Os caminhos antigos podem fisicamente desaparecer ou até mudar de nomes por decisões administrativas, mas continuam vivos nas memórias dos homens. A antiga saída de Ribeirão Preto para São Paulo é um grande exemplo.
Naqueles tempos o caminho da cidade para São Paulo começava na atual Avenida Presidente Vargas. O ponto final urbano era o Posto Volta.
A estrada apontava para Gaturamo que, até então, era o nome de batismo de Vila Bonfim ou de Bonfim Paulista, distrito que testemunha a troca constante do seu nome sem nenhuma razão de ser. Depois de Gaturamo o caminho dobrava para a esquerda até alcançar Cravinhos para depois atingir a “Venda de Tábuas”, e lá longe São Paulo da garoa.
Pouco depois do Posto Volta ficava a Chácara das Freiras, sobre a qual foi aberta a atual Avenida Fiuza, cujo nome foi herdado do antigo proprietário da área que residia no Rio de Janeiro.
Numa tarde de dezembro, a molecada ao descer da Chácara das Freiras, após uma partida de futebol realizada no campo do São Cristóvão, ficou surpreendida com bombeiros que atuavam na lagoa ali existente na pedreira onde hoje está a Praça Spadoni. Nadando na água suja, um menino havia ali desaparecido.
Os bombeiros, logo depois, retiraram da poça d’água o corpo do menino morto. Presenciamos o acontecimento no local depois transformado na Praça Spadoni. O buracão era uma trincheira.
A tristeza foi esquecida pela inauguração da Avenida Independência e da Avenida Nove de Julho. Nenhuma das duas existia nos primeiros dias da metade do século XX. Eram ainda caminhos antigos que se transformariam em pontos marcantes para todos nós.
Ali está a confluência do perene trânsito de pessoas e de veículos. Os residentes ali instalados são unânimes em dizer que nunca presenciaram um congestionamento de trânsito no histórico local.
No entanto, a imprensa noticia que a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto ali instalou uma trincheira artificial, cavoucando a área, abrindo um enorme buraco que seria transformado num túnel. Num túnel? Para desafogar o congestionamento até agora nunca existente na confluência? Para despejar uma enorme quantidade de dinheiro público no buraco da trincheira maldita?
A obra, que está exigindo a perda de verba pública, trava o trânsito, instalando um congestionamento nunca documentado. O projeto do túnel entrincheirado instalou um físico congestionamento que proíbe, há mais de ano, o trânsito de pessoas e de veículos. A comunidade perdeu seus pontos de referência!
O fato lembra o resultado do túnel aberto na Rebouças com a Faria Lima em São Paulo que matou de maneira fulminante a convivência de pessoas, instalando até mesmo obstáculos ao trânsito de veículos. Ribeirão Preto pagará o mesmo alto custo dispendido pela Prefeitura de São Paulo? Cometerá o mesmo erro?
Hoje o trânsito atravancado, implantado pela trincheira, preconiza o desastre surdo que está sendo criado nos primeiros metros da antiga estrada que ligava Ribeirão Preto com Gaturamo, panorama da maravilhosa confluência da Nove de Julho com a Independência.
A Municipalidade pagará um alto preço, tal como São Paulo dispensou para furar o túnel da Rebouças com a Faria Lima que desastradamente alterou por completo a convivência da região vizinha? Se a resposta for positiva, em algum dia testemunharemos a inauguração de um buraco entre nossas principais avenidas que revelará um trânsito caótico de veículos e uma convivência diminuída de pessoas, tal como também já se deu com o apertado buraco do nosso Morro do Bosque. A tão brava e leal cidade de São Sebastião de Ribeirão Preto não merece presenciar o entricheiramento de uma das suas mais belas e históricas confluência.