O salário recebido pelo trabalhador com carteira assinada no setor privado perdeu feio para a inflação em 2021, um movimento que deve continuar neste ano, diante do elevado desemprego e da perspectiva de baixo crescimento da economia brasileira.
Entre janeiro e novembro passado, o reajuste médio obtido pelos trabalhadores por meio de negociações coletivas foi de 6,5%, segundo o “Salariômetro” da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que acompanha os resultados reunidos pelo Ministério da Economia.
Esse reajuste foi insuficiente para cobrir a inflação média acumulada em doze meses que, no mesmo período, atingiu 8,4%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). No ano passado, 51% das negociações salariais fechadas até novembro ficaram aquém da inflação.
Outras 30% empataram e 19% superaram o custo de vida. “Foi um ano muito ruim”, afirma o professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do “Salariômetro”, Hélio Zylberstjan.
O economista explica que o reajuste abaixo da inflação é resultado de uma combinação de inflação alta com recessão. “Quando existe uma desocupação muito grande, os sindicatos não têm poder de barganha nas negociações, é o pior cenário para os trabalhadores.”
Um levantamento realizado pelo Instituto de Economia Maurílio Biagi (Iemb), da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, aponta que a cidade tinha 230.967 trabalhadores com carteira assinada no ano passado.
Segundo a Acirp, o número de empregados formais do comércio aumentou 2,98%, de 61.296 em 2020 para 63.125 no ano passado, em Ribeirão Preto. O salário médio passou de R$ 2.495,16 para R$ 2.607,94, reajuste de 4,52%. No setor de serviços, a quantidade de trabalhadores com carteira assinada saltou de 122.685 para 128.507, aumento de 4,75%.
O salário médio subiu de R$ 3.360,88 para R$ 3.512,79, reajuste de 4,52%. Na indústria, o número de empregados saltou de 23.019 para 24.411, aumento de 6,05%, e o salário médio avançou de R$ 3.002,47 para R$ 3.138,18, reajuste de 4,52%. Na área da construção civil, passou de 12.281 para 13.980, aumento de 13,83%.
O salário médio subiu de R$ 2.512,48 para R$ 2.626,04, correção de 4,52%. Por fim, a agropecuária empregava 929 trabalhadores em 2020 e no ano passado passou para 944, aumento de 1,61%. O vencimento mensal médio passou de R$ 3.919.28 para R$ 4.096,83, reajuste de 4,52%.
Brasil
Afetado pela paralisação provocada pela pandemia, as negociações no setor de serviços, com destaque para turismo e hospitalidade, são as que encontraram maiores dificuldades no ano passado para repor as perdas provocadas pela inflação. De 18 negociações salariais fechadas em novembro envolvendo bares, restaurantes, hotéis, similares e diversão e turismo, o reajuste mediano ficou 3,7% abaixo da inflação.
No caso de lavanderias e tinturarias, por exemplo, essa defasagem foi ainda maior, de 4,1%. Até mesmo os 14 acordos salariais fechados em novembro último no setor de agricultura, pecuária e serviços correlatos (segmentos que registraram crescimento econômico) tiveram reajuste mediano 0,6% abaixo da inflação.