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Circo armado – eleição de Câmara
Em tempos idos, um jovem candidato foi eleito, na eleição pro­porcional, com seus próprios votos, sem depender do partido. Havia atingido o quociente eleitoral e o ultrapassado. Deveria desta forma, quando do início das atividades, dar posse ao prefeito, vice e depois presidir a eleição do Legislativo.
Jovem, experiente na profissão mas novato na política, pro­curou se cercar de todo arsenal jurídico para não errar. Leu à exaustão o Regimento Interno da Câmara e outros documen­tos. No dia da posse, todos paramentados de ternos e grava­tas com familiares de fatiota nova, ele chega à Câmara que era instalada na esquina das ruas Barão do Amazonas e Duque de Caxias. Banda da Polícia Militar, prédio enfeitado e todas as autoridades civis, militares e eclesiásticas. Ele se postou na Mesa do Plenário e logo foi acercado pelo ex-presidente que iria deixar suas funções, mas era muito manipulador. Ele disse sem meias palavras: -“Se os dois vereadores do partido X votarem no candidato do prefeito, você saberá em primeira mão, pois os votos chegam abertos em suas mãos. Se isto acontecer, pegue esta folha e rasgue. Neste momento o can­didato que queremos apoiar (que estava em impecável terno branco) vai cair desmaiado e nós chamaremos ambulância, suspendemos a sessão e realinhamos a votação”.

Tentação
O jovem recém-eleito, nunca iria fazer isso, parte de um circo político. Ele ficou à espera e depois da posse de todos, quando da eleição da Mesa da Câmara, começaram a chegar os pri­meiros votos.
Os dois citados pelo ex-presidente estavam “conforme o com­binado”. O rapaz iniciante teve ímpetos de rasgar a folha em branco que lhe fora confiada “para ver o que iria dar”. Não o fez por cautela, pois sabia que na política quem age impensa­damente pode receber contrapartida. E assim se fez a eleição. Todos contentes e felizes. Só o novo vereador que assumiu por poucas horas a presidência teve um flash do que é a polí­tica. Pelo menos era naquele tempo.

Prévia
Antes da eleição propriamente dita, o prefeito que também era novato na política, reuniu em sua residência no Alto da Cidade, imbuídos das altas intenções democráticas, todos os verea­dores de seu partido. Eram dez. Explanou que queria apoiar um dos vereadores do seu partido para a presidência. Era um cordeiro dentre vários lobos. Resolveu-se fazer uma eleição, distribuindo dez cédulas para os dez vereadores que iriam ou não apoiar o candidato do Executivo. Colocou-se uma terrina na mesa e cada um foi para um lado da sala para preservar o seu voto. Todos colocaram os papéis na dita terrina. Quando foram contar os sufrágios, ao invés de dez, apareceram 12. Cancelou-se a eleição intrapartidária e partiu-se para o “tudo ou nada” como citamos nos itens anteriores.

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