O início do ano está mais artístico e cultural para os adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas em cinco centros da Fundação Casa na região de Ribeirão Preto. Eles recebem a visita da Mostra de Repertório Circense realizado pela Cia Raros Circus, de Ribeirão Preto. A ação cultural teve início nesta segunda-feira (10) e o grupo percorre as Casas de Ribeirão Preto, Araraquara, Batatais, Sertãozinho e Taquaritinga com três espetáculos de seu repertório: “Clownfusão, os internacionalmente desconhecidos”, “Reciclown Circus” e “Clownflitos Amorosos”.
Além do entretenimento artístico-cultural, cada apresentação coloca no picadeiro um debate diferente. Em “Clownfusão, os internacionalmente desconhecidos”, a proposta é contar a história do circo clássico tradicional. O mote é a dupla de palhaços que disputam entre si a atenção e os aplausos do público, tornando o espetáculo um verdadeiro alvoroço. Inspirado no universo original do circo, a apresentação reúne malabarismo, equilibrismo, mágica cômica, chicote e acrobacias. “Antigamente, o anúncio da chegada do circo nas pequenas cidades do interior era feito pelo cortejo de palhaços e crianças cantando pelas ruas. E é esse momento ritual que nos chama a uma reflexão cultural sobre o significado da magia do circo, que tem no palhaço seu operador simbólico”, pontua Fábio Brasileiro, coordenador geral da Cia.
A temática ambiental é o foco de “Reciclown Circus”, comédia que une circo e teatro. Questões como ‘o que é o lixo?’ ou ‘como ressignificar e reutilizar os objetos descartados pela sociedade?’ são colocadas em debate na conversa entre um gari e um catador de materiais recicláveis. De maneira divertida e poética, o espetáculo trata da importância de pequenas ações e seus impactos na vida de todos em meio à ótica da sociedade do consumo. O desenrolar da trama conta com malabarismo, mágica, equilibrismo, acrobacias e manipulação de objetos. “A produção de lixo pelos brasileiros, que cresce a cada dia, inspirou esse trabalho, que tem a intenção de despertar, de maneira lúdica, a reflexão sobre separação, reutilização e reciclagem do lixo e sobre o papel de cada um na conscientização e transformação do modo como lidamos com o lixo que produzimos”, conta o palhaço João Marcílio.
Também lançando mão dos recursos do malabarismo, equilibrismo, palhaçaria clássica, mágica, acrobacias em dupla e música, “Clownflitos Amorosos” discute a importância do respeito e da convivência com o outro. Na história, os palhaços Pitiquinho e Menininha têm um desentendimento antes de entrarem em cena e o que se vê no palco é o desenvolvimento dessa relação na busca do restabelecimento da amizade. Questões como diálogo, reconhecimento do valor ao próximo e as dificuldades das relações humanas são colocadas com poesia e comicidade.
Arte é para todos
A Mostra de Repertório Circense da Cia Raros Circus terá 15 apresentações durante os meses de janeiro e fevereiro, três em cada um dos cinco centros da Fundação Casa que receberão o projeto. Nesta primeira experiência de ir até onde o público está, a Raros Circus foca o trabalho na democratização do acesso à arte e à cultura para os adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas em situação de privação de liberdade.
“Eles são parte da sociedade e, como tal, têm direito à arte e cultura. Além disso, há o estímulo a reflexões importantes e que podem despertar nesses jovens novos olhares e sonhos”, destaca Fábio Brasileiro.
Serão duas apresentações por semana em cada centro da Fundação Casa participante, com roda de bate-papo após o espetáculo, debatendo a criação e o fazer artístico.
Também será produzido um mini documentário de todo processo do projeto, com imagens dos treinos, preparação, circulação e depoimentos de internos, dos funcionários e da equipe pedagógica das unidades. “A inclusão cultural da população de internos da Fundação Casa é uma das diretrizes do Plano de Atendimento Socioeducativo do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), de maneira que o impacto social deste projeto é imensurável”, salienta Fábio Brasileiro, lembrando que o relacionamento da Cia com a Fundação é antiga. “Nossas primeiras experiências como artistas circenses foram em apresentações voluntárias nessa instituição”.
De acordo com o secretário da Justiça e presidente da Fundação Casa, Fernando José da Costa, a democratização da arte é uma ação extremamente necessária. “O acesso à Arte e a Cultura caminham juntamente com o processo educacional, pois a ludicidade é uma das muitas ferramentas usadas para transmitir conhecimento, valores e também motivar os jovens a desenvolverem seu pensamento crítico”, conclui.
Sobre a Cia Raros Circus
Fundada em 2016 em Ribeirão Preto por Fábio Brasileiro, João Marcílio e Daniella Brasileiro, a Cia Raros Circus é um grupo circense de repertório, que aposta no trabalho para além dos limites do espaço cênico. As pesquisas que balizam a concepção de cada espetáculo são realizadas em quatro eixos: popular (não apenas como linguagem, mas como meio de produção e difusão cultural), dramaturgia autoral, ocupação de ruas e espaços não convencionais, compartilhamento de saberes e formação de público.
Desde 2017, a Cia Raros Circus realiza apresentações e ações formativas em cidades afastadas dos grandes centros urbanos do Brasil, como o sertão nordestino, além de circulações independentes em cidades do interior paulista em escolas, ruas e praças.
Em 2018 e 2019, o grupo foi premiado com o edital ProAC de número circense e de produção e circulação de espetáculos circenses, respectivamente com “Clownflitos Amorosos” e “Clownfusão, os Internacionalmente desconhecidos”, que permitiu a apresentação online deste espetáculo em 69 unidades da Fundação Casa. Também pelo ProAC, a produção “Reciclown Circus” foi vista virtualmente pelo público das dez cidades que mais sofrem com a poluição no Estado de São Paulo.
A Cia é presença constante em festivais nacionais, sempre voltando para casa com alguma premiação. Alguns deles são o Festival Internacional de Circo (FIC), Festival Paulista de Circo, Festival Arte por Todo Lugar, Festival Circo na Praça e Festival de Janeiro. Oficinas formativas também compõem o cardápio de atuação da Raros Circus.
A companhia conta com as redes sociais: https://www.instagram.com/ciararoscircus e https://www.facebook.com/ciararoscircus.