Essa foi a bela conclusão de um artigo escrito recentemente por Leonardo Attuch, jornalista e editor-responsável pelo 247. Para muita gente, uma possível aliança entre o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin criou a falsa percepção de que um provável governo Lula 3 seria um período de conciliação e confraternização nacional. O bode do fascismo seria retirado da sala, mantendo-se todas as políticas neoliberais implantadas após o golpe de 2016 e que fracassaram de maneira retumbante.
Mas por onde isso começou? Lula elogiou a revogação pelo governo espanhol de uma reforma trabalhista também fracassada por lá. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, ainda festejou a decisão do governo Fernández, na Argentina, de reverter privatizações igualmente fracassadas. Imediatamente, a plutocracia brasileira começou a se movimentar. A direita neoliberal, provisoriamente rompida com Bolsonaro, não aceita, de maneira alguma, a proposta de desenvolvimento com distribuição de renda.
Lula disse somente que os brasileiros deveriam olhar para a Espanha, sinalizando que é possível travar uma discussão madura sobre políticas públicas que não trouxeram os resultados prometidos. Mas isso provocou um verdadeiro escândalo. Temos de ficar atentos para não nos confundirem como alhos e bugalhos. A temporada de ampla reação ao bolsonarismo não pode nos iludir com uma pretensa confiança nos antifascistas de última hora. O apoio dessa gente a Bolsonaro em 2018 entrou para a história e pode se repetir!
Os neoliberais escalaram um de seus principais representantes, o deputado federal Rodrigo Maia, para manobrar o diapasão. Maia, é bom lembrar, está agora encastelado junto a Doria. Faz todo sentido, pois “foi ele quem cuidou de praticamente toda a agenda legislativa após o golpe de estado, aprovando medidas que tornaram o Brasil e os brasileiros mais pobres. Basta citar a emenda do teto de gastos, a entrega do pré-sal e a retirada de direitos previdenciários e trabalhistas”, como bem lembrou Leonardo Attuch, em seu artigo.
Outro setor que entrou em polvorosa foi o mundo financeiro só porque Lula escolheu o ex-ministro Guido Mantega para escrever um artigo com o seu diagnóstico sobre a crise econômica brasileira. A média de crescimento da economia nacional durante a era Mantega, de 4,5% ao ano, foi a maior da história recente, acompanhada de controle inflacionário, acumulação de reservas internacionais e até mesmo do pagamento de toda a dívida brasileira ao FMI. Mas “para a Faria Lima, Mantega é o lobo mau”, como ironizou ainda Leonardo Attuch.
“Depois da reforma trabalhista de Temer, o ‘boom’ de empregos prometido não se concretizou. Na época, o governo chegou a falar em dois milhões de vagas em dois anos, e seis milhões em dez anos. Dados do IBGE mostram que o desemprego hoje está maior. No trimestre terminado em julho de 2021, a taxa de desocupação ficou em 13,7%. Esse número é quase dois pontos percentuais superior aos 11,8% registrados no último trimestre de 2017. No período, o total de desempregados subiu de 12,3 milhões para 14,1 milhões”, escreveu o jornalista Isaac Oliveira. Mas continuam culpando a pandemia.
Por tudo isso, toda a atenção é pouca para as movimentações políticas dos últimos dias. É importante trazer setores do centro para junto de Lula. Mesmo os que tenham se iludido com Bolsonaro, mas que agora se coloquem em uma posição claramente antifascista. Mas é urgente e necessário que se inicie uma discussão programática para se descontruir qualquer ilusão com os argumentos dos que defendem a agenda regressiva implantada após o golpe de 2016. Digo isso porque, como apontei, os golpistas de 2016 poderão fechar de novo com Bolsonaro e, concordando com Attuch, a volta de Lula não será um passeio.