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Presidente contra a administração

Se o grande estrategista militar Eduardo Pazuello teve sobre si o véu do sigilo, por 100 anos, para ninguém saber da ausência de sua punição por grave falta disciplinar; ainda, se o Exérci­to alterou o status do presidente, de capitão reformado para capitão da reserva, só para que sua filha de 11 anos ingressasse no Colégio Militar de Brasília, sem fazer provas, tem-se agora ato do ministro do Exército que sinaliza o reencontro da institui­ção com os valores distantes do negacionismo presidencial, em relação à vacina, e agora particularmente da vacina das crianças de 5 a 11 anos.

De sua parte, o ministro da Saúde, Marelo Queiroga, na contramão e ainda sem saber adequadamente como fazer agora, aquilo que o governo federal deveria ter feito no início da crise sanitária da covid-19, ou seja, a coordenação nacional das políti­cas públicas, respeitando a competência legal dos governadores e prefeitos, investiu contra a orientação da Anvisa (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), marcando a desnecessária audiência pública, para dizer o óbvio já decidido anterior, legal e cientificamente.

Nesse entremeio, o Ministro do Exército, general Paulo Ser­gio Nogueira de Oliveira, editou ato que estabelece 52 diretrizes sobre a eventual contaminação dos militares, com providências de cautela e cuidado. Esse simples ato pode e deve ser compreen­dido como duríssima posição contra o negacionismo presidencial. “O item 22 das diretrizes propõe avaliar o retorno às atividades presenciais dos militares e dos servidores, desde que respeitado o período de 15 dias após imunização contra a covid-19”.

Seguramente, esse ato ministerial sobre tal ameaça invisível, escolheu a responsabilidade pessoal, social e cívica, colocando-se frente a frente com a irresponsabilidade negacionista presiden­cial, coerente e criminosa, que desde sempre primou por atrasar providências, ir contra o uso da máscara e afrontar o isolamento, desacreditando a ciência, e ainda continuar desrespeitando a morte de mais de seiscentos mil brasileiros.

Ato administrativo que sacode a irresponsabilidade, com sinalizações de controvérsia que atinge em cheio a política oficial do presidente, nessa emergência duradoura da crise sanitária, que não se sabe quando terminará, mas se sabe que a vacinação generalizada é a única maneira provável de diminuição na trans­missibilidade do vírus, ou da sua letalidade, e mesmo assim sem garantia de que possa não ocorrer transmissão e morte.

Outra fala presidencial foi a que colocou dúvida na lisura da atuação da Anvisa, dizendo não saber “o que estava por trás da decisão que recomendou a vacinação de crianças”. Esse desatino de colocar em dúvida a instituição oficial, que orienta o sistema vacinal do Brasil, mereceu resposta e cobrança do Presidente do ór­gão, Antonio Barra Torres que é contra-almirante da Marinha, cuja presença tem honrado a melhor tradição militar, dizendo: “Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não dimi­nuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”.

Afinal, era desnecessária a audiência pública do Ministério da Saúde para decidir sobre a vacinação das crianças, pois, fora instituído, muito antes, um órgão administrativo denominado Câmara, integrada por representantes da sociedade civil, cujo dever é o de agilizar, quando possível e necessária, qualquer providência, como era o caso.

A responsabilidade é inimiga letal da estupidez.

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