Tribuna Ribeirão
Política

Aprovado Orçamento de 2022 com R$ 4,9 bi para campanhas

MARCELLO CASAL JR-AG.BR.

O Congresso aprovou nes­ta terça-feira (21) o relatório final do Orçamento de 2022, apresentado pelo relator, de­putado Hugo Leal (PSD-RJ), que destina R$ 4,9 bilhões para campanhas eleitorais no ano que vem. Os parlamen­tares também incluíram uma previsão de R$ 1,7 bilhão para reajuste salarial a policiais fe­derais, uma demanda do presi­dente Jair Bolsonaro (PL), em aceno a uma categoria estra­tégica para as eleições. Foram 358 votos a favor e 97 contra na Câmara. No Senado, 51 parla­mentares foram favoráveis ao texto final do relator e 20 con­trários, sem abstenções.

Com críticas ao valor do fundo eleitoral e do montante reservado às emendas do or­çamento secreto, esquema re­velado em maio pelo Estadão, quatro partidos orientaram suas bancadas pela rejeição do Orçamento na Câmara: PCdoB, PSOL, NOVO e Po­demos, do pré-candidato à presidência da República Ser­gio Moro. Os demais orienta­ram voto “sim”. No Senado, Podemos, Rede e Cidadania foram contrários, enquanto PDT, PSDB e PROS libera­ram suas bancadas.

O fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões para 2022 representa o maior volume de dinheiro público despejado em campa­nhas políticas na história. A cifra foi definida após negocia­ções com líderes do Centrão, base do governo Bolsonaro, que resistiram em reduzir mais o valor, inicialmente previsto em R$ 5,1 bilhões pelo relator do Orçamento.

O dinheiro poderá ser usado para pagar, por exem­plo, viagens de candidatos, contratação de cabos eleito­rais e publicidade nas redes. Soma-se a esse valor R$ 1,1 bilhão de outro fundo públi­co, que banca estruturas par­tidárias, mas também abaste­ce candidaturas.

O relator, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), citou o gasto social e o tamanho do orça­mento federal para justificar o aumento do fundo eleitoral e o patamar de emendas do orça­mento secreto em 2022, ano de eleições presidenciais. “É claro que nós entendemos o debate, a discussão e às vezes a polê­mica que ocasiona, por exem­plo, com o fundo eleitoral, que também é ponto porcentual nesse universo de trilhões que estamos discutindo. Tudo isso é passível de debate, mas não podemos perder de vista o que temos para o futuro, o que es­tamos construindo para o País nesse momento”, disse Leal.

Em relação ao orçamen­to secreto, esquema pelo qual Bolsonaro distribuiu bilhões de reais nos últimos dois anos a um grupo de parlamentares em troca de apoio em vota­ções de interesse do Palácio do Planalto, o valor de R$ 16,5 bi­lhões é praticamente o mesmo deste ano, de R$ 16,9 bilhões. Com isso, os recursos conti­nuarão a ser repassados a re­dutos políticos de deputados e senadores alinhados ao gover­no, sem critérios claros e com pouca transparência.

Mais cedo, após a aprova­ção de seu relatório na Co­missão Mista de Orçamento (CMO), Leal prometeu em­penho para dar transparên­cia a essas indicações, mas ponderou que o debate pre­cisa ser feito sobre todo o Orçamento, e não apenas nas emendas carimbadas como RP-9. “Quanto mais poder, melhor age quem comparti­lha, quem discute. Pode errar, mas erra de forma comparti­lhada”, disse o relator, ao fazer referência a essas emendas.

Policiais
Parlamentares também fize­ram um acordo para direcionar R$ 1,7 bilhão do Orçamen­to para o reajuste salarial de policiais federais em 2022. O aumento havia sido prometi­do por Bolsonaro, em aceno a uma categoria estratégica para as eleições de 2022. O plano prevê uma reestrutu­ração de carreiras da Polícia Federal (PF), da Polícia Ro­doviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). O valor é quase todo o pedido feito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em nome do presidente Jair Bolsonaro.

Os salários de um delega­do de polícia federal e de um perito criminal federal variam de R$ 23.692,74 a R$ 30.936, 91 por mês, de acordo com o Painel Estatístico de Pessoal do governo. Um policial rodo­viário federal ganha entre R$ 9.899,88 e R$ 16.552,34. O sa­lário de um agente de execução penal, por sua vez, varia de R$ 5.922,63 a R$ 10.357,30.

Bolsonaro chegou a pro­meter reajuste para todos os servidores em 2022, ano em que disputa a reeleição. “Rea­juste seria de 3%, 4%, 5%, 2%, que seja de 1%”, disse o presi­dente, em entrevista à Gazeta do Povo no dia 8 deste mês. “Servidor, em grande parte, merece isso”, completou. No fim, incluiu apenas aumento salarial para carreiras policiais.

A decisão de privilegiar os policiais abriu uma crise na elite do funcionalismo. Nesta terça-feira, auditores da Receita entregaram seus cargos, em protesto. O ato é uma forma de protesto con­tra novo corte orçamentário para os sistemas da Receita e o descumprimento do acordo firmado com a categoria, que previa a regulamentação de uma lei vigente desde 2017, que trata do bônus de eficiên­cia para os servidores.

Segundo o presidente do Sindifisco, Kleber Cabral, o corte nas verbas da Receita foi de cerca de R$ 1,2 bilhão. Eles reclamam que a tesourada será usada para custear o reajuste dos policiais.

Investimentos
O Orçamento de 2022 terá o menor patamar de investi­mentos públicos federais da história, com R$ 44 bilhões. Os ministérios da Defesa, estratégi­co para o governo de Bolsonaro, e do Desenvolvimento Regio­nal, agraciado pelas emendas do orçamento secreto, serão as áreas mais privilegiadas. O montante supera até mesmo os investimentos em saúde, edu­cação e infraestrutura. Na in­fraestrutura o orçamento, será R$ 6,7 bilhões, valor menor do que todos os anos anteriores.

Só para compra de aero­naves e caças da Força Área Brasileira, por exemplo, está reservado R$ 1,2 bilhão, valor maior do que todo o montan­te previsto para ser gasto em saneamento básico (R$ 1 bi­lhão) ou a receita total para in­vestimentos do Ministério da Ciência e Tecnologia (R$ 756 milhões) no próximo ano.

Recursos destinados ao combate à pandemia de co­vid-19 também terão queda de Orçamento, apesar das incer­tezas sobre novas variantes e necessidade de rodadas extras de vacinação. Parlamentares ligados à saúde chegaram a pe­dir R$ 5 bilhões a mais para a compra de imunizantes no ano que vem, mas o valor não foi incluído no relatório final.

Postagens relacionadas

Em carta a jornal inglês, intelectuais defendem candidatura de Lula

Redação 1

PCdoB move ação contra decreto de posse de arma

Redação 1

Há 30 anos São Bento virava APA

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com