Vinicius de Moraes, nosso poeta, era uma figura, tinha ciúmes doentio dos amigos. Gostava tanto dos chegados, que de vez em quando, rola no zap um texto com o título “Aos meus amigos”. Para quem ainda não o recebeu, digo que vale a pena uma busca, é simplesmente uma pérola.
Sei tantas histórias do saudoso velho poeta que hoje resolvi rememorar algumas. Que o diga Toquinho, um de seus parceiros. Quando de suas passagens aqui por Ribeirão Preto, ele pedia a Sócrates que organizasse uma pelada um dia antes do show. Lógico que regada a muito chope, churrasco e muita resenha.
Certa vez, na chácara do COC, antes de a bola rolar, estavam batendo bola Toquinho, Sócrates, Mazinho e entre outros meu neto Luiz Bueno, que tinha lá seus 12, 13 anos. Eu, a certa distância, ajudando a organizar aquele regabofe, olhava aquele toque do meu neto para Toquinho e pensava: “Luiz nem imagina com quem está tocando bola”.
Meu neto cantava alguns pedaços de músicas do Toquinho e sequer imaginava que estava batendo bola com o autor de “Tarde em Itapuã”, “O Caderno”, “Regra três” e mais uma infinidade de belas canções. Toquinho, muito gozador, no dia seguinte, no palco do Theatro Pedro II, entre uma canção e outra, comentava sobre a pelada e mesmo perdendo dizia que tinha nos goleado. Na plateia a gente ria muito.
Numa dessas resenhas, Toquinho contou que, certa noite, em uma roda de prosa juntou ele, Tom Jobim, Carlinhos Vergueiro e outros amigos, entre eles Vinicius de Moraes, que num dado momento veio com essa!!! “O negócio é o seguinte, se for verdade que a gente morre e depois reencarna novamente, eu tenho um pedido pra fazer pra Deus!!!”
Todos ficaram esperando o que viria, que pedido seria esse??? E ele fechou: “Olha, vou pedir a ele que me mande de volta com o bilau um pouco maior”. Todo mundo caiu na risada, imaginem o lance.
Vinicius morou por um tempo em Niterói, tinha um vizinho de nome Alfredo que morava só, mas tinha um gato e um papagaio. Um belo dia se suicidou, Vinicius letrou uma música do Toquinho contando essa história que vou gravar voz e violão e passar para amigos do zap junto com essa crônica.
Vamos à broxada do poeta. Toquinho contou num show aqui em Ribeirão Preto. Antonio Maria, jornalista e amigo dos poetas músicos e boêmios, foi parceiro de Tom Jobim, escrevia bem. Uma noite ele saiu com Vinicius, mas no dia seguinte cedinho ia pra Sampa. Passaram a noite na boemia, o dia amanheceu e ele foi direto pro aeroporto. Vinicius o levou.
No avião, a seu lado estava uma bela moça. Ele puxou conversa, a moça o ignorou, Antonio Maria notou que ela segurava nas mãos um livro de poesias de Vinicius de Moraes, ele foi ao ataque e jogou um lero pra cima dela, dizendo: “Vejo que está lendo um livro meu”.
“Mas como? Você é o Vinicius?”, questionou a moça. “Sim, obrigado por ler minha obra”. Ela abriu guarda e o jornalista foi com tudo. Muita conversa, desceram em Sampa de mão dadas combinando um jantar depois dos compromissos. Ele ligou pro Vinicius contando-lhe tudo.
De volta ao Rio de Janeiro, Vinicius curioso, queria saber o finalmente. O jornalista disse que jantaram, tomaram algumas garrafas de vinho e foram para o quarto. Ela foi tirando peça por peça, Vinicius esfregava as mãos, querendo saber se o amigo tinha honrado ser ele e falava: “Conta, conta mais Antonio”. Disse que ela tinha um corpo magistral, uma sensualidade de estrela de cinema.
Ele também peladão, carícias mil, Vinicius impaciente dizia: “Vai, vai, vai, Antonio, conta como me saí nessa”. Antonio, desolado e olhando pro amigo, disse: “Vinicius, na hora H você broxou”. O velho poeta desabou e depois disse: “Pô, parceirinho, você manchou minha reputação, cara!!!”
Sexta conto mais.