comprovação científica afete o enfrentamento à pandemia.

Sequelas
A pesquisa mostra ainda que sete em cada dez médicos, ou quase 71% dos entrevis­tados, confirmaram que têm atendido pacientes com seque­las pós-covid, tais como dor de cabeça incessante, fadiga ou dores no corpo (50%); perda do olfato ou do paladar (39%); problemas cardíacos e trom­bose (23%), entre outras.

Além disso, metade dos profissionais disse conhecer quem deixou de buscar aten­dimento para outras doenças devido ao medo de serem in­fectados pelo novo coronaví­rus e, com isso, tiveram seus quadros clínicos agravados. Especialmente pacientes com câncer, diabetes, doenças car­díacas e hipertensão.

Postagens relacionadas

Em crianças, covid-19 pode apresentar sintomas diferentes, diz USP

Redação 1

Aprovação de Bolsonaro sobe para 37% em agosto

Redação 1

UNAERP – Processo seletivo 2020

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com